Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Bauman

Assédio Corporativo: quando a empresa terceiriza sua neurose

Assédio Corporativo: quando a empresa terceiriza sua neurose 📺👉 No YouTube 🎧👉 Ouça no Spotify LINK ORIGINAL: https://exame.com/carreira/assedio-nas-empresas-atinge-metade-dos-profissionais-e-muitos-casos-comecam-com-lideres-juniores/ #maispertodaignorancia O levantamento apresentado pela Exame escancara aquilo que o discurso empresarial tenta maquiar com PowerPoint motivacional e metas coloridas: metade dos profissionais já sofreu assédio no trabalho, e muitos episódios partem de líderes juniores. O dado é devastador, mas não surpreendente. Freud já nos alertava, em O mal-estar na civilização (1930), que a pulsão agressiva não desaparece com a educação ou com o crachá; ela apenas é recalcada e reaparece onde a estrutura permite — no caso, no organograma corporativo. O jovem líder, supostamente “promovido pelo mérito”, torna-se um pequeno déspota: repete a lógica que sofreu e projeta em seus subordinados a sua insegurança. É o narcisismo de morte de André Green em versão...

Do título comprado à angústia vendida: genealogia da falta como mercadoria

Do título comprado à angústia vendida: genealogia da falta como mercadoria 🎧👉 Podcast Mais perto da Ignorância 👉📺👉 Assista em nosso canal O que a burguesia fez com os títulos de nobreza, o capitalismo contemporâneo faz com a subjetividade. Eis a linha histórica que raramente aparece nas análises rápidas sobre “mercantilização da filosofia”: o que se negocia não é apenas cultura, mas a própria falta. Na origem, a burguesia não tinha sangue azul, mas tinha dinheiro. Como não podia inventar linhagem, comprava títulos. Era o modo de transformar ausência em valor social, de converter déficit em legitimidade. Esse gesto fundante não morreu; ele se atualiza. Hoje, não compramos baronatos, mas compramos identidades: cursos de “propósito de vida”, diagnósticos que nos nomeiam, certificados digitais de sabedoria. O mecanismo é idêntico: a falta é transformada em mercadoria. Freud talvez sorrisse com cinismo ao reconhecer a operação. Em O mal-estar na civilização, mostrou que a a...

Escolixo: quando o Brasil ensina a não aprender

Escolixo: quando o Brasil ensina a não aprender Fonte: https://www.agazeta.com.br/educares/escolixo-termo-ganha-forca-nas-redes-sociais-e-acende-sinais-de-alerta-0825 O neologismo “escolixo” não nasceu para a academia — e talvez seja por isso que tenha se espalhado tão rápido. É tosco, imediato, memético. Uma palavra de bolso, perfeita para as timelines, carregada de uma crítica que não se pretende sofisticada: a escola é lixo. Mas o que poderia ser lido como mera irreverência adolescente se revela, no fundo, como sintoma de um paradoxo estrutural brasileiro: desvaloriza-se uma instituição que nunca foi plenamente valorizada, enquanto se sacraliza um ambiente — as redes sociais — que jamais teve compromisso algum com a formação crítica. O Brasil demorou para ter escola pública, universal e gratuita. A primeira lei que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino primário data do final do século XIX, mas foi pouco ou nada cumprida. Até meados do século XX, a maioria dos brasileir...

Inteligência artificial, infância artificial: o QI que interessa ao mercado

Inteligência artificial, infância artificial: o QI que interessa ao mercado Link original: https://oantagonista.com.br/ladooa/tecnologia/o-efeito-inesperado-do-videogame-no-qi-das-criancas-segundo-a-ciencia/ A curva do QI como índice de domesticabilidade cognitiva Uma manchete que afirma que "videogames aumentam o QI de crianças" parece, à primeira vista, um pequeno alívio no abismo de angústia que cerca o pânico moral das telas. Mas, como todo discurso científico que adquire popularidade nas redes sociais, ele precisa ser interrogado não só pelo que diz, mas principalmente pelo que não diz. Ao propor que o QI aumenta com o videogame, a matéria publicada pelo site  O Antagonista, baseada em um estudo da Karolinska Institutet com mais de 9 mil crianças nos EUA, revela mais sobre o estado da ciência contemporânea e sobre o modelo de infância que estamos fabricando do que sobre o potencial cognitivo real dos jogos digitais. Diz o estudo:  crianças que jogam mais vide...

O narcisismo do botão deletar

O narcisismo do botão deletar [Link original:   https://share.google/vBPIgruDfrVBeiNm7 ] Se tudo pode ser deletado com um clique, o que ainda merece ser vivido? Vivemos um presente onde os laços são frágeis como senhas esquecidas. A promessa da Regulação Europeia da IA — tratada como avanço civilizatório — talvez seja apenas mais uma performance de controle travestida de ética. A União Europeia começa a aplicar as novas regras do AI Act com pompa de salvadores iluministas, mas o que se vende como “transparência” pode ser só mais um teatro moral diante do abismo técnico que ninguém mais compreende. Não por acaso, a mesma UE que regulamenta a IA é cúmplice silenciosa de um capitalismo de vigilância que Shoshana Zuboff já havia denunciado: uma economia onde o dado é mais valioso que o desejo. Estamos diante de um paradoxo grotesco — fingimos que controlamos o algoritmo enquanto o algoritmo aprende a nos deletar melhor. A moral da governança digital é a mesma do mercado: ev...

