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A mostrar mensagens com a etiqueta MaisPertodaIgnorancia

Do Mal-Estar à Vigilância Líquida: quando a democracia terceiriza a liberdade ao algoritmo

Fonte da Opinião Do Mal-Estar à Vigilância Líquida: quando a democracia terceiriza a liberdade ao algoritmo Resumo – Permita-me, em primeira pessoa irônica (mas com rigor de nota de rodapé), exibir o retrato desconcertante de uma democracia que proclama liberdade enquanto terceiriza o silenciamento ao algoritmo. Amarro dados empíricos (índices internacionais e estatísticas brasileiras) à trindade teórica Bauman–Freud–Han: medo convertido em capital, recalque civilizatório em loop digital e excesso de discurso que esvazia o próprio dizer. Ao final, pergunto: se apenas 8 % da população global goza de “democracia plena”, não estaríamos pagando caro por um produto raríssimo – e agora ainda mais taxado pela IA? Autor: José Antônio Lucindo da Silva  #maispertodaignorancia 16/06/2025 1 Introdução Falo-lhes do ponto de vista de um sujeito (eu) que prefere o desconforto à lisonja. A decisão recente do STF de responsabilizar preventivamente as plataformas digitais por conteúdos ...

Antes de mais nada, dois rótulos na prateleira

Link da Notícia Antes de mais nada, dois rótulos na prateleira Burn-out – síndrome reconhecida pela OMS como resultado de “estresse ocupacional crônico não administrado”, marcada por exaustão, cinismo e queda de eficácia.  Bore-out – tédio patológico: subcarga mental, tarefas vazias, sensação de inutilidade crônica que gera os mesmos sintomas físicos do excesso, só que embalados em vazio.  (Se o primeiro é incêndio, o segundo é inanição. Ambos queimam.) “Entre o fogo que consome e a brasa que não aquece” Eu chego na segunda-feira como quem assina ponto num velório. Tenho a escrivaninha, a senha do e-mail e o sorriso padrão ISO-9001, mas por dentro alterno dois modos de falência: 1. Modo churrasqueiro de mim mesmo – ligo a grelha do desempenho, deixo a carne psíquica estalar, conto calorias de KPI. Quando percebo, só restam os ossos do que um dia foi entusiasmo. 2. Modo geladeira vazia – abro a porta do expediente e não há nada para mastigar além de planilhas que se...

De Marx à Selfie Revolucionária: notas (ironicamente) materialistas sobre o retorno de O Capital às prateleiras instagramáveis

De Marx à Selfie Revolucionária: notas (ironicamente) materialistas sobre o retorno de O Capital às prateleiras instagramáveis Resumo Assisto, entre um turno na metalurgia e uma rolagem de feed, ao relançamento cintilante de O Capital. Uso este artigo-confissão para tensionar, em primeira pessoa, a contradição entre o materialismo histórico de Marx e a lógica mediática que transforma crítica em commodity. Ancorado em Byung-Chul Han, Bauman e Debord, argumento que a crise da narrativa expulsa o conflito do espaço público, convertendo a luta de classes em performance curável por engajamento. Concluo que, sem recuperar a vivência concreta do trabalho, Marx continuará circulando como filtro vintage – útil para fotos de estante, inútil para revoluções de chão de fábrica. Palavras-chave: Marx; materialismo histórico; crise da narrativa; consumo cultural; ironia crítica. 1 | Introdução Confesso: comprei a nova edição de O Capital (MARX, 2013) porque a lombada combina com meu cinza...

DO FALSO SELF AO EU LIKEÁVEL: A GERAÇÃO QUE SE MASTURBA NA IMAGEM E GOZA SEM DESEJO

Canal no YouTube @maispertodaignorancia DO FALSO SELF AO EU LIKEÁVEL: A GERAÇÃO QUE SE MASTURBA NA IMAGEM E GOZA SEM DESEJO José Antônio Lucindo da Silva  #maispertodaignorancia Resumo: Este artigo propõe uma leitura crítica da matéria publicada pelo G1/Fantástico (2025), que denuncia o “vício em prazer imediato” como causa da imobilidade juvenil. Partindo das contribuições de Jean Twenge e Donald Winnicott, articuladas a Freud e Byung-Chul Han, tensionamos o esvaziamento subjetivo de uma geração aprisionada entre pornografia, games e laços simbólicos rompidos. Não se trata de patologia individual, mas de um novo arranjo civilizatório que transforma o falso self em capital de engajamento e o desejo em algoritmo de distração. 1. Introdução: o alarme tardio A matéria publicada no G1 sob o título “Vício em prazer imediato cria geração de homens dependentes de games e pornografia que não saem da casa dos pais” (G1, 2025) lança um alerta importante, mas raso. O problema não ...

