Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta violência simbólica

O capital cultural virou meme: quando a crítica de Bourdieu se transforma em mercadoria simbólica e anestesia social

O capital cultural virou meme: quando a crítica de Bourdieu se transforma em mercadoria simbólica e anestesia social Fonte 👇: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/08/23/novo-bordao-nas-redes-capital-cultural-ensina-a-ostentar-referencias-mas-distorce-teoria-criada-por-sociologo-frances.ghtml #maispertodaignorancia Vivemos uma época em que até a crítica virou mercadoria. Pierre Bourdieu, sociólogo francês que cartografou a desigualdade através da cultura, virou legenda de Instagram. Sua noção de “capital cultural” — elaborada com base em dados extensos sobre hábitos de leitura, consumo artístico e escolarização — agora circula como selo de distinção digital, bordão de rede social. É preciso ser claro: quando um conceito crítico se transforma em meme, ocorre um ato inflacionário. A moeda da teoria perde valor explicativo e ganha valor de prestígio. Quem posta “capital cultural” não está necessariamente denunciando a reprodução social; está exibindo pertença. É Monsi...

Beijo comprado, silêncio vendido

Beijo comprado, silêncio vendido Fonte original: https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2025/08/07/o-que-e-capacitismo-entenda-debate-nas-redes-apos-nattan-pagar-r-1-mil-para-homem-beijar-mulher-com-nanismo.ghtml #maispertodaignorancia Não é preciso muito esforço para perceber que o espetáculo contemporâneo tem uma fome insaciável por transformar tudo em moeda — até mesmo aquilo que supostamente denuncia. O caso recente do cantor Nattan, que pagou mil reais para um homem beijar uma mulher com nanismo, foi imediatamente capturado pelas redes sociais, não como tragédia, mas como matéria-prima para a coreografia previsível da indignação digital. O gesto, já em si constrangedor, não foi isolado: é parte de um ritual social que Byung-Chul Han chamaria de “pornografia da transparência”, na qual o íntimo é exposto para produzir comoção, compartilhamentos e, claro, engajamento. A ação, que poderia ser lida como violência simbólica — e é —, tornou-se apenas mais um frame ...

O autoritário mora ao lado: o voto é só o sintoma

O autoritário mora ao lado: o voto é só o sintoma Não é no palanque que nasce o autoritarismo — é no colo. A paixão pelo tirano talvez seja o eco de um afeto mal metabolizado: o líder forte preenche o buraco deixado por figuras frágeis demais para sustentar a autoridade com escuta. É disso que trata o livro “Paixão pela mentira”, do psicanalista Paulo Schiller, citado em reportagem recente do Valor Econômico. E é isso que o fascínio contemporâneo por autocratas nos esfrega na cara: o problema não é político, é íntimo. I. O retorno do recalque como voto Freud já nos alertava em O mal-estar na civilização (1930): o preço da vida social é o recalque. Só que aquilo que é recalcado, cedo ou tarde, retorna — travestido de “desejo de ordem”, “valores tradicionais” ou “defesa da família”. A paixão pelo autocrata é, nesse sentido, uma forma de gozo secundário: o prazer de obedecer sem ter que pensar. O desejo por líderes duros não nasce do esclarecimento, mas da saturação do di...