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A mostrar mensagens com a etiqueta angústia

Do título comprado à angústia vendida: genealogia da falta como mercadoria

Do título comprado à angústia vendida: genealogia da falta como mercadoria 🎧👉 Podcast Mais perto da Ignorância 👉📺👉 Assista em nosso canal O que a burguesia fez com os títulos de nobreza, o capitalismo contemporâneo faz com a subjetividade. Eis a linha histórica que raramente aparece nas análises rápidas sobre “mercantilização da filosofia”: o que se negocia não é apenas cultura, mas a própria falta. Na origem, a burguesia não tinha sangue azul, mas tinha dinheiro. Como não podia inventar linhagem, comprava títulos. Era o modo de transformar ausência em valor social, de converter déficit em legitimidade. Esse gesto fundante não morreu; ele se atualiza. Hoje, não compramos baronatos, mas compramos identidades: cursos de “propósito de vida”, diagnósticos que nos nomeiam, certificados digitais de sabedoria. O mecanismo é idêntico: a falta é transformada em mercadoria. Freud talvez sorrisse com cinismo ao reconhecer a operação. Em O mal-estar na civilização, mostrou que a a...

O fetiche do saber falso: quem lucra com a fraude acadêmica?

O fetiche do saber falso: quem lucra com a fraude acadêmica? Fonte original: https://share.google/Pl7vLi8FSUwupUeqb #maispertodaignorancia A produção industrial de papers científicos falsos não é um erro técnico. É um sintoma — e como todo sintoma, revela mais do que esconde: revela um sistema de prestígio acadêmico parasitado por métricas, um capitalismo cognitivo que substituiu o pensamento por produtividade e que, como ironizou Freud, parece ter trocado o inconsciente por um DOI. O que está em jogo aqui não é apenas a fraude. É a metamorfose do saber em performance, da verdade em algoritmo, do pensamento em moeda de troca. Segundo a matéria da Folha (07/08/2025), universidades vêm enfrentando um aumento exponencial de artigos gerados por empresas de “fábrica de papers”, com textos falsificados, coautorias vendidas e citações inventadas. A denúncia não é nova, mas o escândalo está normalizado — quase como um efeito colateral aceitável num ambiente onde o valor do conhecim...

O delírio do código aberto: quem pensa quando a máquina finge?

O delírio do código aberto: quem pensa quando a máquina finge? Fonte original: https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2025/08/05/openai-lanca-modelos-abertos-de-inteligencia-artificial-capazes-de-realizar-raciocinio-complexo.ghtml #maispertodaignorancia Texto crítico: A OpenAI acaba de abrir o cofre. Modelos “abertos” de inteligência artificial agora são capazes — diz o marketing — de realizar raciocínio complexo. A promessa não é nova: maquinar a razão como se ela pudesse ser exportada, empacotada e entregue em API. O inédito é o cinismo com que se simula transparência para o que continua sendo, estruturalmente, uma caixa-preta — só que agora open source. De onde vem essa ânsia por “raciocinar” maquinalmente? Seria ingenuidade supor que ela nasce do desejo humano de compreender mais. Ao contrário, como nos alerta Bauman em Em busca da política, vivemos a liquefação das decisões e a externalização das escolhas. A máquina não pensa por nós. Ela pensa em lugar d...

Um anônimo disse!

Narrativas Invisíveis do Colapso: Uma leitura psicobiossocial da performatividade emocional contemporânea Resumo: Este artigo propõe uma análise psicobiossocial crítica das construções narrativas associadas à patologização contemporânea do sofrimento, com base em uma entrevista concedida por um sujeito anônimo em mídia nacional. Sem identificar nomes próprios, buscamos tensionar o apagamento das dimensões biológicas, sociais e simbólicas que estruturam o adoecimento psíquico. Fundamentado nas obras de Freud, Kierkegaard, Bauman, Byung-Chul Han, Zuboff e documentos clínicos como o DSM-V e CID-11, o texto explora o paradoxo entre a vivência do colapso e sua estetização performática no discurso médico-midiático. Evidencia-se a carência de um modelo integrativo que contemple os dados clínicos e sociais em sua radical complexidade, sem reducionismos diagnósticos. Conclui-se com a necessidade de reinscrever o sofrimento para além da lógica classificatória, considerando o sujeito ...

Desligar a criança para poupar o adulto

Desligar a criança para poupar o adulto Fonte original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1wv79vzm5no #maispertodaignorancia “O que revela mais sobre nós: o tempo de tela das crianças ou o tempo que não temos para elas?” Aparentemente, é sobre tablets. Mas na superfície lisa das telas, refletimos não apenas o rosto das crianças, mas a abdicação adulta. A matéria da BBC News Brasil questiona, com razoável equilíbrio, se o tempo de exposição às telas afeta o cérebro infantil — porém, o que ela revela sem dizer é talvez mais incômodo: estamos desesperadamente querendo delegar à ciência uma resposta que nos exima do olhar. É sempre mais fácil medir o tempo do que sustentar a presença. E é nesse gesto — entre a vigilância digital e o abandono elegante — que revelamos o verdadeiro problema: não é que as telas causem o vazio, elas apenas o ocupam. I. O sintoma que culpamos: moral de tela e ausência de elaboração A ciência é cautelosa. Est...

