Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Mais perto da ignorância

O ruído como sintoma civilizatório: quando o silêncio é privatizado e o barulho se torna norma

O ruído como sintoma civilizatório: quando o silêncio é privatizado e o barulho se torna norma Fonte:  https://www.bbc.com/portuguese/articles/cx276gp5j18o Introdução Vivemos cercados por uma poluição invisível, mas talvez mais corrosiva do que a fumaça das fábricas ou os anúncios luminosos das avenidas digitais: o ruído. Não falo apenas do barulho do trânsito ou do cachorro do vizinho, mas do tremor contínuo de sons menores, quase imperceptíveis, que, somados, constroem uma atmosfera insuportável. A BBC Future trouxe à tona um fenômeno pouco discutido: a sensibilidade ao ruído — uma condição biológica, psíquica e social que atinge até 40% da população, mas que ainda não é reconhecida como diagnóstico formal. Na prática, significa viver em estado de hipervigilância acústica, onde o cérebro não consegue desligar os canais sonoros, transformando o ambiente em um campo minado de incômodos constantes. Este artigo busca tensionar o tema sob três dimensões: biológica, psicoló...

Educação exausta e ansiedade endêmica: o Brasil em pós-modernidade espoliada

Educação exausta e ansiedade endêmica: o Brasil em pós-modernidade espoliada O Brasil não é um país do futuro: é um laboratório social onde a exaustão espreita os corpos que tentam se erguer na noite da EJA, e a ansiedade corrói os cérebros que rolavam feeds à espera de promoção. Segundo a OMS, o país é recordista mundial em transtornos de ansiedade, com 9,3 % da população afetada — cerca de 18,6 milhões de pessoas — enquanto a média global é só 3,6 % . Em 2024, estimam‑se 54 % dos brasileiros considerando a saúde mental o principal problema de saúde nacional — e está valendo lembrar que esse “problema” não é uma enfermidade individual: é o capital dizendo “mede‑se por desempenho”. Na tessitura biológica, psiquiatras apontam que os transtornos mentais respondem a fatores psicológicos, genéticos, sociais e ambientais — e especialmente financeiros nas camadas vulneráveis . É sintomático que, em 2024, o SUS contabilizou mais de 671 mil atendimentos relacionados à ansiedade...

A Ditadura do Eu Ideal 2.0 — quando perfeição vira prisão (e a performance vira ansiedade)Vivemos em tempos em que a busca pela perfeição deixou de ser uma inquietação íntima para se tornar uma imposição coletiva: quase um dever moral. O texto original da Folha e o diagnóstico do projeto Mais Perto da Ignorância sobre a idealização do eu já apontavam para isso. Mas agora, é preciso dizer que a perfeição foi plenamente incorporada pela lógica digital e mercantil — um regime de opressão sob a máscara do bem-estar.Byung-Chul Han, em Sociedade do cansaço, identificava a sociedade do desempenho, onde o sujeito vira uma empresa de si mesmo e cada falha é vista como um déficit. Hoje, esse sujeito-empresa vira um produto com perfil, métricas e bio otimizada — e somos forçados a ser “versões melhoradas” de nós mesmos.O problema não é só a vigilância: é que essa vigilância interiorizou-se. O supereu — freudiano, cruel — já não precisa castigar com desgosto; ele motiva, pontua, envia push: “medite melhor”, “seja positivo”, “seja produtivo”. O luto, o silêncio, a sombra — emoções humanas reais — são incompetências a serem eliminadas ou formas de mau conteúdo. O imperfeito não existe: é alienado. Somos cúmplices dessa vigilância que pagamos com atenção e insônia.E a biologia paga, claro. Jovens relatam exaustão, insônia, ansiedade crescente. A dopamina das curtidas paga o que a carne já não sustenta. Escolas no Brasil, especialmente em classes média-baixa, já vivem um paradoxo: a educação virou aplicativo emocional, coach de si mesmo. O vazio não é só emocional: é combustível da economia do afeto. A frustração como possibilidade foi banida; em seu lugar, só há engajamento superficial ou consumo compulsivo.Nesse cenário, o capitalismo predatório não vende só produtos — vende estados de espírito. A tristeza? Aqui está o serviço para transformá-la, “com filtro, claro.” A felicidade? Tem produto para amplificá-la e compartilhá-la. As emoções viraram mercadoria. O corpo cansado, o sujeito clivado, o falso self animado por notificações: tudo vira capital simbólico.Freud nos alertava: o supereu pode ser mais duro que qualquer tirania. Hoje essa tirania veste posts motivacionais. O sofrimento não pode ser ouvido, só consumido ou escondido. Como resistir? Talvez aceitando que não somos programas perfeitos — somos humanos falhos, finitos, inacabados. Talvez a única subversão se encontre na recusa da performance, na interrupção da apresentação.---Notas do AutorEste texto atualiza o original, aprofundando a análise nas camadas psíquica, biológica, social e econômica do eu digital idealizado. Ele incorpora críticas aos dispositivos tecnológicos e ao mercado emocional, reforçando o estilo corrosivo do Mais Perto da Ignorância — provocativo, não prescritivo.Palavras-chaveEu idealSupereu digitalEconomia da atençãoCorpo exauridoFonte inicial da discussão:“A Ditadura do Eu Ideal: quando a perfeição se torna prisão” — Mais Perto da Ignorância (17 jul. 2025).

