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Gozai por Nós: O Eu Colonizado e a Falência da Contradição

Gozai por Nós: O Eu Colonizado e a Falência da Contradição Escrito em 07/09/2025 – 22h45 (America/Sao_Paulo)   Introdução Quando a linguagem deixa de ser um produto do sujeito e passa a ser formatada por máquinas, resta a pergunta: quem fala quando falamos? O problema não é apenas tecnológico, mas psico-bio-social. Pois, se é no discurso que o sujeito se constitui, como lembra Lacan, a colonização da palavra pela repetição algorítmica ameaça a própria raiz da subjetividade. Esse deslocamento não acontece no vazio. Ele se ancora em condições históricas, sociais e econômicas que, no Brasil, são visíveis: precariedade educacional, desigualdade de renda, fragilidade do cuidado coletivo. É nesse terreno que se instala a ansiedade das novas gerações, como mostram dados recentes do SUS e do Pisa. Ansiedade que não é mero diagnóstico clínico, mas sintoma civilizatório. Autores como Alfredo Simonetti, em Gozai por Nós, mostram como a cultura contemporânea sequestra até o prazer,...

O ruído como sintoma civilizatório: quando o silêncio é privatizado e o barulho se torna norma

O ruído como sintoma civilizatório: quando o silêncio é privatizado e o barulho se torna norma Fonte:  https://www.bbc.com/portuguese/articles/cx276gp5j18o Introdução Vivemos cercados por uma poluição invisível, mas talvez mais corrosiva do que a fumaça das fábricas ou os anúncios luminosos das avenidas digitais: o ruído. Não falo apenas do barulho do trânsito ou do cachorro do vizinho, mas do tremor contínuo de sons menores, quase imperceptíveis, que, somados, constroem uma atmosfera insuportável. A BBC Future trouxe à tona um fenômeno pouco discutido: a sensibilidade ao ruído — uma condição biológica, psíquica e social que atinge até 40% da população, mas que ainda não é reconhecida como diagnóstico formal. Na prática, significa viver em estado de hipervigilância acústica, onde o cérebro não consegue desligar os canais sonoros, transformando o ambiente em um campo minado de incômodos constantes. Este artigo busca tensionar o tema sob três dimensões: biológica, psicoló...

Crianças em Vitrine: Adultização, Narcisismo e a Farsa da Proteção

Crianças em Vitrine: Adultização, Narcisismo e a Farsa da Proteção 👉🎧 Podcast no Mais perto da Ignorância 👉📺 Em nosso Canal no YouTube @maispertodaignorancia Fonte 👇  https://www.cartacapital.com.br/politica/cpi-sobre-a-adultizacao-reune-rara-frente-ampla-no-senado-federal/   #maispertodaignorancia No Brasil, a recente formação de uma frente ampla no Senado Federal para instaurar uma CPI contra a “adultização” de crianças nas redes sociais revela mais sobre nossa cultura do que aparenta. Sessenta senadores, de partidos tão díspares quanto entre os seus, uniram-se em torno de um tema que, em teoria, deveria suscitar um debate profundo sobre os mecanismos sociotécnicos que moldam a infância.  Mas, como aponta Christopher Lasch (2019), vivemos em uma era em que a política se confunde com espetáculo e onde “toda política se tornou uma forma de espetáculo” — e o espetáculo é movido por capital de atenção. O fenômeno não é novo. Muito antes da internet, a expos...

O autoritário mora ao lado: o voto é só o sintoma

O autoritário mora ao lado: o voto é só o sintoma Não é no palanque que nasce o autoritarismo — é no colo. A paixão pelo tirano talvez seja o eco de um afeto mal metabolizado: o líder forte preenche o buraco deixado por figuras frágeis demais para sustentar a autoridade com escuta. É disso que trata o livro “Paixão pela mentira”, do psicanalista Paulo Schiller, citado em reportagem recente do Valor Econômico. E é isso que o fascínio contemporâneo por autocratas nos esfrega na cara: o problema não é político, é íntimo. I. O retorno do recalque como voto Freud já nos alertava em O mal-estar na civilização (1930): o preço da vida social é o recalque. Só que aquilo que é recalcado, cedo ou tarde, retorna — travestido de “desejo de ordem”, “valores tradicionais” ou “defesa da família”. A paixão pelo autocrata é, nesse sentido, uma forma de gozo secundário: o prazer de obedecer sem ter que pensar. O desejo por líderes duros não nasce do esclarecimento, mas da saturação do di...