Entre a carne e o código: corpo, dado e a falsa soberania do sujeito Fonte original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cnv716g5v4yo 1. Introdução — O paradoxo inicial O algoritmo sabe o que você vai comer amanhã — mas ainda não pode mastigar por você. Essa ironia resume a tensão do nosso tempo: vivemos mergulhados em ecossistemas digitais que nos tratam como bases de dados preditivos, mas continuamos existindo como organismos que respiram, sentem fome, adoecem e morrem. O discurso hegemônico sobre “o poder das máquinas” nos seduz pela narrativa de que a tecnologia opera num plano acima das nossas limitações biológicas. Mas aqui está o ponto: culpabilizar apenas o algoritmo é um álibi confortável. A máquina não tem fome, nem sede, nem ambição; quem a programa, quem lucra com ela, sim. Shoshana Zuboff, em A Era do Capitalismo de Vigilância, descreve como o dado se tornou a nova matéria-prima de um mercado que se alimenta da vida cotidiana. Mas há um erro com...
"Mais Perto da Ignorância é um espaço de reflexão crítica sobre os paradoxos da existência contemporânea. Explorando temas como tecnologia, discursividade, materialidade e consumo, inspira-se em autores como Byung-Chul Han, Freud e Nietzsche. O blog questiona narrativas dominantes, desmistifica ilusões e convida ao diálogo profundo. Aqui, ignorância não é falta de saber, mas um confronto com dúvidas e angústias, desafiando verdades superficiais e mercantilizadas.” — José Antonio Lucindo da Silva