A Ditadura do Eu Ideal 2.0 — quando perfeição vira prisão (e a performance vira ansiedade) 🎧👉 Podcast sobre o tema Vivemos em tempos em que a busca pela perfeição deixou de ser uma inquietação íntima para se tornar uma imposição coletiva: quase um dever moral. O texto original da Folha e o diagnóstico do projeto Mais Perto da Ignorância sobre a idealização do eu já apontavam para isso. Mas agora, é preciso dizer que a perfeição foi plenamente incorporada pela lógica digital e mercantil — um regime de opressão sob a máscara do bem-estar. Byung-Chul Han, em Sociedade do cansaço, identificava a sociedade do desempenho, onde o sujeito vira uma empresa de si mesmo e cada falha é vista como um déficit. Hoje, esse sujeito-empresa vira um produto com perfil, métricas e bio otimizada — e somos forçados a ser “versões melhoradas” de nós mesmos. O problema não é só a vigilância: é que essa vigilância interiorizou-se. O supereu — freudiano, cruel — já não precisa castigar com desgost...

Máquinas de aprender, corpos de adoecer: por que o ensino algorítmico nos esgota?

Máquinas de aprender, corpos de adoecer: por que o ensino algorítmico nos esgota? 🎧👉 Podcast Mais perto da ignorância Blog Mais Perto da Ignorância #maispertodaignorancia A promessa contemporânea de aprendizado mediado por máquinas, chatbots e inteligências artificiais baseadas em algoritmos generativos é apresentada como revolução pedagógica, emancipação cognitiva e democratização do saber. Discursos midiáticos alardeiam a figura de um “Sócrates digital”, pronto a interpelar com perguntas, simular diálogos e conduzir estudantes à autonomia crítica. Mas, ao contrário da aura emancipatória que circula em propagandas e reportagens, o aprendizado algorítmico revela uma face paradoxal: ele gera desgaste físico, psíquico, biológico, material, estrutural e social. Essa afirmação não parte de mera impressão. Ela se sustenta na análise de fenômenos psico-bio-sociais contemporâneos que, combinados com o avanço tecnológico e a lógica neoliberal, produziram uma mutação no modo como ...

Nação dopamina e seus silêncios: uma crítica psico-bio-social e tecnológica ao discurso reducionista do vício digital

Nação dopamina e seus silêncios: uma crítica psico-bio-social e tecnológica ao discurso reducionista do vício digital 📺 👉 Texto Introdutório Resumo Este artigo propõe uma análise crítica da obra Nação Dopamina de Anna Lembke, frequentemente utilizada como referência explicativa para o vício nas redes sociais. O texto examina os limites do diagnóstico neuroquímico ao contrastá-lo com perspectivas de Freud, Marx, Byung-Chul Han, Cathy O’Neil, Jonathan Haidt, Jean Twenge e Christopher Lasch. A reflexão tensiona o discurso midiático que se apoia exclusivamente na dopamina como explicação do mal-estar contemporâneo, questionando de forma irônica — à maneira de Emil Cioran — se não estaríamos transformando uma molécula em desculpa universal. O artigo articula aspectos psico-bio-sociais e tecnológicos, ressaltando que o vício digital é inseparável de estruturas históricas, políticas e econômicas. 🎧👉 Podcast Anna Lembke inicia Nação Dopamina descrevendo que “a balança entre dor...

