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A mostrar mensagens com a etiqueta infância

Gozai por Nós: O Eu Colonizado e a Falência da Contradição

Gozai por Nós: O Eu Colonizado e a Falência da Contradição Escrito em 07/09/2025 – 22h45 (America/Sao_Paulo)   Introdução Quando a linguagem deixa de ser um produto do sujeito e passa a ser formatada por máquinas, resta a pergunta: quem fala quando falamos? O problema não é apenas tecnológico, mas psico-bio-social. Pois, se é no discurso que o sujeito se constitui, como lembra Lacan, a colonização da palavra pela repetição algorítmica ameaça a própria raiz da subjetividade. Esse deslocamento não acontece no vazio. Ele se ancora em condições históricas, sociais e econômicas que, no Brasil, são visíveis: precariedade educacional, desigualdade de renda, fragilidade do cuidado coletivo. É nesse terreno que se instala a ansiedade das novas gerações, como mostram dados recentes do SUS e do Pisa. Ansiedade que não é mero diagnóstico clínico, mas sintoma civilizatório. Autores como Alfredo Simonetti, em Gozai por Nós, mostram como a cultura contemporânea sequestra até o prazer,...

Entre o Like e o Lixo: a infância terceirizada à economia da atenção

Entre o Like e o Lixo: a infância terceirizada à economia da atenção 🎧👉 Podcast Mais perto da ignorância O Brasil nunca precisou de uma revolução tecnológica para esquecer da sua infância — bastou um smartphone e um pacote de dados parcelado em 12 vezes. É curioso como, em pleno 2025, conseguimos manter duas narrativas aparentemente opostas correndo lado a lado: de um lado, influenciadores como Felca, que com humor e sarcasmo denunciam a adultização de crianças nas redes; de outro, intelectuais e pesquisadores que, como Lenina Vernucci da USP, analisam o mesmo fenômeno sob a lente da desigualdade e da exploração digital. Ambos certos. Ambos incompletos. Porque, no fundo, o problema não está só no TikTok ou na “moda” das lives de NPC: está naquilo que antecede essas telas, no que Freud chamaria de recalque civilizacional, atualizado em streaming e monetização. A CPI sobre adultização infantil no Senado — uma rara frente ampla, segundo matéria da CartaCapital (https://www.c...

Inteligência artificial, infância artificial: o QI que interessa ao mercado

Inteligência artificial, infância artificial: o QI que interessa ao mercado Link original: https://oantagonista.com.br/ladooa/tecnologia/o-efeito-inesperado-do-videogame-no-qi-das-criancas-segundo-a-ciencia/ A curva do QI como índice de domesticabilidade cognitiva Uma manchete que afirma que "videogames aumentam o QI de crianças" parece, à primeira vista, um pequeno alívio no abismo de angústia que cerca o pânico moral das telas. Mas, como todo discurso científico que adquire popularidade nas redes sociais, ele precisa ser interrogado não só pelo que diz, mas principalmente pelo que não diz. Ao propor que o QI aumenta com o videogame, a matéria publicada pelo site  O Antagonista, baseada em um estudo da Karolinska Institutet com mais de 9 mil crianças nos EUA, revela mais sobre o estado da ciência contemporânea e sobre o modelo de infância que estamos fabricando do que sobre o potencial cognitivo real dos jogos digitais. Diz o estudo:  crianças que jogam mais vide...

Um anônimo disse!

Narrativas Invisíveis do Colapso: Uma leitura psicobiossocial da performatividade emocional contemporânea Resumo: Este artigo propõe uma análise psicobiossocial crítica das construções narrativas associadas à patologização contemporânea do sofrimento, com base em uma entrevista concedida por um sujeito anônimo em mídia nacional. Sem identificar nomes próprios, buscamos tensionar o apagamento das dimensões biológicas, sociais e simbólicas que estruturam o adoecimento psíquico. Fundamentado nas obras de Freud, Kierkegaard, Bauman, Byung-Chul Han, Zuboff e documentos clínicos como o DSM-V e CID-11, o texto explora o paradoxo entre a vivência do colapso e sua estetização performática no discurso médico-midiático. Evidencia-se a carência de um modelo integrativo que contemple os dados clínicos e sociais em sua radical complexidade, sem reducionismos diagnósticos. Conclui-se com a necessidade de reinscrever o sofrimento para além da lógica classificatória, considerando o sujeito ...

Criança Plugada, Adulto Desligado

Criança Plugada, Adulto Desligado Fonte original: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2025/08/4-em-cada-10-dizem-que-criancas-tem-muito-tempo-de-tela.shtml #maispertodaignorancia Quatro em cada dez brasileiros acham que crianças estão tempo demais em frente às telas. O restante, ao que tudo indica, está ocupado demais... em frente às suas próprias. A matéria da Folha sugere uma preocupação parental crescente com a "exposição excessiva" das crianças a celulares, tablets e afins. Mas o que não se diz? Talvez o mais óbvio: o problema não está na tela da criança, mas na cegueira do adulto. Como apontou Bauman em 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno, os pais perderam o monopólio simbólico sobre a autoridade — foram substituídos por algoritmos de entretenimento e apps de babysitting emocional. A crise não é da infância: é da adultez colapsada que terceiriza o afeto, a escuta e o tédio. A “preocupação” com o tempo de tela revela mais sobre o desconforto adulto c...

Desligar a criança para poupar o adulto

Desligar a criança para poupar o adulto Fonte original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1wv79vzm5no #maispertodaignorancia “O que revela mais sobre nós: o tempo de tela das crianças ou o tempo que não temos para elas?” Aparentemente, é sobre tablets. Mas na superfície lisa das telas, refletimos não apenas o rosto das crianças, mas a abdicação adulta. A matéria da BBC News Brasil questiona, com razoável equilíbrio, se o tempo de exposição às telas afeta o cérebro infantil — porém, o que ela revela sem dizer é talvez mais incômodo: estamos desesperadamente querendo delegar à ciência uma resposta que nos exima do olhar. É sempre mais fácil medir o tempo do que sustentar a presença. E é nesse gesto — entre a vigilância digital e o abandono elegante — que revelamos o verdadeiro problema: não é que as telas causem o vazio, elas apenas o ocupam. I. O sintoma que culpamos: moral de tela e ausência de elaboração A ciência é cautelosa. Est...

O autoritário mora ao lado: o voto é só o sintoma

O autoritário mora ao lado: o voto é só o sintoma Não é no palanque que nasce o autoritarismo — é no colo. A paixão pelo tirano talvez seja o eco de um afeto mal metabolizado: o líder forte preenche o buraco deixado por figuras frágeis demais para sustentar a autoridade com escuta. É disso que trata o livro “Paixão pela mentira”, do psicanalista Paulo Schiller, citado em reportagem recente do Valor Econômico. E é isso que o fascínio contemporâneo por autocratas nos esfrega na cara: o problema não é político, é íntimo. I. O retorno do recalque como voto Freud já nos alertava em O mal-estar na civilização (1930): o preço da vida social é o recalque. Só que aquilo que é recalcado, cedo ou tarde, retorna — travestido de “desejo de ordem”, “valores tradicionais” ou “defesa da família”. A paixão pelo autocrata é, nesse sentido, uma forma de gozo secundário: o prazer de obedecer sem ter que pensar. O desejo por líderes duros não nasce do esclarecimento, mas da saturação do di...