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Presente pleno, desejo morto: quando viver o agora é só mais uma forma de morrer capitalizável

Fonte do Argumento Ou Assista em Nosso Canal - @maispertodaignorancia Presente pleno, desejo morto: quando viver o agora é só mais uma forma de morrer capitalizável #maispertodaignorancia Eu acordei com uma missão clara: esquecer quem eu fui, ignorar o que vivi e sorrir para o agora — de preferência em 1080p, com filtro de plenitude e um café coado sem traumas. Afinal, me disseram que o passado atrasa, que lembrar dói e que viver o agora é tendência. Não me explicaram, no entanto, que essa plenitude do presente vem com preço: o do apagamento simbólico, da memória, do desejo. O Estado de Minas publicou recentemente um artigo com título quase terapêutico: “Conheça hábitos para esquecer o passado e começar a viver o agora de forma plena”. Como se a vida fosse uma planilha de Excel emocional, onde bastaria deletar células problemáticas para alcançar a fórmula da felicidade. Mas, como dizia Kierkegaard, a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás — e, irônico ou não, é ...

Doce de leite & fel de algoritmo: autobiografia apócrifa de um indignado em alta definição

Fonte do Argumento Doce de leite & fel de algoritmo: autobiografia apócrifa de um indignado em alta definição #maispertodaignorancia Eu confesso: não foi o preço que me feriu, foi o centavo simbólico que atravessou minha aura gourmetizada de virtude. Bastava chamar o PROCON, mas preferi virar mártir em 1080 p: publiquei a indignação, ganhei curtidas, perdi o fio. Ressentimento em potes de 250 g — zero lactose, zero pudor. A timeline, claro, agradeceu. Transformou meu pequeno espirro econômico numa tempestade moral: o gerente virou anticristo; eu, santo em standby; o público, juízes terceirizados por salário emocional. Nietzsche piscou do túmulo e sussurrou: “Bem-vindo à fábrica de virtudes ressentidas — pague com seu like.” Fiz fila. Eis a ironia: reclamei do Diabo da internet vestindo batina de Wi-Fi. Agostinho diria “Não te disperses lá fora”, mas o feed é mais quente que o deserto de Davi. Aqui, cada pixel de indignação rende juros compostos em dopamina. Quanto vale ...

Entre o feed e o fim: por que narrar já não nos salva (mas morrer ainda funciona)

Entre o feed e o fim: por que narrar já não nos salva (mas morrer ainda funciona) #maispertodaignorancia Eu escrevo no singular — mas que sujeito, afinal, ainda cabe nessa primeira pessoa? No Brasil de hoje, onde pouco mais de 27 % da população sabe manejar o labirinto digital, o “eu” virou efeito especial de um palco que só a minoria ilumina. O resto é plateia estatística: assiste, sofre, mas não edita o roteiro. 1. Narração-vitrine Walter Benjamin choraria pixels: a narrativa que unia pessoas ao redor do fogo foi trocada por um ring-light que lança sombras sobre quem não tem Wi-Fi. Histórias já não criam comunidade; criam funnel. O herói da jornada agora vende mentoria em doze vezes sem juros. 2. Especialista-influencer & o politicamente (in)correto O saber técnico virou merchandising de si mesmo. Se o algoritmo premia repetições confortáveis e pune dissonâncias, o “especialista” aprende a sorrir para o feed enquanto mutila a própria crítica. Contradição? Item fora de...

Entre o Eu, o Algoritmo e a Morte: ensaio sobre a não-narrativa do sujeito digital

Fonte da Opinião Entre o Eu, o Algoritmo e a Morte: ensaio sobre a não-narrativa do sujeito digital #maispertodaignorancia Resumo: Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre o colapso da subjetividade na contemporaneidade, tendo como eixo central a tensão entre o "eu" performático das redes digitais, o poder algorítmico de vigilância e predição, e a negação simbólica da morte. Partindo das obras de Byung-Chul Han, Elisabeth Roudinesco, Shoshana Zuboff, Cathy O'Neil e Ernest Becker, problematiza-se a condição do sujeito como produto de dados, a substituição da escuta simbólica por modelos preditivos e a mercantilização do trauma e do desejo. O artigo, em tom irônico e reflexivo, tensiona a ilusão de soberania identitária com a inevitável finitude que a cultura contemporânea insiste em ignorar. Palavras-chave: subjetividade; algoritmos; identidade; vigilância; morte; discurso digital. 1. Introdução O que resta do sujeito quando até seu sofrimento pode ser con...

Aprender a não aprender: o algoritmo como babá e a infância como campo de teste emocional

Assista :   Canal @maispertodaignoracia  Aprender a não aprender: o algoritmo como babá e a infância como campo de teste emocional #maispertodaignorancia Hoje acordei com a sensação de que estamos ensinando tudo — menos a aprender. Acordei e vi uma criança desbloquear um celular com mais agilidade que um adulto redigir um argumento. Vi pais orgulhosos postando “olha só como ele já mexe no YouTube”, como se a habilidade para o clique fosse sinônimo de cognição. Como se aprender fosse entreter. A matéria do Portal Raízes me cutucou: países que sabem que aprendizagem não é distração estão colocando freios — e não fones — nas infâncias. E enquanto isso, por aqui, seguimos entregando o cérebro infantil ao algoritmo, embalado com a promessa de desenvolvimento, mas recheado de notificações. Jean Twenge (2018) já havia soado o alarme: crianças nascidas sob o domínio da internet não estão apenas mais conectadas — estão mais ansiosas, frágeis e despreparadas para o mund...