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Entre a carne e o código: corpo, dado e a falsa soberania do sujeito

Entre a carne e o código: corpo, dado e a falsa soberania do sujeito Fonte original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cnv716g5v4yo 1. Introdução — O paradoxo inicial O algoritmo sabe o que você vai comer amanhã — mas ainda não pode mastigar por você. Essa ironia resume a tensão do nosso tempo: vivemos mergulhados em ecossistemas digitais que nos tratam como bases de dados preditivos, mas continuamos existindo como organismos que respiram, sentem fome, adoecem e morrem. O discurso hegemônico sobre “o poder das máquinas” nos seduz pela narrativa de que a tecnologia opera num plano acima das nossas limitações biológicas. Mas aqui está o ponto: culpabilizar apenas o algoritmo é um álibi confortável. A máquina não tem fome, nem sede, nem ambição; quem a programa, quem lucra com ela, sim. Shoshana Zuboff, em A Era do Capitalismo de Vigilância, descreve como o dado se tornou a nova matéria-prima de um mercado que se alimenta da vida cotidiana. Mas há um erro com...

O abismo não é um bug: é a arquitetura

O abismo não é um bug: é a arquitetura #maispertodaignorancia Introdução Vivemos numa época em que não é mais possível distinguir o que é espontâneo do que é projetado, e não porque alcançamos algum estado filosófico elevado, mas porque a própria matéria das nossas interações — afetivas, políticas, econômicas — está moldada por arquiteturas invisíveis. Chamamos essas arquiteturas de plataformas, redes, aplicativos, mas a palavra mais honesta seria: sistemas de ranqueamento. Não é preciso ser um paranoico digital para perceber que a visibilidade, o afeto e até a indignação são hoje administrados como um recurso econômico. Cathy O’Neil, em Algoritmos de Destruição em Massa, nos lembra que o ranqueamento não é um detalhe técnico, mas uma arma estatística que, sob o verniz da neutralidade matemática, distribui oportunidades, exclui corpos e captura subjetividades. E como toda arma bem calibrada, não erra o alvo: atinge preferencialmente os vulneráveis, os despossuídos, aqueles ...

O algoritmo como destino: arquiteturas invisíveis e o valor do sujeito

O algoritmo como destino: arquiteturas invisíveis e o valor do sujeito Introdução Vivemos numa época em que não é mais possível distinguir o que é espontâneo do que é projetado, e não porque alcançamos algum estado filosófico elevado, mas porque a própria matéria das nossas interações — afetivas, políticas, econômicas — está moldada por arquiteturas invisíveis. Chamamos essas arquiteturas de plataformas, redes, aplicativos, mas a palavra mais honesta seria: sistemas de ranqueamento. Não é preciso ser um paranoico digital para perceber que a visibilidade, o afeto e até a indignação são hoje administrados como um recurso econômico. Cathy O’Neil, em Algoritmos de Destruição em Massa, nos lembra que o ranqueamento não é um detalhe técnico, mas uma arma estatística que, sob o verniz da neutralidade matemática, distribui oportunidades, exclui corpos e captura subjetividades. E como toda arma bem calibrada, não erra o alvo: atinge preferencialmente os vulneráveis, os despossuídos,...

O abismo não é um bug: é a arquitetura

O abismo não é um bug: é a arquitetura Introdução Vivemos numa época em que não é mais possível distinguir o que é espontâneo do que é projetado, e não porque alcançamos algum estado filosófico elevado, mas porque a própria matéria das nossas interações — afetivas, políticas, econômicas — está moldada por arquiteturas invisíveis. Chamamos essas arquiteturas de plataformas, redes, aplicativos, mas a palavra mais honesta seria: sistemas de ranqueamento. Não é preciso ser um paranoico digital para perceber que a visibilidade, o afeto e até a indignação são hoje administrados como um recurso econômico. Cathy O’Neil, em Algoritmos de Destruição em Massa, nos lembra que o ranqueamento não é um detalhe técnico, mas uma arma estatística que, sob o verniz da neutralidade matemática, distribui oportunidades, exclui corpos e captura subjetividades. E como toda arma bem calibrada, não erra o alvo: atinge preferencialmente os vulneráveis, os despossuídos, aqueles que não podem “otimizar...