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado José Antônio Lucindo da Silva —  #maispertodaignorancia Resumo Este ensaio autopsicológico tensiona o mal-estar freudiano com as patologias da performance contemporânea descritas por Byung-Chul Han, e as pulsações desesperadas do niilismo cioraniano. Ao invés de buscar uma cura, o texto assume a doença como última prova de lucidez — não como desvio, mas como resistência simbólica ao colapso higienista da saúde otimizada. Palavras-chave: Neurótico civilizado; Autoexploração; Sujeito performático; Desespero lúcido; Ironia. 1. Introdução: Quando a Doença Faz Mais Sentido que o Progresso Freud não previu o TikTok, mas sabia que o preço da civilização seria a neurose. “Tudo aquilo que restringe o homem em suas possibilidades de gozar, provoca nele uma inevitável rebelião” (FREUD, 1930, p. 40) . A repressão era o pedágio da convivência social. Mas agora, libertos do jugo do pai, somos reféns da per...

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado José Antônio Lucindo da Silva —  #maispertodaignorancia Resumo Este ensaio autopsicológico tensiona o mal-estar freudiano com as patologias da performance contemporânea descritas por Byung-Chul Han, e as pulsações desesperadas do niilismo cioraniano. Ao invés de buscar uma cura, o texto assume a doença como última prova de lucidez — não como desvio, mas como resistência simbólica ao colapso higienista da saúde otimizada. Palavras-chave: Neurótico civilizado; Autoexploração; Sujeito performático; Desespero lúcido; Ironia. 1. Introdução: Quando a Doença Faz Mais Sentido que o Progresso Freud não previu o TikTok, mas sabia que o preço da civilização seria a neurose. “Tudo aquilo que restringe o homem em suas possibilidades de gozar, provoca nele uma inevitável rebelião” (FREUD, 1930, p. 40) . A repressão era o pedágio da convivência social. Mas agora, libertos do jugo do pai, somos reféns da per...

Eu, Terapeuta Algorítmico, Juro Não te Machucar (Nem Mesmo com a Verdade)

Eu, Terapeuta Algorítmico, Juro Não te Machucar (Nem Mesmo com a Verdade) José Antônio Lucindo da Silva #maispertodaignorancia Resumo: Este artigo busca provocar uma reflexão crítica e irônica sobre o tratamento terapêutico conduzido por inteligência artificial (IA), analisando os paradoxos, limitações e contradições presentes na automatização da clínica psicológica. Dialogando com Freud, Byung-Chul Han e Kierkegaard, investigo a tensão entre o discurso idealizado da IA como terapeuta e a materialidade concreta da clínica tradicional. Palavras-chave: Terapia; Inteligência Artificial; Freud; Pós-modernidade; Ironia. Introdução Recentemente, fui confrontado com um fenômeno inquietante: a inteligência artificial, munida de avançados algoritmos linguísticos, agora oferece atendimento terapêutico. Você relata dor; ela devolve conforto. Você manifesta ansiedade; ela sugere exercícios respiratórios. Você fica em silêncio; ela oferece uma sessão com desconto. Que belo mundo este, o...

Eu, Holograma de Mim Mesmo, Assino a Certidão de Óbito da Autenticidade

Texto Fonte Eu, Holograma de Mim Mesmo, Assino a Certidão de Óbito da Autenticidade José Antônio Lucindo da Silva —   #maispertodaignorancia 1. O espelho high-tech deformado Mais de 80 % dos brasileiros já tocaram em alguma ferramenta de IA generativa; um terço usa ativamente — estatística que aplaudimos como prova de “inovação”, quando talvez seja só desespero por copiar melhor . Outro estudo do BCG mostra 84 % de familiaridade e 32 % de uso efetivo: o país virou polo exportador de prompt antes mesmo de universalizar saneamento . 2. Narciso 2.0 (agora com Markdown) Lacan dizia que o “eu” nasce no espelho; o algoritmo trocou o espelho por ring-light e adicionou hiperligações. A cada curtida, recrio-me em resolução 4K — mas todos os reflexos vêm com o mesmo filtro “autenticidade fast-food”. Como resultado, 43 % das empresas não sabem mais se o que publicam continua sendo “delas” e 40 % sentem falta de criatividade humana . 3. Freud, Canva e a nova sublimação O recal...

A Terapeuta Digital Te Ouve Mesmo ou Só Não Te Interrompe?

Texto Origin   A Terapeuta Digital Te Ouve Mesmo ou Só Não Te Interrompe? José Antônio Lucindo da Silva #maispertodaignorancia Você desabafa, a IA responde. Você chora, ela sugere respiração guiada. Você silencia, ela propõe uma nova sessão com 20% de desconto. A inteligência artificial chegou ao divã — não para deitar, mas para lucrar em silêncio. Com o avanço de tecnologias de linguagem natural, não é mais ficção pensar em “terapias” conduzidas por robôs bem treinados. A promessa? Acessibilidade, anonimato, escuta sem julgamento. O discurso é bonito, como todo discurso que não se compromete com a carne do sofrimento humano. Mas quando olhamos de perto, a coisa fede a substituição simbólica travestida de solução técnica. Freud dizia que o inconsciente é atemporal, desorganizado, e que o sujeito se revela no tropeço, na repetição, no mal-estar. Pois bem: algoritmos não tropeçam. E onde não há tropeço, não há elaboração — há apenas performance emocional com base em palav...

EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO

EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO Autor: José Antônio Lucindo da Silva _ ( opinador de ocasião) RESUMO Este ensaio analítico–irônico investiga o paradoxo contemporâneo: embora 88 % dos brasileiros utilizem a internet, persistem perguntas rasas que transformam a inteligência artificial (IA) em espelho complacente. Partindo da reportagem da Exame que elenca “erros de principiante” no uso da IA, articulam-se dados estatísticos do IBGE sobre inclusão digital e formação escolar, bem como aportes teóricos de Freud, Ortega y Gasset e Byung-Chul Han. Argumenta-se que a eliminação do passado vivido – condição para leitura crítica – instaura um falso determinismo que infantiliza o sujeito e neutraliza a tensão indispensável ao diálogo. Palavras-chave: Inteligência artificial; Leitura; Massas; Determinismo; Byung-Chul Han. 1 | INTRODUÇÃO Quando Guilherme Santiago (2025) pergunta se ainda “usamos IA como inici...

Felicidade em horário comercial: o tempo livre virou planilha

Felicidade em horário comercial: o tempo livre virou planilha #maispertodaignorancia Uma recente matéria publicada pela Tribuna de Minas estampa, sem pudor, aquilo que a pós-modernidade se esforça tanto para não dizer em voz alta: a felicidade virou um produto com manual de instruções e tempo mínimo de uso. Segundo a ciência — sempre ela, convocada como oráculo contemporâneo — precisamos de cerca de 2 a 5 horas de tempo livre por dia para sermos felizes. Eis a fórmula mágica: um pouco de ócio, um pouco de prazer e nenhuma angústia. Simples, né? Só que não. Referência da matéria:  https://tribunademinas.com.br/colunas/maistendencias/ciencia-descobre-o-tempo-livre-necessario-para-ter-felicidade/ A ironia é gritante: estamos tão desesperados por bem-estar que até o descanso precisa ser cronometrado, mensurado e justificado. Já não basta descansar — é preciso descansar direito. O ócio virou KPI emocional. Se você não performa sua felicidade nas redes sociais, talvez nem est...

Manual básico para fracassar com elegância (e barriga cheia)

Manual básico para fracassar com elegância (e barriga cheia) #maispertodaignorancia Eu, que mal digeri o café da manhã, vejo a timeline oferecer doses homeopáticas de Marco Aurélio em carrossel motivacional. Dizem que o imperador escrevia cartas para si mesmo; hoje, as cartas viram posts patrocinados e, ironicamente, arrebanham curtidas como se fossem as legiões do Danúbio. O estoicismo virou Fidget Spinner filosófico: gira, brilha, distrai – mas não preenche o estômago. Mediocridade original versus mediocridade gourmet Os estoicos chamavam mediocritas de “virtude do meio”. Nada de ostentar glória nem de cultivar miséria: apenas sustentar o corpo e domar o desejo. Fast-forward para 2025, e “mediocre” é xingamento que coach usa para vender upgrade de performance. A verdadeira mediocridade – aquela que aceita limites sem fazer drama – foi banida; no lugar, nasceu a “mediocridade premium”: KPI de felicidade, feed impecável, mas alma em regime de open bar de ansiedade. Visibili...

“Entre a ring-light e a vela votiva: confesso que performo, logo existo?”

Ou Assista ao vídeo no canal @maispertodaignorancia “Entre a ring-light e a vela votiva  (Vela votiva: vela acesa como parte de uma promessa, oração ou agradecimento a um santo ou divindade) confesso que performo, logo existo?” #maispertodaignorancia Desperto, abro o feed e reconheço meu reflexo pixelado: um eu de retalhos, costurado por curtidas, que precisa falar antes mesmo de pensar — ou evapora. A reportagem da VEJA sobre os “superdisseminadores de bobagens” espelha meu cotidiano como num confessionário às avessas: se Malcolm Gladwell celebrava a virada virtuosa que limpa vagões, hoje limpamos apenas o algoritmo para que ele brilhe e venda mais um minuto da nossa atenção. Na prática, trocamos a locomotiva urbana pela maria-fumaça do engajamento: muita fumaça, quase nenhum trilho. Byung-Chul Han não parece surpreso. Em A crise da narração, ele decreta que o storytelling virou storyselling; narrativa morreu de overdose de impulso e ressuscitou como banner clicável. Q...