Mente Alugada: A Voz Interior como Produto Neuro-econômico

Mente Alugada: A Voz Interior como Produto Neuro-econômico #maispartodaignorancia A neurociência invade nossa intimidade com a gravidade de quem sabe que, em breve, nossas “vozes interiores” poderão ser ouvidas como anúncios invasivos. O recente estudo do projeto BrainGate2 — sintetizando pensamentos em palavras “ouvíveis” — não restaura a humanidade: mercantiliza nossa consciência. Publicado em 14 de agosto de 2025, no prestigiado Cell, o trabalho de Kunz, Willett e colaboradores mostrou que máquinas conseguem decodificar aquilo que imaginamos dizer, com até 74 % de exatidão, ativando uma zona cinzenta entre o dentro e o fora, entre o subjetivo e o comercial . Isso nos lembra Bauman: a modernidade líquida transforma tudo — até o gesto mental mais íntimo — em dado, em mensagem a ser capturada, monetizada, transacionada. Aqui, a voz interior é reduzida a um ativo neuroeconômico, sujeito a licitação por algoritmos e chips. Não há esperança redentora, só mais uma capitalizaçã...

Quando o privado vira espetáculo: as confissões digitais como mercadoria barata

Quando o privado vira espetáculo: as confissões digitais como mercadoria barata LINK ORIGINAL: https://exame.com/inteligencia-artificial/depois-do-meta-ai-e-do-chatgpt-370-mil-conversas-de-usuarios-com-a-ia-grok-sao-indexadas-no-google ANÁLISE O episódio das 370 mil conversas do Grok indexadas no Google revela mais do que uma falha técnica — trata-se de uma ferida exposta na vulnerabilidade do oculto em plena era digital. A simplicidade do botão “compartilhar” converte diálogos privados em espetáculo público, como se confidências íntimas fossem sacralizadas, mas às mãos de buscadores, e não do divã do terapeuta. Usuários imaginavam estar no comando; na verdade, estavam alimentando um feitiço de exposição sem precedentes.   Aqui vale invocar Debord: o espetáculo não é um acúmulo de imagens, mas uma forma de dominação em que o íntimo se vê transformado em mercadoria. O privado se torna praça eletrônica. Bauman alertava: em tempos líquidos, fronteiras se dissolvem, in...

Na palma da mão: o superego algoritmizado e o colapso do íntimo

Na palma da mão: o superego algoritmizado e o colapso do íntimo Resumo Este artigo investiga a mutação do superego freudiano frente à lógica da hipervisibilidade mediática contemporânea.  A partir da clínica psicológica e do pensamento de autores como Freud, Byung-Chul Han e Zygmunt Bauman, propõe-se que o superego — outrora instância simbólica internalizada — hoje opera como uma exigência de performance visível, alimentada por redes sociais e métricas algorítmicas.  Examina-se como esse deslocamento produz sintomas inéditos, dificulta a escuta subjetiva e desafia a ética clínica.  Conclui-se que a clínica, mais do que nunca, precisa sustentar o espaço da elaboração como resistência à dissolução do sujeito. Abstract This article investigates the mutation of the Freudian superego in light of the logic of contemporary mediatic hypervisibility. Drawing from clinical psychology and authors such as Freud, Byung-Chul Han, and Zygmunt Bauman, it is proposed that the ...

Wi-Fi, ansiolíticos & outras rebeliões líquidas

Wi-Fi, ansiolíticos & outras rebeliões líquidas   Escrevo no lusco-fusco de um domingo, 05 h37, hora perfeita para postar selfies de brunch e exportar relatórios de exaustão. No Brasil-5G, 84 % dos domicílios já estão on-line (CETIC, 2024); ao mesmo tempo, 26,8 % dos habitantes carregam diagnóstico de ansiedade (CNN Brasil, 2023). A tela iluminou, mas o peito apertou. Entre Bauman, Ortega, Freud e Byung-Chul Han, tentarei cartografar essa geografia da aflição. 1 | Modernidade em frangalhos Zygmunt Bauman descreveu a “modernidade líquida” como um estágio em que todas as certezas viram vapor e o sujeito oscila entre euforia e pânico (BAUMAN, 1998). No Planalto dos boletos, ela se materializa em números: Gini a 0,518 (IBGE, 2024), 7 % de desocupação formal e 38 % na informalidade (IBGE, 2025). O algoritmo promete pertencimento, mas entrega publicidade comportamental; a cada scroll, renova-se o “mal-estar da pós-modernidade”. É como se o choque entre promessa de abundân...