Eu, o Produto: Ansiedade, Performatividade e o Abismo Digital

Eu, o Produto: Ansiedade, Performatividade e o Abismo Digital 👉🎧 Podcast Mais perto da ignorância Resumo Este artigo investiga a relação entre ansiedade, performatividade e materialidade no contexto contemporâneo, articulando dimensões psicológicas, biológicas e sociais. Parte-se da constatação de que a aceleração midiática e a liquidez identitária, mediadas por plataformas digitais, intensificam a pressão performática sobre o sujeito. Com base em autores como Freud, Byung-Chul Han, Bauman, Cioran, André Green, Élisabeth Roudinesco, Karl Marx e Shoshana Zuboff, e em dados recentes sobre saúde mental no Brasil e no mundo, analisa-se como a ansiedade deixa de ser apenas sintoma clínico para tornar-se método de funcionamento social. São considerados estudos sobre o impacto de vídeos acelerados no cérebro e as variações culturais no diagnóstico de ansiedade e depressão. Conclui-se que a performatividade digital sustenta uma economia psíquica fundada na exploração da visibilid...

Eu, o Produto: Ansiedade, Performatividade e o Abismo Digital

Eu, o Produto: Ansiedade, Performatividade e o Abismo Digital 🎧👉 Podcast Mais perto da ignorância Resumo Este artigo investiga a relação entre ansiedade, performatividade e materialidade no contexto contemporâneo, articulando dimensões psicológicas, biológicas e sociais. Parte-se da constatação de que a aceleração midiática e a liquidez identitária, mediadas por plataformas digitais, intensificam a pressão performática sobre o sujeito. Com base em autores como Freud, Byung-Chul Han, Bauman, Cioran, André Green, Élisabeth Roudinesco e Shoshana Zuboff, e em dados recentes sobre saúde mental no Brasil e no mundo, analisa-se como a ansiedade deixa de ser apenas sintoma clínico para tornar-se método de funcionamento social. São considerados estudos sobre o impacto de vídeos acelerados no cérebro e as variações culturais no diagnóstico de ansiedade e depressão. Conclui-se que a performatividade digital sustenta uma economia psíquica fundada na exploração da visibilidade, na mer...

Eu, o Produto: Ansiedade, e Abismo Digital

Eu, o Produto: Ansiedade, e Abismo Digital 🎧 Canal Mais perto da ignorância Resumo Este artigo investiga a relação entre ansiedade, performatividade e materialidade no contexto contemporâneo, articulando dimensões psicológicas, biológicas e sociais. Parte-se da constatação de que a aceleração midiática e a liquidez identitária, mediadas por plataformas digitais, intensificam a pressão performática sobre o sujeito. Com base em autores como Freud, Byung-Chul Han, Bauman, Cioran, André Green, Élisabeth Roudinesco e Shoshana Zuboff, e em dados recentes sobre saúde mental no Brasil e no mundo, analisa-se como a ansiedade deixa de ser apenas sintoma clínico para tornar-se método de funcionamento social. São considerados estudos sobre o impacto de vídeos acelerados no cérebro e as variações culturais no diagnóstico de ansiedade e depressão. Conclui-se que a performatividade digital sustenta uma economia psíquica fundada na exploração da visibilidade, na mercantilização dos dados ...

