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Quando o privado vira espetáculo: as confissões digitais como mercadoria barata

Quando o privado vira espetáculo: as confissões digitais como mercadoria barata LINK ORIGINAL: https://exame.com/inteligencia-artificial/depois-do-meta-ai-e-do-chatgpt-370-mil-conversas-de-usuarios-com-a-ia-grok-sao-indexadas-no-google ANÁLISE O episódio das 370 mil conversas do Grok indexadas no Google revela mais do que uma falha técnica — trata-se de uma ferida exposta na vulnerabilidade do oculto em plena era digital. A simplicidade do botão “compartilhar” converte diálogos privados em espetáculo público, como se confidências íntimas fossem sacralizadas, mas às mãos de buscadores, e não do divã do terapeuta. Usuários imaginavam estar no comando; na verdade, estavam alimentando um feitiço de exposição sem precedentes.   Aqui vale invocar Debord: o espetáculo não é um acúmulo de imagens, mas uma forma de dominação em que o íntimo se vê transformado em mercadoria. O privado se torna praça eletrônica. Bauman alertava: em tempos líquidos, fronteiras se dissolvem, in...

O beijaço pago e a moral de vitrine: quando a empatia é terceirizada pelo Pix

O beijaço pago e a moral de vitrine: quando a empatia é terceirizada pelo Pix Fonte original: https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2025/08/07/o-que-e-capacitismo-entenda-debate-nas-redes-apos-nattan-pagar-r-1-mil-para-homem-beijar-mulher-com-nanismo.ghtml #maispertodaignorancia @maispertodaignorancia O episódio é simples e grotesco na mesma medida: um cantor paga R$ 1.000 para um homem beijar uma mulher com nanismo. O gesto, aparentemente “generoso” ou “divertido”, abre uma fissura incômoda na vitrine moral das redes. Não é só sobre capacitismo — embora seja, e muito. É sobre como, no espetáculo contemporâneo, a empatia se converte em moeda e a dignidade, em performance rentável. O beijo não é afeto, é transação. Byung-Chul Han já diagnosticou, em A expulsão do outro, que vivemos num tempo em que a alteridade é corroída: o outro só nos interessa enquanto extensão do nosso próprio reflexo, enquanto alimenta nossa autoimagem luminosa diante da plateia digital. Nã...

Beijo comprado, silêncio vendido

Beijo comprado, silêncio vendido Fonte original: https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2025/08/07/o-que-e-capacitismo-entenda-debate-nas-redes-apos-nattan-pagar-r-1-mil-para-homem-beijar-mulher-com-nanismo.ghtml #maispertodaignorancia Não é preciso muito esforço para perceber que o espetáculo contemporâneo tem uma fome insaciável por transformar tudo em moeda — até mesmo aquilo que supostamente denuncia. O caso recente do cantor Nattan, que pagou mil reais para um homem beijar uma mulher com nanismo, foi imediatamente capturado pelas redes sociais, não como tragédia, mas como matéria-prima para a coreografia previsível da indignação digital. O gesto, já em si constrangedor, não foi isolado: é parte de um ritual social que Byung-Chul Han chamaria de “pornografia da transparência”, na qual o íntimo é exposto para produzir comoção, compartilhamentos e, claro, engajamento. A ação, que poderia ser lida como violência simbólica — e é —, tornou-se apenas mais um frame ...

A superdotação da dor: quando o saber performa o sofrimento

A superdotação da dor: quando o saber performa o sofrimento Fonte original: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/atitude/superdotacao-especialista-explica-diagnostico-de-whindersson-nunes-139839 #maispertodaignorancia O diagnóstico de superdotação de Whindersson Nunes, tratado com a habitual roupagem midiática do “dom” e da “exceção”, revela menos sobre o sujeito em questão e mais sobre o fetiche contemporâneo pela excelência disfuncional. Superdotado não é mais aquele que pensa fora da curva, mas o que continua performando mesmo quando a curva da angústia já desfigurou sua existência. Estamos diante de um novo tipo de capital simbólico: o sofrimento rentável. Quando a matéria nos informa que Whindersson “sempre teve facilidade em aprender, mas dificuldades em interagir”, o não-dito emerge como um grito mudo: será que a alta capacidade cognitiva compensa o fracasso relacional em uma sociedade que exige empatia como moeda, mas entrega conexão como espetáculo? A especializ...