ENTRE O ALGORITMO E A ANGÚSTIA: ENSAIO PSICOSSOCIAL SOBRE A ELABORAÇÃO IMPOSSÍVEL NA ERA DA REPETIÇÃO DIGITAL
ENTRE O ALGORITMO E A ANGÚSTIA: ENSAIO PSICOSSOCIAL SOBRE A ELABORAÇÃO IMPOSSÍVEL NA ERA DA REPETIÇÃO DIGITAL
RESUMO: Este artigo propõe uma leitura psicossocial e crítica do sujeito
contemporâneo a partir de sua imersão na discursividade mediada por algoritmos.
Com base na teoria freudiana — especialmente a tríade repetir, recordar e
elaborar — investiga-se como o ambiente digital, estruturado pela lógica da
repetição performática e pela economia da atenção, impede a elaboração
subjetiva. O texto articula autores como Freud, Fédida, Byung-Chul Han, Cioran,
Zuboff e Pondé, argumentando que a constante exposição do eu em redes
mediáticas cria uma estética do ressentimento que bloqueia a elaboração
psíquica. Ao analisar o funcionamento algorítmico como estrutura de poder e
repetição simbólica, discute-se como o sujeito passa a repetir sem recordar e
recordar sem elaborar, produzindo laços frágeis, depressividades performáticas
e um mal-estar que não encontra elaboração, mas apenas looping.
Palavras-chave: discursividade digital, psicanálise, repetição,
ressentimento, elaboração, mal-estar, algoritmo, subjetividade.
ABSTRACT: This article offers a psychosocial and critical reading of the
contemporary subject immersed in algorithmically mediated discursivity. Drawing
from Freudian theory — especially the triad repetition, recollection, and
elaboration — it investigates how the digital environment, structured by
performative repetition and attention economy, blocks subjective elaboration.
The text engages thinkers such as Freud, Fédida, Byung-Chul Han, Cioran,
Zuboff, and Pondé, arguing that the constant exposure of the self in media
networks creates an aesthetic of resentment that prevents psychic
transformation. By analyzing algorithmic functioning as a power structure and
symbolic repetition, the article explores how the subject repeats without
recollecting and recollects without elaborating, generating fragile bonds,
performative depression, and an unprocessed malaise that loops endlessly.
INTRODUÇÃO Vivemos sob o império do espelho. Um espelho que não reflete mais
o rosto, mas a performance do rosto. Um espelho que não revela, mas monetiza. A
cada postagem, a cada curtida, o sujeito é lançado numa repetição que simula
expressão, mas mascara alienação. A psicanálise — tão antiga quanto moderna —
nos ensinou que para haver cura, ou ao menos elaboração, é preciso repetir,
recordar e elaborar. Mas nas redes, repete-se o trauma sem recordação,
recorda-se a ausência sem sentido, e o algoritmo transforma a angústia em dado.
Este artigo é, antes de tudo, um esforço de escuta. Escutar o que o algoritmo não ouve. Escutar o silêncio entre um story e outro. Escutar o eco do eu que não suporta mais ser apenas um dado performado. Sustento que a lógica digital impede a elaboração subjetiva. Não por ausência de dados, mas por excesso de repetição.
A subjetividade colapsa diante da presença incessante de
si mesma, promovida pela rede. Ao invés de síntese, temos looping. Ao invés de
historicidade, feed. Ao invés de sujeito, perfil. É nesse abismo que este texto
se lança.
1.
A Máquina de Repetir: o inconsciente em
modo automático
- Freud e o conceito de
repetição
- A reconfiguração do
recalque no digital
- Da repetição simbólica
ao loop performático
2.
Recordar sem Corpo: memória algorítmica
e historicidade ausente
- As memórias programadas
e o Facebook como inconsciente exógeno
- O tempo vivido
substituído pela notificação
3.
Elaboração e sua Impossibilidade: Fédida
e o luto digital
- A depressividade sem
pausa
- Luto performático e a
impossibilidade de perda
4.
Economia da Atenção e Narcisismo de
Morte
- Byung-Chul Han e a
sociedade do desempenho
- André Green e o colapso
da alteridade
- O eu que só aparece
quando visto
5.
Estrutura de Poder Algorítmica: entre
Zuboff e Foucault
- A topologia do dado e a
vigilância simbólica
- Likes como instâncias de validação moral
6.
O Vazio como Condição: Cioran,
Kierkegaard e o desespero funcional
- O direito de não
performar
- A estética da
desistência
7.
Para além do Engajamento: pensar como
hesitação
- Tabela dos níveis de
pensamento
- Heidegger e o
pensamento meditativo
- Encerramento sem
fechamento: o convite à não-elaboração como gesto ético
REFERÊNCIAS:
- FREUD, Sigmund.
Recordar, repetir e elaborar. Obras completas.
- FÉDIDA, Pierre. O luto e
a criação.
- HAN, Byung-Chul.
Sociedade do cansaço; A expulsão do outro; No enxame.
- GREEN, André. Narcisismo
de vida, narcisismo de morte.
- CIORAN, Emil. Breviário de decomposição; O livro das ilusões.
- PONDÉ, Luiz Felipe. A
era do ressentimento.
- ZUBOFF, Shoshana. A era
do capitalismo de vigilância.
- FOUCAULT, Michel.
Microfísica do poder.
- KIERKEGAARD, Søren. O
conceito de angústia.
- HEIDEGGER, Martin.
Serenidade.
Nota sobre o autor:
José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP
06/172551), pesquisador independente, autor do projeto “Mais perto da
ignorância”, dedicado a analisar a cultura digital sob lentes psicanalíticas,
niilistas e existencialistas. Criador do blog e pesquisador independente no
Blog “Mais Perto da Ignorância”.
#maispertodaignorancia
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