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede Podcast Bloco 1 — Trump rosna, o preço do frete apodrece a laranja. Resumo: Escrevo do limbo entre três pancadas sincrônicas: (a) o tarifaço de 50 % que Donald Trump promete despejar sobre café, laranja e E-Jets; (b) a maioria do STF ansiosa para enterrar o art. 19 e terceirizar a censura ao algoritmo; (c) o rombo previdenciário projetado em R$ 328 bi para 2025, sete tarifas trumpistas por ano — sem falar nos R$ 6,3 bi em fraudes por descontos fantasmas no INSS. Chamam tudo isso de “proteção”. Proteção de quem? A conta não fecha: renúncia fiscal de R$ 3,2 bi/ano, gasto judicial extra de R$ 777 mi (2025-29) e 60 % dos brasileiros presos ao 4 G pré‑pago. Entre Freud, Marx, Bauman, Han, Zuboff e O’Neil, argumento que o moralismo digital e o marketing tarifário escondem um Estado que transfere renda ao capital de vigilância e deixa jovens adultos sem b...

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede

ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede Podcast Bloco 3 — O déficit explode e a juventude parcela o futuro. Resumo Escrevo do limbo entre duas pancadas: um tarifaço de 50 % que Donald Trump jura aplicar ao café que você ainda não pagou e a maioria do STF que promete destruir o Art. 19 do Marco Civil – aquele fiapo jurídico que impede o moderador amaldiçoado de remover seu meme sem ordem judicial. Chamam ambos de proteção. Proteção de quem? A conta não fecha: renúncia fiscal prevista de R$ 3,2 bi/ano, custo judicial extra de R$ 777 mi (2025‑29) e 60 % da população que só conhece a internet pelo 4 G do plano pré‑pago. Entre Freud, Marx, Bauman, Han, Zuboff e O’Neil, mostro que a retórica salvacionista gera lucro para algorítmicos e bode expiatório para jovens adultos famintos de banda e futuro. Palavras‑chave: Art. 19; tarifa; vigilância algorítmica; juventude conecta...

Entre espelhos digitais e corpos materiais: crítica irônico-argumentativa ao pânico cognitivo da IA

Entre espelhos digitais e corpos materiais: crítica irônico-argumentativa ao pânico cognitivo da IA Resumo Reúno, em pouco palavras, um ensaio que confronta o diagnóstico midiático de “atrofia cerebral” provocada pelo uso da inteligência artificial (IA) com tradições críticas de Marx, Bauman, Han, Zuboff, O’Neil e Twenge. Defendo que tais manchetes ignoram a dimensão sócio-material da aprendizagem: a capacidade reflexiva nunca esteve distribuída igualmente, pois depende dos meios de produção simbólica e das vivências concretas. A IA, portanto, não “rouba” cognição; antes, espelha — e às vezes amplifica — os atalhos mentais buscados pelo cérebro em qualquer ecossistema técnico.  O verdadeiro risco está em reforçar, via algoritmos, as assimetrias de consumo cultural que já moldam o Brasil “analfabeto funcional”. Concluo que a discussão pública permanece restrita a grupos hiperescolarizados capazes de publicar em portais de alta visibilidade, enquanto as camadas populares ...

Entre Sombras, Lonas e Silício: por que a Inteligência Artificial não explica o buraco no asfalto

  Entre Sombras, Lonas e Silício: por que a Inteligência Artificial não explica o buraco no asfalto Entre Sombras, Lonas e Silício: por que a Inteligência Artificial não explica o buraco no asfalto Resumo: Corrijo provas com IA enquanto a cidade coleciona barracas azuis e o governo recomenda passaporte para quem sonha com ciência. Este artigo cruza Freud, Bauman, Byung‑Chul Han, Cioran e Anderson Röhe para mostrar que o debate sobre “atrofia cognitiva” ignora o peso bruto do tempo, do espaço e do concreto. Quando um chatbot promete empatia sob trabalho terceirizado a US$ 2/hora, a única coisa realmente generativa é a precariedade. 1. O tempo que evapora 1.1 Provas em modo turbo Leio Fernando Schüler na VEJA : IA deixaria o cérebro preguiçoso. Ele cita o estudo do MIT que comparou ChatGPT, Google e “cabeça pura”. O grupo IA pensou menos. Concordo, mas pergunto: quando o docente teria tempo de pensar se corrige 120 redações extra‑classe e não recebe hora extra (...