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O SILÊNCIO QUE VIROU DADO, E O DADO QUE NOS DEVORA

O SILÊNCIO QUE VIROU DADO, E O DADO QUE NOS DEVORA #maispertodaignorancia A conversão apressada do pensamento em dado soa como um milagre no ocidente em colapso — o paralisado recupera a fala, o silenciado fala de novo, o passado se torna presente. Mas o que se vende é paralisia da voz, não do corpo: o silêncio interior é oferecido como mercadoria digital, fragmentado, exposto, convertido. Liescience e Financial Times estampam o feito: implantes cerebrais decodificam “inner speech” com até 74 % de acerto, protegidos apenas por uma senha mental — o célebre “chitty chitty bang bang” como gatilho libertário, ironicamente plastificado pela tecnologia. (Livescience ; FT). A rigor, o que se propõe é a colonização da última fortaleza humana: o silêncio mental. Esses experimentos são publicados na revista Cell, um dos templos da ciência moderna, mas o enredo extrapola o biomédico — toca o existencial. Le Monde relaciona os implantes a tratamentos de epilepsia, depressão resistente ...

O dia em que a distopia virou manual de instruções

O dia em que a distopia virou manual de instruções Vivemos numa época em que as distopias não são mais advertências, mas tutoriais. 1984 deixou de ser a ficção paranoica de um inglês ressentido para tornar-se o roteiro operacional dos data centers, que hoje substituem o “Grande Irmão” pela lógica dos algoritmos de engajamento. O que antes era teletela é agora um feed infinito, calibrado para garantir que você não apenas veja o que deve ver, mas também esqueça o que não deve lembrar. Orwell imaginou um Estado que reescrevia a história; nós aperfeiçoamos o método — terceirizamos para máquinas que não precisam dormir, não têm remorso e conhecem nossas preferências mais íntimas, inclusive aquelas que nunca confessaríamos nem sob tortura. Se Huxley estava certo ao dizer que não precisaríamos de coerção, mas apenas de prazer, então vivemos a era do soma ubíquo. Só que, em vez de comprimidos distribuídos pelo Ministério do Bem-Estar, temos um cardápio diversificado: an...

Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia

Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia https://www.reuters.com/article/idUSL1N3S00TY Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia Ironia ; Você confiaria seu futuro a cientistas e a juros? A ciência emergindo como o último alento de um país exausto não alivia: ela agrava. Porque hoje ela não cura—ela dispara uma dívida. E com ela, a angústia de saber que nada se paga, apenas se enrola. I. Entre promessas técnicas e o peso da dívida Há pouco, o discurso heroico da tecnociência nacional chegou ao clímax retórico: “vamos ser autossuficientes, romper com a dependência intelectual global, labutar por satélites nacionais”. Porém, é óbvio que a retórica ignora a necessidade básica — escutar o sujeito que sofre. Enquanto isso, o Tesouro Nacional divulgou que a dívida pública federal subiu 1,44% em abril de 2025, encerrando o mês em, R$ 7,617 trilhões. Em apenas um mês, foram R $ 70 bilhões de juros incorporados ao estoque. Esse número não é abstr...

O monstro quer mudar de nome — e nós?

🩸 O monstro quer mudar de nome — e nós? Se a justiça esquece, quem lembrará? E se perdoamos, por que ainda trememos ao ver o rosto do esquecido? I. O perdão como deletar: a era dos arquivos morais Francisco de Assis Pereira quer mudar de nome. Como quem troca de CPF ou e-mail antigo. O “Maníaco do Parque”, que estuprou e matou mulheres em série no fim dos anos 1990, planeja sua “reinvenção” para 2028, quando poderá sair da prisão. Ele não deseja exatamente reabilitar-se — deseja, ao que tudo indica, desaparecer. Não se trata de um caso isolado de revisão penal. É um sintoma. E como todo sintoma, carrega mais do que quer confessar. No fundo, não é o criminoso que está mudando de nome. É o próprio pacto simbólico de memória que a sociedade atual parece querer editar, como se fosse um post com comentários desabilitados. A promessa de que “aquele Francisco não existe mais” se insere num imaginário contemporâneo moldado pela lógica da performance e da obsolescência. Andr...