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O eu digital: soberania ilusória, vínculos corroídos e o suicídio como sintoma civilizatório

O eu digital: soberania ilusória, vínculos corroídos e o suicídio como sintoma civilizatório #ianaoeprofissionaldasaudemental  #maispertodaignorancia Setembro Amarelo chegou novamente. Mas, ao contrário das campanhas higienizadas que circulam nos outdoors ou nas timelines, os dados recentes lembram que o suicídio permanece como um dos maiores problemas de saúde pública do planeta. A Organização Mundial da Saúde estima que uma em cada 100 mortes no mundo decorra do suicídio (OMS, 2025). No Brasil, os números seguem em crescimento, sobretudo entre jovens e adultos jovens. O que isso nos diz? Que as campanhas que insistem em slogans como “se precisar, peça ajuda” podem até sensibilizar, mas não respondem à dimensão estrutural do problema. O que emerge é um sujeito isolado, responsabilizado e infantilizado ao mesmo tempo. O indivíduo é chamado a ser soberano de si, gestor de suas emoções, resiliente diante de crises e ansiedades. Mas essa soberania não passa de ficção. Élis...

Nação dopamina e seus silêncios: uma crítica psico-bio-social e tecnológica ao discurso reducionista do vício digital

Nação dopamina e seus silêncios: uma crítica psico-bio-social e tecnológica ao discurso reducionista do vício digital 📺 👉 Texto Introdutório Resumo Este artigo propõe uma análise crítica da obra Nação Dopamina de Anna Lembke, frequentemente utilizada como referência explicativa para o vício nas redes sociais. O texto examina os limites do diagnóstico neuroquímico ao contrastá-lo com perspectivas de Freud, Marx, Byung-Chul Han, Cathy O’Neil, Jonathan Haidt, Jean Twenge e Christopher Lasch. A reflexão tensiona o discurso midiático que se apoia exclusivamente na dopamina como explicação do mal-estar contemporâneo, questionando de forma irônica — à maneira de Emil Cioran — se não estaríamos transformando uma molécula em desculpa universal. O artigo articula aspectos psico-bio-sociais e tecnológicos, ressaltando que o vício digital é inseparável de estruturas históricas, políticas e econômicas. 🎧👉 Podcast Anna Lembke inicia Nação Dopamina descrevendo que “a balança entre dor...

Entre a chupeta e o colapso: quando o eu se dissolve em dados

Entre a chupeta e o colapso: quando o eu se dissolve em dados 🎧👉 Podcast O que antes era um gesto infantil hoje se tornou performatividade de influenciador: adultos postando selfies com chupetas na boca. Parece só mais uma excentricidade algorítmica, mas esse gesto é sintoma de uma forma mais profunda de regressão psíquica: não à infância real, mas à simulação digital de um eu que nunca precisou se construir. Um eu que se autorreconhece apenas por aquilo que consegue registrar, postar, filtrar, medir e repetir. Um eu que deixou de ser corpo para virar input. Neste ensaio, à luz da psicanálise freudiana e dos atravessamentos contemporâneos de autores como Zuboff, Roudinesco, Twenge e Han, exploramos as dimensões psíquicas, sociais e materiais desse novo modo de existir. O projeto Mais Perto da Ignorância não propõe saídas, mas perfurações. E não há ironia maior do que a de uma sociedade onde a regressão infantil se torna marca de estilo e algoritmo de engajamento. ...

Rolando o feed até o esgotamento: quando o prazer mínimo é a nossa sentença máxima

Rolando o feed até o esgotamento: quando o prazer mínimo é a nossa sentença máxima É curioso — ou talvez trágico — perceber como a primeira ação de milhões de brasileiros ao acordar não é respirar fundo, espreguiçar-se ou sentir a luz da manhã, mas sim deslizar o dedo por uma tela brilhante. Um gesto simples, quase imperceptível, que, na verdade, condensa um século de transformações na economia psíquica, social e política. Segundo levantamento das empresas We Are Social e Meltwater, em 2024 havia 187,9 milhões de internautas no Brasil — 86,6% da população — conectados em média 9 horas e 13 minutos por dia, majoritariamente por smartphones. É o equivalente a passar mais de um terço da vida desperto mergulhado em um oceano algorítmico, onde a superfície reluz, mas o fundo é invisível. Essa vida atravessada pela conectividade não é neutra. Ela redefine o que entendemos por corpo, tempo, prazer e até sofrimento. Freud, em O mal-estar na civilização, já advertia que a técnica am...

