ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede
ALGORITMO, TARIFA E OUTRAS PALAVRAS QUE NÃO PAGAM O BOLETO: psicodinâmica, sociologia e materialidade do controle em rede
Resumo
Escrevo do limbo entre duas pancadas: um tarifaço de 50 % que Donald Trump jura aplicar ao café que você ainda não pagou e a maioria do STF que promete destruir o Art. 19 do Marco Civil – aquele fiapo jurídico que impede o moderador amaldiçoado de remover seu meme sem ordem judicial. Chamam ambos de proteção. Proteção de quem? A conta não fecha: renúncia fiscal prevista de R$ 3,2 bi/ano, custo judicial extra de R$ 777 mi (2025‑29) e 60 % da população que só conhece a internet pelo 4 G do plano pré‑pago. Entre Freud, Marx, Bauman, Han, Zuboff e O’Neil, mostro que a retórica salvacionista gera lucro para algorítmicos e bode expiatório para jovens adultos famintos de banda e futuro.
Palavras‑chave: Art. 19; tarifa; vigilância algorítmica; juventude conectada; materialidade.
Abstract
This paper dissects Brazil’s simultaneous clash with a 50 % US tariff and the Supreme Court’s crusade against Article 19. Using psychoanalytic mass theory, liquid modernity and data‑capitalism critique, it argues that both moves, framed as public protection, hide regressive fiscal transfers and amplified inequality in a country where 60 % rely solely on prepaid mobile data. Salvation is clickbait; control, the real commodity.
Keywords: Article 19; tariff; algorithmic control; young adults.
1 | Introdução
Role a tela: Trump rosna impostos, Moraes empunha banhammer digital, Janja elogia o firewall chinês. Prometem segurança. Segurança exige banda, renda, livro. Temos latência, boleto e FIES atrasado. Este texto — meio ensaio, meio ata de indignação — investiga o abismo entre discurso e víscera: como decisões “protetoras” redistribuem riqueza para cima e controle para dentro, deixando jovens adultos no lugar de sempre — a fila.
2 | Referencial teórico
2.1 Freud hipnotizado — massa entrega superego ao feed (FREUD, 1921).
2.2 Bauman derretido — instituições sólidas viram fluxo (BAUMAN, 2000).
2.3 Han sem enredo — crise da narração em 280 caracteres (HAN, 2018).
2.4 Marx pixelado — mais‑valor agora é metadado (MARX, 1867).
2.5 Zuboff no porão — capitalismo de vigilância monetiza respiro (ZUBOFF, 2019).
2.6 O’Neil armada — ADMs: opacas, escaláveis, lesivas (O’NEIL, 2020).
3 | Método
Revisão narrativa integrativa (TORRES, 2019) em bases públicas (ComexStat, IBGE, RegLab) e leitura crítica de mídia. Foco: impactos a jovens de 18‑35 anos. Ferramenta epistemológica: ironia metódica.
4 | Resultados e discussão
4.1 Tarifa ou taco de beisebol? — EUA compram 12,2 % das exportações (ICOMEX, 2025); 42 % do suco de laranja de Orlando é nosso. Tarifa derruba renda citrícola.
4.2 STF e a fatura invisível — 754 mil ações extras, R$ 777 mi drenados do Tesouro (REGLAB, 2025): dinheiro que pagaria 3 600 antenas 4 G.
4.3 Algoritmo como porrete — ADMs de crédito confundem CEP com caráter; falso‑positivo atinge 12 % em PT‑BR.
4.4 Desoneração que sobe a serra — suspensão de PIS/Cofins (R$ 3,2 bi/ano) favorece quem já exporta; o estagiário continua sem VT.
4.5 Letramento, banda, silêncio — 29 % analfabetos funcionais (INAF, 2023); 78 % das casas rurais sem banda significativa (CETIC, 2024). Recurso em 24 h? Boa sorte.
4.6 Legitimidade líquida — TV dedica minutos ao drama, segundos ao custo; a indignação rende ibope, a planilha não.
5 | Propostas
1. Avaliação de Impacto Algorítmico obrigatória.
2. Escalonamento: start‑ups < R$ 20 mi fora da jaula das big techs.
3. Fundo Banda + Letramento financiado com economia de processos.
4. Transparência tarifária: publiquem a planilha, Excel também aceita vergonha.
6 | Conclusão
Chamam de proteção; entregam ansiedade. O algoritmo filtra, Trump tarifa, STF processa. Sobra o jovem adulto, contando gigas. Se a esperança é bug, a dúvida é feature: quantas antenas custam um processo? Até lá seguimos mais perto da ignorância — e rindo.
Referências:
ABECITRUS. Relatório estatístico 2025. São Paulo, 2025.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
CETIC. TIC Domicílios 2024. São Paulo: CGI.br, 2024. Disponível em: <https://cetic.br/>. Acesso em: 29 jul. 2025.
FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1921.
HAN, Byung‑Chul. A crise da narração. Petrópolis: Vozes, 2018.
ICOMEX. Boletim de comércio exterior – 1.º sem. 2025. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2025.
INAF. Indicador de Analfabetismo Funcional 2023.
São Paulo: Instituto Paulo Montenegro, 2023.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.
O’NEIL, Cathy. Algoritmos de destruição em massa. São Paulo: Cultrix, 2020.
REGLAB. Impacto econômico‑jurídico da derrubada do art. 19.
Brasília: UnB, 2025.
TORRES, Felipe.
Metodologia de revisão narrativa. Revista de Ciências Sociais, v. 52, n. 2, p. 41‑58, 2019.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.
Portal G1. STF forma maioria para invalidar art. 19. 26 jun. 2025. <https://g1.globo.com/>.
Valor Econômico. Governo estuda suspender PIS/Cofins para exportadores. 28 jul. 2025.
Nota sobre o autor:
José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP 06/172551), pesquisador independente, autor do projeto “Mais Perto da Ignorância”, dedicado a analisar a cultura digital sob lentes psicanalíticas, niilistas e existencialistas. Criador do blog e pesquisador independente no blog “Mais Perto da Ignorância”.
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