O dia em que a distopia virou manual de instruções Vivemos numa época em que as distopias não são mais advertências, mas tutoriais. 1984 deixou de ser a ficção paranoica de um inglês ressentido para tornar-se o roteiro operacional dos data centers, que hoje substituem o “Grande Irmão” pela lógica dos algoritmos de engajamento. O que antes era teletela é agora um feed infinito, calibrado para garantir que você não apenas veja o que deve ver, mas também esqueça o que não deve lembrar. Orwell imaginou um Estado que reescrevia a história; nós aperfeiçoamos o método — terceirizamos para máquinas que não precisam dormir, não têm remorso e conhecem nossas preferências mais íntimas, inclusive aquelas que nunca confessaríamos nem sob tortura. Se Huxley estava certo ao dizer que não precisaríamos de coerção, mas apenas de prazer, então vivemos a era do soma ubíquo. Só que, em vez de comprimidos distribuídos pelo Ministério do Bem-Estar, temos um cardápio diversificado: an...
"Mais Perto da Ignorância é um espaço de reflexão crítica sobre os paradoxos da existência contemporânea. Explorando temas como tecnologia, discursividade, materialidade e consumo, inspira-se em autores como Byung-Chul Han, Freud e Nietzsche. O blog questiona narrativas dominantes, desmistifica ilusões e convida ao diálogo profundo. Aqui, ignorância não é falta de saber, mas um confronto com dúvidas e angústias, desafiando verdades superficiais e mercantilizadas.” — José Antonio Lucindo da Silva