ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede
ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede
Resumo:
Escrevo do limbo entre três pancadas sincrônicas: (a) o tarifaço de 50 % que Donald Trump promete despejar sobre café, laranja e E-Jets; (b) a maioria do STF ansiosa para enterrar o art. 19 e terceirizar a censura ao algoritmo; (c) o rombo previdenciário projetado em R$ 328 bi para 2025, sete tarifas trumpistas por ano — sem falar nos R$ 6,3 bi em fraudes por descontos fantasmas no INSS. Chamam tudo isso de “proteção”. Proteção de quem? A conta não fecha: renúncia fiscal de R$ 3,2 bi/ano, gasto judicial extra de R$ 777 mi (2025-29) e 60 % dos brasileiros presos ao 4 G pré‑pago. Entre Freud, Marx, Bauman, Han, Zuboff e O’Neil, argumento que o moralismo digital e o marketing tarifário escondem um Estado que transfere renda ao capital de vigilância e deixa jovens adultos sem banda, sem narrativa e sem aposentadoria.
Palavras‑chave: Art. 19; tarifa; déficit previdenciário; juventude conectada; materialidade.
Abstract
This paper dissects Brazil’s simultaneous exposure to a 50 % US tariff, the Supreme Court’s move to scrap Article 19, and a projected BRL 328 billion Social‑Security gap for 2025. Psychoanalytic mass theory, liquid modernity and data‑capitalism critique show how “protective” policies hide regressive transfers in a country where 60 % rely solely on prepaid data. Salvation is clickbait; control and debt are the real commodities.
Keywords: Article 19; tariff; Social‑Security deficit; algorithmic control; young adults.
1 | Introdução
Role o feed: Trump rosna impostos, Moraes ergue o banhammer digital, Janja elogia o firewall chinês. No rodapé, o Tesouro comemora déficit governamental de só 0,09 % do PIB, enquanto o INSS sangra R$ 328 bi. Segurança, dizem. Segurança pede banda, renda, livro. Temos latência, boleto e FIES parcelado. Este texto — meio ensaio, meio ata de indignação — investiga como decisões “protetoras” redistribuem riqueza para cima e controle para dentro, empurrando jovens adultos (25‑35) para a fila sem Wi‑Fi.
2 | Referencial teórico:
2.1 Freud hipnotizado — massa entrega superego ao feed (FREUD, 1921).
2.2 Bauman derretido — instituições sólidas viram fluxo ansioso (BAUMAN, 2000).
2.3 Han sem enredo — crise da narração em 280 caracteres (HAN, 2018).
2.4 Marx pixelado — mais‑valor agora é metadado (MARX, 1867).
2.5 Zuboff no porão — capitalismo de vigilância monetiza respiração (ZUBOFF, 2019).
2.6 O’Neil armada — ADMs: opacas, escaláveis, lesivas (O’NEIL, 2020).
3 | Método
Revisão narrativa integrativa (TORRES, 2019) em bases públicas (ComexStat, IBGE, RegLab, Tesouro) e rastreamento de mídia. Filtro etário: 25‑35. Instrumento epistemológico: ironia metódica.
4 | Resultados e discussão
4.1 Tarifa ou taco de beisebol? — EUA compram 12,2 % das exportações; 42 % do suco de laranja de Orlando é nosso.
4.2 STF e a fatura invisível — 754 mil ações extras, R$ 777 mi drenados do Tesouro; verba para 3 600 antenas 4 G.
4.3 Algoritmo como porrete — ADMs de crédito confundem CEP com caráter; falso‑positivo de 12 % em PT‑BR.
4.4 Desoneração que sobe a serra — suspensão de PIS/Cofins (R$ 3,2 bi/ano) favorece quem já exporta.
4.5 Letramento, banda, silêncio — 29 % analfabetos funcionais; 78 % das casas rurais sem banda significativa.
4.6 Legitimidade líquida — TV dedica minutos ao drama, segundos ao custo.
4.7 O buraco previdenciário — INSS projeta déficit de R$ 328 bi; fraudes de R$ 6,3 bi; 12 % do PIB devorado em silêncio.
5 | Propostas
1. Avaliação de Impacto Algorítmico obrigatória.
2. Escalonamento: start‑ups < R$ 20 mi fora da jaula das big techs.
3. Fundo Banda + Letramento financiado com economia de processos.
4. Transparência tarifária & previdenciária: publiquem fórmulas lado a lado.
6 | Conclusão
Chamam de proteção; entregam ansiedade. O algoritmo filtra, Trump tarifa, STF processa, INSS sangra. Sobra o jovem adulto, contando gigas e anos‑trabalhados‑para‑aposentar. Se a esperança é bug, a dúvida é feature: quantas antenas 4 G cabem nos R$ 328 bi de déficit? Até lá, seguimos mais perto da ignorância — e do boleto.
Referências:
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AGÊNCIAGOV. Cai 3,8 % o déficit da Previdência Geral em 2024. Brasília, 30 jan. 2025.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
CETIC. TIC Domicílios 2024. São Paulo: CGI.br, 2024.
CGU. Operação “Sem Descontos” aponta fraudes de R$ 6,3 bi no INSS. 2 abr. 2025.
FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1921.
GOV.BR – Tesouro Nacional. Governo Central conclui 2024 com déficit de R$ 11 bi. 31 jan. 2025.
HAN, Byung-Chul. A crise da narração. Petrópolis: Vozes, 2018.
ICOMEX. Boletim de comércio exterior – 1.º sem. 2025. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2025.
INAF. Indicador de Analfabetismo Funcional 2023. São Paulo: Instituto Paulo Montenegro, 2023.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.
O’NEIL, Cathy. Algoritmos de destruição em massa. São Paulo: Cultrix, 2020.
REGLAB. Impacto econômico‑jurídico da derrubada do art. 19. Brasília: UnB, 2025.
TORRES, Felipe. Metodologia de revisão narrativa. Revista de Ciências Sociais, v. 52, n. 2, p. 41‑58, 2019.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.
CONGRESSO EM FOCO. Déficit do INSS pode chegar a 11 % do PIB em 2100. 15 mai 2025.
CNN Brasil. Déficit de R$ 43 bi em 2024 fica dentro da meta. 31 jan. 2025.
Nota sobre o autor:
José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP 06/172551), pesquisador
independente, autor do projeto “Mais Perto da Ignorância”, dedicado a analisar
a cultura digital sob lentes psicanalíticas, niilistas e existencialistas.
Criador do blog e pesquisador independente no blog “Mais Perto da Ignorância”.
#maispertodaignorancia
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