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Criança Plugada, Adulto Desligado

Criança Plugada, Adulto Desligado Fonte original: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2025/08/4-em-cada-10-dizem-que-criancas-tem-muito-tempo-de-tela.shtml #maispertodaignorancia Quatro em cada dez brasileiros acham que crianças estão tempo demais em frente às telas. O restante, ao que tudo indica, está ocupado demais... em frente às suas próprias. A matéria da Folha sugere uma preocupação parental crescente com a "exposição excessiva" das crianças a celulares, tablets e afins. Mas o que não se diz? Talvez o mais óbvio: o problema não está na tela da criança, mas na cegueira do adulto. Como apontou Bauman em 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno, os pais perderam o monopólio simbólico sobre a autoridade — foram substituídos por algoritmos de entretenimento e apps de babysitting emocional. A crise não é da infância: é da adultez colapsada que terceiriza o afeto, a escuta e o tédio. A “preocupação” com o tempo de tela revela mais sobre o desconforto adulto c...

Entre espelhos digitais e corpos materiais: crítica irônico-argumentativa ao pânico cognitivo da IA

Entre espelhos digitais e corpos materiais: crítica irônico-argumentativa ao pânico cognitivo da IA Resumo Reúno, em pouco palavras, um ensaio que confronta o diagnóstico midiático de “atrofia cerebral” provocada pelo uso da inteligência artificial (IA) com tradições críticas de Marx, Bauman, Han, Zuboff, O’Neil e Twenge. Defendo que tais manchetes ignoram a dimensão sócio-material da aprendizagem: a capacidade reflexiva nunca esteve distribuída igualmente, pois depende dos meios de produção simbólica e das vivências concretas. A IA, portanto, não “rouba” cognição; antes, espelha — e às vezes amplifica — os atalhos mentais buscados pelo cérebro em qualquer ecossistema técnico.  O verdadeiro risco está em reforçar, via algoritmos, as assimetrias de consumo cultural que já moldam o Brasil “analfabeto funcional”. Concluo que a discussão pública permanece restrita a grupos hiperescolarizados capazes de publicar em portais de alta visibilidade, enquanto as camadas populares ...

A Insuportável Leveza do Mal-Estar: Uma Crônica Pós-Moderna

A Insuportável Leveza do Mal-Estar: Uma Crônica Pós-Moderna Sempre fui fascinado pela capacidade da humanidade de produzir discursos grandiosos sobre sua própria insignificância.  No século XX, Freud já alertava sobre um mal-estar intrínseco à civilização, uma espécie de preço inevitável que pagamos pela convivência social, trocando parte de nossa liberdade por segurança e bem-estar coletivo (Freud, 2012).   Décadas depois, Zygmunt Bauman, em seu provocativo ensaio sobre o mal-estar pós-moderno, ampliou a angústia freudiana para uma sociedade fragmentada, líquida e repleta de relações efêmeras (Bauman, 2012). Vivemos hoje uma fase paradoxal: quanto mais tecnologia acumulamos para supostamente conectar e facilitar nossa existência, mais isolados e ansiosos nos tornamos.  Shoshana Zuboff descreve essa era como a do capitalismo de vigilância, na qual nossa intimidade é mercantilizada e consumida por algoritmos que pretendem prever nosso comportamento (Zuboff, 202...

TDAH: o novo vilão da performance ou mais um diagnóstico para calar a angústia?

TDAH: o novo vilão da performance ou mais um diagnóstico para calar a angústia? Fonte Citada TDAH: o novo vilão da performance ou mais um diagnóstico para calar a angústia? Resumo O presente artigo discute criticamente a midiatização do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) à luz do discurso psicossocial contemporâneo. Partindo da análise do material publicado pelo Estado de Minas (2025), reflete-se sobre como a retórica “gentil” de desconstrução de mitos pode ocultar a captura do sofrimento psíquico por uma lógica performática. Referenciais teóricos como Freud, Fédida, Bauman, Han, Green e Cioran sustentam a crítica à normatização diagnóstica e à funcionalidade subjetiva exigida no neoliberalismo de si. O texto se inscreve na proposta do projeto Mais Perto da Ignorância, buscando reencenar a dúvida como virtude e o desespero como condição epistêmica. Palavras-chave: TDAH; subjetividade; performance; diagnóstico; discurso. --- A ilusão do esclarecimento: ...

Consumo, discurso e descarte: anatomia de um eu sem chão

Consumo, discurso e descarte: anatomia de um eu sem chão José Antônio Lucindo da Silva – #enxerofeed #maispertodaignorancia Resumo Este ensaio busca articular três camadas do mal-estar contemporâneo: a repressão freudiana, a liquidez identitária de Bauman e a lógica de consumo subjetivo ancorada na desconexão com a materialidade. Através do paralelismo entre O mal-estar na civilização (Freud), Mal-estar na pós-modernidade (Bauman) e os pressupostos materialistas de Marx, argumenta-se que o "eu" pós-moderno não só é produzido como mercadoria, mas performado como linguagem em um ambiente onde o discurso é constantemente esvaziado de experiência real. 1. Do sintoma ao produto: o mal-estar como mercadoria Freud, ao diagnosticar o mal-estar inerente à civilização, apontava o conflito entre pulsões individuais e a necessidade de repressão para a convivência social. O sofrimento era o custo de se tornar civilizado. Contudo, em Bauman, esse sofri...