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A mostrar mensagens com a etiqueta André Green

O narcisismo do botão deletar

O narcisismo do botão deletar [Link original:   https://share.google/vBPIgruDfrVBeiNm7 ] Se tudo pode ser deletado com um clique, o que ainda merece ser vivido? Vivemos um presente onde os laços são frágeis como senhas esquecidas. A promessa da Regulação Europeia da IA — tratada como avanço civilizatório — talvez seja apenas mais uma performance de controle travestida de ética. A União Europeia começa a aplicar as novas regras do AI Act com pompa de salvadores iluministas, mas o que se vende como “transparência” pode ser só mais um teatro moral diante do abismo técnico que ninguém mais compreende. Não por acaso, a mesma UE que regulamenta a IA é cúmplice silenciosa de um capitalismo de vigilância que Shoshana Zuboff já havia denunciado: uma economia onde o dado é mais valioso que o desejo. Estamos diante de um paradoxo grotesco — fingimos que controlamos o algoritmo enquanto o algoritmo aprende a nos deletar melhor. A moral da governança digital é a mesma do mercado: ev...

A máquina sonha por nós. E nós dormimos em paz

A máquina sonha por nós. E nós dormimos em paz. Fonte: (Harari: Podemos ficar presos no sonho de uma IA - 03/08/2025 - Mercado - Folha https://share.google/u6jvCNFKhJuQGDAZ6) #maispertodaignorancia Enquanto Harari alerta para um possível aprisionamento no “sonho da inteligência artificial”, seguimos conectados e conformados. Não se trata de um pesadelo futuro — é um estado já vivido, domesticado, e, pior: desejado. O perigo não está na IA sonhar por nós, mas em não querermos mais acordar. O historiador israelense Yuval Harari — aquele que diz verdades banais com voz de oráculo — reaparece no noticiário com sua última epifania: podemos ficar presos no “sonho da IA”. Como se fosse um futuro. Como se ainda não estivéssemos flutuando nesse devaneio sintético, entre likes, diagnósticos automatizados e playlists de emoções pré-programadas. A “ameaça” de Harari é uma cortina de fumaça suave: denuncia o risco ao mesmo tempo em que legitima sua base. Pois para que a IA nos prenda, é...

Proibir ou performar? O novo moralismo digital australiano

Proibir ou performar? O novo moralismo digital australiano Link original: https://share.google/vL1ImOBZ4iDJJXQ41 #maispertodaignorancia À primeira vista, a proposta australiana de banir adolescentes de redes sociais parece uma tentativa tardia de salvar um sujeito já em decomposição. Seria um gesto de cuidado, se não estivesse encharcado de controle. Seria uma política de proteção, se não soasse como mais uma performance de virtude neoliberal. Mas a história é outra. Segundo o projeto do governo de Victoria, jovens com menos de 16 anos só poderão acessar redes sociais mediante autorização parental comprovada por identificação digital. Parece razoável — afinal, quem não quer proteger “nossas crianças”? O problema é que essa retórica esconde um duplo movimento: o da terceirização da autoridade moral e o da intensificação do rastreamento identitário. Em nome da infância, instala-se mais um algoritmo de vigilância. Freud já nos alertava: onde há repressão, há retorno do recalca...

Entre Superegos e Algoritmos: Freud Não Te Seguiria de Volta

Entre Superegos e Algoritmos: Freud Não Te Seguiria de Volta Fonte do Link em questão Assista no Canal @maispertodaignorancia É curioso, para não dizer desesperador, que tenhamos conseguido converter a “Psicologia das Massas” de Freud em manual de boas práticas para linchamento digital. A matéria da Aventuras na História (2023) tenta nos vender uma reconciliação improvável: o cancelamento como fenômeno que Freud “explicaria” com entusiasmo, como se o velho doutor estivesse a favor do tribunal da hashtag.  Permita-me, com ironia devidamente fundamentada, discordar. A primeira confusão já começa no entendimento de massa. Para Freud (1921/2011), a massa não é só um ajuntamento de corpos, mas uma dissolução do Eu. O indivíduo, ao se fundir com o grupo, suspende sua autonomia crítica e se submete a uma identificação com o ideal.   No cancelamento digital, no entanto, não há ideal coletivo — apenas a projeção de ressentimentos individuais em figurações de moral. Cancelar...