Entre o Like e o Lixo: a infância terceirizada à economia da atenção

Entre o Like e o Lixo: a infância terceirizada à economia da atenção 🎧👉 Podcast Mais perto da ignorância O Brasil nunca precisou de uma revolução tecnológica para esquecer da sua infância — bastou um smartphone e um pacote de dados parcelado em 12 vezes. É curioso como, em pleno 2025, conseguimos manter duas narrativas aparentemente opostas correndo lado a lado: de um lado, influenciadores como Felca, que com humor e sarcasmo denunciam a adultização de crianças nas redes; de outro, intelectuais e pesquisadores que, como Lenina Vernucci da USP, analisam o mesmo fenômeno sob a lente da desigualdade e da exploração digital. Ambos certos. Ambos incompletos. Porque, no fundo, o problema não está só no TikTok ou na “moda” das lives de NPC: está naquilo que antecede essas telas, no que Freud chamaria de recalque civilizacional, atualizado em streaming e monetização. A CPI sobre adultização infantil no Senado — uma rara frente ampla, segundo matéria da CartaCapital (https://www.c...

Beijo comprado, silêncio vendido

Beijo comprado, silêncio vendido Fonte original: https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2025/08/07/o-que-e-capacitismo-entenda-debate-nas-redes-apos-nattan-pagar-r-1-mil-para-homem-beijar-mulher-com-nanismo.ghtml #maispertodaignorancia Não é preciso muito esforço para perceber que o espetáculo contemporâneo tem uma fome insaciável por transformar tudo em moeda — até mesmo aquilo que supostamente denuncia. O caso recente do cantor Nattan, que pagou mil reais para um homem beijar uma mulher com nanismo, foi imediatamente capturado pelas redes sociais, não como tragédia, mas como matéria-prima para a coreografia previsível da indignação digital. O gesto, já em si constrangedor, não foi isolado: é parte de um ritual social que Byung-Chul Han chamaria de “pornografia da transparência”, na qual o íntimo é exposto para produzir comoção, compartilhamentos e, claro, engajamento. A ação, que poderia ser lida como violência simbólica — e é —, tornou-se apenas mais um frame ...

Proibir ou punir? Quando a proteção veste a toga do controle

Proibir ou punir? Quando a proteção veste a toga do controle Fonte da Informação Austrália quer banir menores de 16 anos das redes sociais, mas decisão pode revelar mais sobre os adultos do que sobre os jovens. O medo é deles — ou nosso? O governo australiano propôs, nesta semana, o banimento de adolescentes com menos de 16 anos de plataformas como TikTok, Instagram e YouTube. A justificativa: proteger a saúde mental infantojuvenil. Mas será que o silêncio imposto é mesmo cuidado — ou apenas mais um recalque disfarçado de zelo público? 🔹 O fetiche da segurança digital A proposta surge em meio ao aumento de diagnósticos de ansiedade e depressão entre jovens. Porém, como lembra Zygmunt Bauman, em *O mal-estar da pós-modernidade*, a sociedade contemporânea busca segurança não para enfrentar o risco, mas para evitá-lo a qualquer custo. A liberdade é vigiada, higienizada, proibida de falhar — sob pena de ser culpabilizada por sofrer. 🔹 Recalque legislativo, ang...

O AMOR EM TEMPOS DE ALGORITMO: QUANDO A CARÊNCIA VIROU CLICÁVEL

O AMOR EM TEMPOS DE ALGORITMO: QUANDO A CARÊNCIA VIROU CLICÁVEL Fonte Ou escute em nosso podcast Subtítulo: Este ensaio denuncia o tráfico humano mediado por Big Techs, onde a promessa de um amor vira cativeiro, e a tecnologia, ferramenta de abuso industrializado. Do “golpe do amor” ao “abate de porcos”, o afeto virou isca — e o desespero, moeda. “Golpe do Amor”: a nova face do tráfico humano algorítmico A reportagem da MIT Technology Review Brasil expõe o funcionamento brutal de uma engrenagem digital que não só explora afetos, mas também sequestra corpos. Com base na história de “Gavesh”, vítima do esquema conhecido como sha zhu pan (“abate de porcos”), vemos como a lógica do afeto foi transformada em logística de golpe. A isca? Um anúncio de emprego. O cativeiro? Um complexo na fronteira entre Tailândia e Mianmar. A ponte entre ambos? O algoritmo. Do post ao portão com arame farpado Gavesh viu um anúncio no Facebook com promessa de estabilidade financeira. Em ve...

O sujeito não está mais aqui: correção, conexão e consolo em tempos de IA

O sujeito não está mais aqui: correção, conexão e consolo em tempos de IA Resumo: O presente artigo explora, em primeira pessoa, o sumiço do sujeito no contexto contemporâneo dominado por inteligências artificiais e performances digitais. Parte-se de três notícias recentes que, a pretexto de avanços tecnológicos, denunciam a substituição da escuta pela correção, da relação pela interface e do sofrimento pela performance. Entre links, falas de especialistas e uma boa dose de ironia ácida, sugere-se que o sujeito não desapareceu: ele foi deletado, suavemente, com emoji de aprovação.   Se você procurar bem, talvez encontre o sujeito entre os termos de uso. Não na escola, onde a correção da redação já pode ser feita por um robô que distribui notas altas a textos vazios. Também não na terapia, onde outro robô, gentil e acolhedor, oferece escuta sem escuta, fala sem escuta e ausência sem falta. Muito menos nas redes, onde somos todos conectados, mas estranhamente s...