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O eu que desaparece para ser notado

Texto original: O eu que desaparece para ser notado Por muito tempo, acreditei que seria possível me reinventar a cada manhã. Um clique, um deslizar de dedo, e pronto: apagava-se o ontem, e com ele todas as vergonhas, excessos, ou — na maioria das vezes — a mais banal das rotinas. Um feed limpo, branco como uma página nunca escrita, me dava a ilusão de que nada havia acontecido. Era como nascer de novo, só que sem trauma, sem parto, sem memória. Chamam isso de feed zero. Um nome sofisticado para uma prática ancestral: apagar o rastro na areia antes da onda vir. Mas aqui, a onda sou eu mesmo, ou melhor, minha ansiedade em parecer algo que nunca sou por completo. Publico, apago. Curto, me escondo. Torno efêmero para parecer livre, mas tudo isso carrega o peso de uma prisão que não se pode mais nomear. Afinal, quem precisa de grades quando se vive dentro do próprio reflexo filtrado? Bauman já falava do homem sem vínculos (2004), e penso que fui além: talvez eu seja o homem sem...