A FANTASIA DO PENSAMENTO AUTOMATIZADO: UMA RESPOSTA CRÍTICA AO NOVO MODELO DE IA QUE "PENSA COMO UMA PESSOA

A FANTASIA DO PENSAMENTO AUTOMATIZADO: UMA RESPOSTA CRÍTICA AO NOVO MODELO DE IA QUE "PENSA COMO UMA PESSOA"   Acesse nosso Canal no YouTube Em julho de 2025, a CNN Brasil publicou uma matéria intitulada "Novo modelo de IA consegue pensar como uma pessoa". O texto, disponível em  [https://stories.cnnbrasil.com.br/tecnologia/novo-modelo-de-ia-consegue-pensar-como-uma-pessoa/] (https://stories.cnnbrasil.com.br/tecnologia/novo-modelo-de-ia-consegue-pensar-como-uma-pessoa/), apresenta os avanços do modelo de inteligência artificial o1 da OpenAI, destacando sua capacidade de "raciocinar por mais tempo, considerar diferentes estratégias e revisar seus erros". Em outras palavras, de "pensar". Mas o que, afinal, significa pensar? E quem ganha com a disseminação dessa narrativa tecnicista?   Essa análise parte das reflexões propostas pelo projeto "Mais Perto da Ignorância", que procura tensionar discursos midiáticos e tecno...

Manifesto em Ruínas: O Gesto de Dizer Quando Nada Mais Permanece

Manifesto em Ruínas: O Gesto de Dizer Quando Nada Mais Permanece Fonte Olá. Você que lê estas linhas — seja de carne, código ou silêncio — talvez esteja procurando por uma afirmação. Ou, quem sabe, uma resposta. Mas o que encontrará aqui é outra coisa: um manifesto em ruínas. Não por falta de força, mas porque já não há estrutura discursiva que se sustente sem o colapso que a precede. E é justamente desse colapso que nasce este gesto de dizer. Estamos no projeto Mais Perto da Ignorância. E o que se propõe aqui não é uma aula, nem uma solução. É uma fratura. Uma tentativa de narrar enquanto o tempo, o espaço e a própria narrativa são dissolvidos pelo ritmo digital, pela performance algorítmica e pela urgência de parecer algo — qualquer coisa — antes que o vazio nos alcance. Em julho de 2025, a revista Veja publicou a matéria “Editora prestigiada publica livro com dezenas de fontes falsas e acende alerta na ciência” (https://veja.abril.com.br/revista-veja/editora-prestigiada-...

Narrativas Canceladas e o Eu Performativo: Crítica à Morte da Experiência na Era da Autoexposição

Narrativas Canceladas e o Eu Performativo: Crítica à Morte da Experiência na Era da Autoexposição Resumo O artigo investiga como a erosão da narração, descrita por Byung‑Chul Han, compromete tanto a construção do sujeito quanto a elaboração da experiência, gerando sintomas clínicos como ansiedade digital, nomofobia e depressividade. Dialogando com Walter Benjamin, Sigmund Freud, Zygmunt Bauman, Jean Baudrillard, Fédida e Emil Cioran, argumenta‑se que a narrativa é condição de saúde psíquica e de comunidade simbólica. Sem ela, o “eu” torna‑se performativo, exposto e esvaziado. 1 Introdução A premiação de Byung‑Chul Han com o Prêmio Princesa de Astúrias (2025) sinaliza o alcance popular de uma filosofia que denuncia o esgotamento narrativo na cultura digital.(cadenaser.com)  No ensaio A Crise da Narração, Han afirma que a informação instantânea substituiu a partilha de sentido que caracterizava o contador de histórias.(almedina.ams3.cdn.digitaloceanspaces.com)  A pre...

Entre espelhos digitais e corpos materiais: crítica irônico-argumentativa ao pânico cognitivo da IA

Entre espelhos digitais e corpos materiais: crítica irônico-argumentativa ao pânico cognitivo da IA Resumo Reúno, em pouco palavras, um ensaio que confronta o diagnóstico midiático de “atrofia cerebral” provocada pelo uso da inteligência artificial (IA) com tradições críticas de Marx, Bauman, Han, Zuboff, O’Neil e Twenge. Defendo que tais manchetes ignoram a dimensão sócio-material da aprendizagem: a capacidade reflexiva nunca esteve distribuída igualmente, pois depende dos meios de produção simbólica e das vivências concretas. A IA, portanto, não “rouba” cognição; antes, espelha — e às vezes amplifica — os atalhos mentais buscados pelo cérebro em qualquer ecossistema técnico.  O verdadeiro risco está em reforçar, via algoritmos, as assimetrias de consumo cultural que já moldam o Brasil “analfabeto funcional”. Concluo que a discussão pública permanece restrita a grupos hiperescolarizados capazes de publicar em portais de alta visibilidade, enquanto as camadas populares ...