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A mostrar mensagens com a etiqueta anestesia

O delírio do código aberto: quem pensa quando a máquina finge?

O delírio do código aberto: quem pensa quando a máquina finge? Fonte original: https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2025/08/05/openai-lanca-modelos-abertos-de-inteligencia-artificial-capazes-de-realizar-raciocinio-complexo.ghtml #maispertodaignorancia Texto crítico: A OpenAI acaba de abrir o cofre. Modelos “abertos” de inteligência artificial agora são capazes — diz o marketing — de realizar raciocínio complexo. A promessa não é nova: maquinar a razão como se ela pudesse ser exportada, empacotada e entregue em API. O inédito é o cinismo com que se simula transparência para o que continua sendo, estruturalmente, uma caixa-preta — só que agora open source. De onde vem essa ânsia por “raciocinar” maquinalmente? Seria ingenuidade supor que ela nasce do desejo humano de compreender mais. Ao contrário, como nos alerta Bauman em Em busca da política, vivemos a liquefação das decisões e a externalização das escolhas. A máquina não pensa por nós. Ela pensa em lugar d...

A Insuportável Leveza do Mal-Estar: Uma Crônica Pós-Moderna

A Insuportável Leveza do Mal-Estar: Uma Crônica Pós-Moderna Sempre fui fascinado pela capacidade da humanidade de produzir discursos grandiosos sobre sua própria insignificância.  No século XX, Freud já alertava sobre um mal-estar intrínseco à civilização, uma espécie de preço inevitável que pagamos pela convivência social, trocando parte de nossa liberdade por segurança e bem-estar coletivo (Freud, 2012).   Décadas depois, Zygmunt Bauman, em seu provocativo ensaio sobre o mal-estar pós-moderno, ampliou a angústia freudiana para uma sociedade fragmentada, líquida e repleta de relações efêmeras (Bauman, 2012). Vivemos hoje uma fase paradoxal: quanto mais tecnologia acumulamos para supostamente conectar e facilitar nossa existência, mais isolados e ansiosos nos tornamos.  Shoshana Zuboff descreve essa era como a do capitalismo de vigilância, na qual nossa intimidade é mercantilizada e consumida por algoritmos que pretendem prever nosso comportamento (Zuboff, 202...

Scroll, logo padeço: anatomia da onipotência de bolso

Scroll, logo padeço: anatomia da onipotência de bolso Sentiu o feed ficar pesado? Aperta o fone e mergulha na autópsia da dopamina de bolso: ansiedade campeã, likes quebradiços, o “eu soberano” live do banheiro e zero autoajuda. ▶️ Ouça agora no Spotify: Quase todo brasileiro que conheço — eu inclusive — já acorda com o polegar em posição de oração, deslizando a tela como quem busca redenção. São 3 h 42 min por dia entregues às redes, segundo o TIC Domicílios 2024 . Enquanto isso, 18,6 milhões de compatriotas carregam diagnóstico de ansiedade, liderança mundial proclamada pela OMS . Dizem que o dado é científico, mas o sintoma é caseiro: sentado no banheiro-suíte, proclamo onipresença entre azulejos frios. Do atalho pulsional ao feed dopaminérgico Freud avisou que o corpo adora atalhos e que o recalque exige fila. Hoje a timeline aboliu a espera, servindo dopamina em conta-gotas fluorescentes — a cada like, uma micro-dose de anestesia simbólica. Estudos com adolescentes lig...