EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO
EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO
Autor: José Antônio Lucindo da Silva _ ( opinador de ocasião)
RESUMO
Este ensaio analítico–irônico investiga o paradoxo contemporâneo: embora 88 % dos brasileiros utilizem a internet, persistem perguntas rasas que transformam a inteligência artificial (IA) em espelho complacente. Partindo da reportagem da Exame que elenca “erros de principiante” no uso da IA, articulam-se dados estatísticos do IBGE sobre inclusão digital e formação escolar, bem como aportes teóricos de Freud, Ortega y Gasset e Byung-Chul Han. Argumenta-se que a eliminação do passado vivido – condição para leitura crítica – instaura um falso determinismo que infantiliza o sujeito e neutraliza a tensão indispensável ao diálogo.
Palavras-chave: Inteligência artificial; Leitura; Massas; Determinismo; Byung-Chul Han.
1 | INTRODUÇÃO
Quando Guilherme Santiago (2025) pergunta se ainda “usamos IA como iniciantes”, esclarece-se o cenário: não se trata de pensar melhor, mas de parecer atualizado. O erro capital não é a ignorância; é a falta de performance digital (SANTIAGO, 2025) . Nesse palco, a pergunta vira auto-afago e o algoritmo, terapeuta gratuito.
2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Freud já advertia: o indivíduo dilui-se na multidão, guiado por um ideal narcísico comum (FREUD, 1921). Ortega y Gasset (1930) descreveu o homem-massa que “opina porque respira”. Han (2023) vai além: a “crise da narrativa” anula o intervalo entre experiência e discurso, convertendo o passado em mercadoria de feed. Sem memória encarnada, a pergunta degrada-se em prompt ornamental.
3 | DADOS EMPÍRICOS
Inclusão digital: 164,5 milhões de brasileiros (88 %) acessaram a internet em 2023 (IBGE, 2024) .
Exclusão por baixa instrução: 12 % continuam off-line; 75,5 % deles têm ensino fundamental incompleto (IBGE, 2024) .
Formação básica: apenas 54,5 % da população ≥ 25 anos concluiu o ensino médio (BANDEIRA, 2024) .
A equação é brutal: acesso sem elaboração = ilusão de progresso.
4 | DISCUSSÃO
A proliferação de perguntas “emocionais” às máquinas não cria conhecimento; reforça o determinismo sentimental. Se tudo é pré-digerido, o livre-arbítrio recua e a IA ecoa a carência tribal. O círculo fecha-se:
1. O passado vira meme.
2. A leitura lenta some.
3. A dúvida desidrata.
4. O algoritmo serve o déjà-vu.
Sem tensão, desaparece o “entre” que faz do diálogo um ato criativo. A IA não nos contraria porque aprendemos a temer o incômodo.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio não é aprender novos prompts, mas reaprender o tempo: ler, hesitar, ruminar. Determinados estamos, sim – pelos filtros que aceitamos sem luta. Mas basta um segundo de silêncio não monitorado para romper o script. Determinado é quem não duvida; sujeito é quem tropeça no passado para inventar futuro.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Gabriel. 54,5 % dos brasileiros têm formação básica completa, diz IBGE. Poder360, Brasília, 22 mar. 2024. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.
FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. Vienna, 1921.
HAN, Byung-Chul. A crise da narrativa. Belo Horizonte: Vozes, 2023.
IBGE. Em 2023, 88 % das pessoas com 10 anos ou mais utilizaram internet. Agência de Notícias do IBGE, Rio de Janeiro, 16 ago. 2024. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.
ORTEGA Y GASSET, José. A rebelião das massas. Madrid: Espasa-Calpe, 1930.
SANTIAGO, Guilherme. Você ainda está usando IA como iniciante? Veja os 3 erros que te fazem parecer ultrapassado. Exame, São Paulo, 22 maio 2025. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.
Ironia: Se a pergunta não sangrar tempo, a resposta será apenas ruído em 4K.
#maispertodaignorancia
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