E SE O DESESPERO FOR LÚCIDO? Uma cartografia da decomposição existencial em tempos de positividade tóxica

E SE O DESESPERO FOR LÚCIDO? Uma cartografia da decomposição existencial em tempos de positividade tóxica JOSÉ ANTÔNIO LUCINDO DA SILVA  26/06/2025 #maispertodaignorancia RESUMO Este trabalho propõe uma análise psicossocial crítica do suicídio enquanto sintoma de uma sociedade que liquefez suas estruturas, saturou o sujeito de desempenho e silenciou o desespero por meio de discursos anestésicos. A partir de pensadores como Émile Durkheim, Albert Camus, Emil Cioran, Søren Kierkegaard, Byung-Chul Han, Zygmunt Bauman e Neury Botega, a investigação percorre os paradoxos da vida contemporânea, onde a única questão filosófica que ainda resta talvez seja: por que continuar? O texto recusa qualquer apelo à autoajuda, abordando o suicídio como fenômeno social, ético e existencial — atravessado pela crise da alteridade, da linguagem e do tempo. Palavras-chave : desespero; crítica psicossocial; desempenho; existência; lucidez. 1. INTRODUÇÃO Vivemos um tempo em que tud...

ENTRE O ALGORITMO E A ANGÚSTIA: ENSAIO PSICOSSOCIAL SOBRE A ELABORAÇÃO IMPOSSÍVEL NA ERA DA REPETIÇÃO DIGITAL

ENTRE O ALGORITMO E A ANGÚSTIA: ENSAIO PSICOSSOCIAL SOBRE A ELABORAÇÃO IMPOSSÍVEL NA ERA DA REPETIÇÃO DIGITAL RESUMO: Este artigo propõe uma leitura psicossocial e crítica do sujeito contemporâneo a partir de sua imersão na discursividade mediada por algoritmos. Com base na teoria freudiana — especialmente a tríade repetir, recordar e elaborar — investiga-se como o ambiente digital, estruturado pela lógica da repetição performática e pela economia da atenção, impede a elaboração subjetiva. O texto articula autores como Freud, Fédida, Byung-Chul Han, Cioran, Zuboff e Pondé, argumentando que a constante exposição do eu em redes mediáticas cria uma estética do ressentimento que bloqueia a elaboração psíquica. Ao analisar o funcionamento algorítmico como estrutura de poder e repetição simbólica, discute-se como o sujeito passa a repetir sem recordar e recordar sem elaborar, produzindo laços frágeis, depressividades performáticas e um mal-estar que não encontra elaboração, m...

Scroll, logo padeço: anatomia da onipotência de bolso

Scroll, logo padeço: anatomia da onipotência de bolso Sentiu o feed ficar pesado? Aperta o fone e mergulha na autópsia da dopamina de bolso: ansiedade campeã, likes quebradiços, o “eu soberano” live do banheiro e zero autoajuda. ▶️ Ouça agora no Spotify: Quase todo brasileiro que conheço — eu inclusive — já acorda com o polegar em posição de oração, deslizando a tela como quem busca redenção. São 3 h 42 min por dia entregues às redes, segundo o TIC Domicílios 2024 . Enquanto isso, 18,6 milhões de compatriotas carregam diagnóstico de ansiedade, liderança mundial proclamada pela OMS . Dizem que o dado é científico, mas o sintoma é caseiro: sentado no banheiro-suíte, proclamo onipresença entre azulejos frios. Do atalho pulsional ao feed dopaminérgico Freud avisou que o corpo adora atalhos e que o recalque exige fila. Hoje a timeline aboliu a espera, servindo dopamina em conta-gotas fluorescentes — a cada like, uma micro-dose de anestesia simbólica. Estudos com adolescentes lig...

TDAH: o novo vilão da performance ou mais um diagnóstico para calar a angústia?

TDAH: o novo vilão da performance ou mais um diagnóstico para calar a angústia? Fonte Citada TDAH: o novo vilão da performance ou mais um diagnóstico para calar a angústia? Resumo O presente artigo discute criticamente a midiatização do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) à luz do discurso psicossocial contemporâneo. Partindo da análise do material publicado pelo Estado de Minas (2025), reflete-se sobre como a retórica “gentil” de desconstrução de mitos pode ocultar a captura do sofrimento psíquico por uma lógica performática. Referenciais teóricos como Freud, Fédida, Bauman, Han, Green e Cioran sustentam a crítica à normatização diagnóstica e à funcionalidade subjetiva exigida no neoliberalismo de si. O texto se inscreve na proposta do projeto Mais Perto da Ignorância, buscando reencenar a dúvida como virtude e o desespero como condição epistêmica. Palavras-chave: TDAH; subjetividade; performance; diagnóstico; discurso. --- A ilusão do esclarecimento: ...

A República dos Divãs Vazios: oito ameaças ao cérebro num país que forma psicólogos em série e adoece em massa

A República dos Divãs Vazios: oito ameaças ao cérebro num país que forma psicólogos em série e adoece em massa Autor: José Antônio Lucindo  #maispertodaignorancia 24/06/2025 O Brasil exibe o maior exército de psicólogos do planeta — mais de 553 000 registrados — e, paradoxalmente, ostenta a pior taxa mundial de ansiedade (9,3 %) e uma das mais altas de depressão (prevalência vitalícia de 15,5 %). Essa contradição ganha relevo quando confrontada com a lista de oito fatores de risco cerebrais divulgada pelo Estadão : tela, insônia, álcool, tabaco, dieta ultraprocessada, sedentarismo, isolamento social e baixa escolaridade. A engrenagem pós-moderna brasileira acelera todos esses gatilhos, enquanto o cuidado psicológico continua concentrado em capitais, subfinanciado no SUS e orientado para o mercado privado, deixando grande parte da população sem acesso. 1. Oito gatilhos, um país conectado ao estresse Brasileiros passam em média 9 h 32 min por dia diante de telas, segu...