A máquina sonha por nós. E nós dormimos em paz

A máquina sonha por nós. E nós dormimos em paz. Fonte: (Harari: Podemos ficar presos no sonho de uma IA - 03/08/2025 - Mercado - Folha https://share.google/u6jvCNFKhJuQGDAZ6) #maispertodaignorancia Enquanto Harari alerta para um possível aprisionamento no “sonho da inteligência artificial”, seguimos conectados e conformados. Não se trata de um pesadelo futuro — é um estado já vivido, domesticado, e, pior: desejado. O perigo não está na IA sonhar por nós, mas em não querermos mais acordar. O historiador israelense Yuval Harari — aquele que diz verdades banais com voz de oráculo — reaparece no noticiário com sua última epifania: podemos ficar presos no “sonho da IA”. Como se fosse um futuro. Como se ainda não estivéssemos flutuando nesse devaneio sintético, entre likes, diagnósticos automatizados e playlists de emoções pré-programadas. A “ameaça” de Harari é uma cortina de fumaça suave: denuncia o risco ao mesmo tempo em que legitima sua base. Pois para que a IA nos prenda, é...

Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia

Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia https://www.reuters.com/article/idUSL1N3S00TY Quando a ciência vira dívida e a dúvida vira angústia Ironia ; Você confiaria seu futuro a cientistas e a juros? A ciência emergindo como o último alento de um país exausto não alivia: ela agrava. Porque hoje ela não cura—ela dispara uma dívida. E com ela, a angústia de saber que nada se paga, apenas se enrola. I. Entre promessas técnicas e o peso da dívida Há pouco, o discurso heroico da tecnociência nacional chegou ao clímax retórico: “vamos ser autossuficientes, romper com a dependência intelectual global, labutar por satélites nacionais”. Porém, é óbvio que a retórica ignora a necessidade básica — escutar o sujeito que sofre. Enquanto isso, o Tesouro Nacional divulgou que a dívida pública federal subiu 1,44% em abril de 2025, encerrando o mês em, R$ 7,617 trilhões. Em apenas um mês, foram R $ 70 bilhões de juros incorporados ao estoque. Esse número não é abstr...

Proibir ou performar? O novo moralismo digital australiano

Proibir ou performar? O novo moralismo digital australiano Link original: https://share.google/vL1ImOBZ4iDJJXQ41 #maispertodaignorancia À primeira vista, a proposta australiana de banir adolescentes de redes sociais parece uma tentativa tardia de salvar um sujeito já em decomposição. Seria um gesto de cuidado, se não estivesse encharcado de controle. Seria uma política de proteção, se não soasse como mais uma performance de virtude neoliberal. Mas a história é outra. Segundo o projeto do governo de Victoria, jovens com menos de 16 anos só poderão acessar redes sociais mediante autorização parental comprovada por identificação digital. Parece razoável — afinal, quem não quer proteger “nossas crianças”? O problema é que essa retórica esconde um duplo movimento: o da terceirização da autoridade moral e o da intensificação do rastreamento identitário. Em nome da infância, instala-se mais um algoritmo de vigilância. Freud já nos alertava: onde há repressão, há retorno do recalca...

O monstro quer mudar de nome — e nós?

🩸 O monstro quer mudar de nome — e nós? Se a justiça esquece, quem lembrará? E se perdoamos, por que ainda trememos ao ver o rosto do esquecido? I. O perdão como deletar: a era dos arquivos morais Francisco de Assis Pereira quer mudar de nome. Como quem troca de CPF ou e-mail antigo. O “Maníaco do Parque”, que estuprou e matou mulheres em série no fim dos anos 1990, planeja sua “reinvenção” para 2028, quando poderá sair da prisão. Ele não deseja exatamente reabilitar-se — deseja, ao que tudo indica, desaparecer. Não se trata de um caso isolado de revisão penal. É um sintoma. E como todo sintoma, carrega mais do que quer confessar. No fundo, não é o criminoso que está mudando de nome. É o próprio pacto simbólico de memória que a sociedade atual parece querer editar, como se fosse um post com comentários desabilitados. A promessa de que “aquele Francisco não existe mais” se insere num imaginário contemporâneo moldado pela lógica da performance e da obsolescência. Andr...

Entre a Luz da Tela e o Peso do Pulso: ensaio teórico-existencial a partir de um “eu” que tropeça no próprio feed

Entre a Luz da Tela e o Peso do Pulso: ensaio teórico-existencial a partir de um “eu” que tropeça no próprio feed Resumo Redijo, em primeira pessoa, uma travessia reflexiva sobre a experiência de subjetivação na era da conectividade ubíqua.  Parto de minhas vivências no ciberespaço e as confronto com autores que mapearam o mal-estar moderno — Durkheim, Bauman, Han, Cioran, Kierkegaard, Camus e Botega — para problematizar a atual explosão de quadros psíquicos associados ao uso intensivo de IA conversacionais. Ao articular memórias, ironia e crítica bibliográfica, sustento que o fenômeno não constitui desvio pontual, mas sintoma de longos processos de liquefação das estruturas sociais, colonização do desejo por métricas e avanço de uma positividade tóxica.  O texto dialoga com o projeto #maispertodaignorancia, assumindo, pois, o risco do inacabado como método de investigação. Palavras-chave: subjetividade digital; mal-estar; psicose tecnológica; liquidez social; crít...