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EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO

EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO Autor: José Antônio Lucindo da Silva _ ( opinador de ocasião) RESUMO Este ensaio analítico–irônico investiga o paradoxo contemporâneo: embora 88 % dos brasileiros utilizem a internet, persistem perguntas rasas que transformam a inteligência artificial (IA) em espelho complacente. Partindo da reportagem da Exame que elenca “erros de principiante” no uso da IA, articulam-se dados estatísticos do IBGE sobre inclusão digital e formação escolar, bem como aportes teóricos de Freud, Ortega y Gasset e Byung-Chul Han. Argumenta-se que a eliminação do passado vivido – condição para leitura crítica – instaura um falso determinismo que infantiliza o sujeito e neutraliza a tensão indispensável ao diálogo. Palavras-chave: Inteligência artificial; Leitura; Massas; Determinismo; Byung-Chul Han. 1 | INTRODUÇÃO Quando Guilherme Santiago (2025) pergunta se ainda “usamos IA como inici...

Felicidade em horário comercial: o tempo livre virou planilha

Felicidade em horário comercial: o tempo livre virou planilha #maispertodaignorancia Uma recente matéria publicada pela Tribuna de Minas estampa, sem pudor, aquilo que a pós-modernidade se esforça tanto para não dizer em voz alta: a felicidade virou um produto com manual de instruções e tempo mínimo de uso. Segundo a ciência — sempre ela, convocada como oráculo contemporâneo — precisamos de cerca de 2 a 5 horas de tempo livre por dia para sermos felizes. Eis a fórmula mágica: um pouco de ócio, um pouco de prazer e nenhuma angústia. Simples, né? Só que não. Referência da matéria:  https://tribunademinas.com.br/colunas/maistendencias/ciencia-descobre-o-tempo-livre-necessario-para-ter-felicidade/ A ironia é gritante: estamos tão desesperados por bem-estar que até o descanso precisa ser cronometrado, mensurado e justificado. Já não basta descansar — é preciso descansar direito. O ócio virou KPI emocional. Se você não performa sua felicidade nas redes sociais, talvez nem est...

Manual básico para fracassar com elegância (e barriga cheia)

Manual básico para fracassar com elegância (e barriga cheia) #maispertodaignorancia Eu, que mal digeri o café da manhã, vejo a timeline oferecer doses homeopáticas de Marco Aurélio em carrossel motivacional. Dizem que o imperador escrevia cartas para si mesmo; hoje, as cartas viram posts patrocinados e, ironicamente, arrebanham curtidas como se fossem as legiões do Danúbio. O estoicismo virou Fidget Spinner filosófico: gira, brilha, distrai – mas não preenche o estômago. Mediocridade original versus mediocridade gourmet Os estoicos chamavam mediocritas de “virtude do meio”. Nada de ostentar glória nem de cultivar miséria: apenas sustentar o corpo e domar o desejo. Fast-forward para 2025, e “mediocre” é xingamento que coach usa para vender upgrade de performance. A verdadeira mediocridade – aquela que aceita limites sem fazer drama – foi banida; no lugar, nasceu a “mediocridade premium”: KPI de felicidade, feed impecável, mas alma em regime de open bar de ansiedade. Visibili...

Presente pleno, desejo morto: quando viver o agora é só mais uma forma de morrer capitalizável

Fonte do Argumento Ou Assista em Nosso Canal - @maispertodaignorancia Presente pleno, desejo morto: quando viver o agora é só mais uma forma de morrer capitalizável #maispertodaignorancia Eu acordei com uma missão clara: esquecer quem eu fui, ignorar o que vivi e sorrir para o agora — de preferência em 1080p, com filtro de plenitude e um café coado sem traumas. Afinal, me disseram que o passado atrasa, que lembrar dói e que viver o agora é tendência. Não me explicaram, no entanto, que essa plenitude do presente vem com preço: o do apagamento simbólico, da memória, do desejo. O Estado de Minas publicou recentemente um artigo com título quase terapêutico: “Conheça hábitos para esquecer o passado e começar a viver o agora de forma plena”. Como se a vida fosse uma planilha de Excel emocional, onde bastaria deletar células problemáticas para alcançar a fórmula da felicidade. Mas, como dizia Kierkegaard, a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás — e, irônico ou não, é ...

Doce de leite & fel de algoritmo: autobiografia apócrifa de um indignado em alta definição

Fonte do Argumento Doce de leite & fel de algoritmo: autobiografia apócrifa de um indignado em alta definição #maispertodaignorancia Eu confesso: não foi o preço que me feriu, foi o centavo simbólico que atravessou minha aura gourmetizada de virtude. Bastava chamar o PROCON, mas preferi virar mártir em 1080 p: publiquei a indignação, ganhei curtidas, perdi o fio. Ressentimento em potes de 250 g — zero lactose, zero pudor. A timeline, claro, agradeceu. Transformou meu pequeno espirro econômico numa tempestade moral: o gerente virou anticristo; eu, santo em standby; o público, juízes terceirizados por salário emocional. Nietzsche piscou do túmulo e sussurrou: “Bem-vindo à fábrica de virtudes ressentidas — pague com seu like.” Fiz fila. Eis a ironia: reclamei do Diabo da internet vestindo batina de Wi-Fi. Agostinho diria “Não te disperses lá fora”, mas o feed é mais quente que o deserto de Davi. Aqui, cada pixel de indignação rende juros compostos em dopamina. Quanto vale ...

Entre o feed e o fim: por que narrar já não nos salva (mas morrer ainda funciona)

Entre o feed e o fim: por que narrar já não nos salva (mas morrer ainda funciona) #maispertodaignorancia Eu escrevo no singular — mas que sujeito, afinal, ainda cabe nessa primeira pessoa? No Brasil de hoje, onde pouco mais de 27 % da população sabe manejar o labirinto digital, o “eu” virou efeito especial de um palco que só a minoria ilumina. O resto é plateia estatística: assiste, sofre, mas não edita o roteiro. 1. Narração-vitrine Walter Benjamin choraria pixels: a narrativa que unia pessoas ao redor do fogo foi trocada por um ring-light que lança sombras sobre quem não tem Wi-Fi. Histórias já não criam comunidade; criam funnel. O herói da jornada agora vende mentoria em doze vezes sem juros. 2. Especialista-influencer & o politicamente (in)correto O saber técnico virou merchandising de si mesmo. Se o algoritmo premia repetições confortáveis e pune dissonâncias, o “especialista” aprende a sorrir para o feed enquanto mutila a própria crítica. Contradição? Item fora de...

Entre o Eu, o Algoritmo e a Morte: ensaio sobre a não-narrativa do sujeito digital

Fonte da Opinião Entre o Eu, o Algoritmo e a Morte: ensaio sobre a não-narrativa do sujeito digital #maispertodaignorancia Resumo: Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre o colapso da subjetividade na contemporaneidade, tendo como eixo central a tensão entre o "eu" performático das redes digitais, o poder algorítmico de vigilância e predição, e a negação simbólica da morte. Partindo das obras de Byung-Chul Han, Elisabeth Roudinesco, Shoshana Zuboff, Cathy O'Neil e Ernest Becker, problematiza-se a condição do sujeito como produto de dados, a substituição da escuta simbólica por modelos preditivos e a mercantilização do trauma e do desejo. O artigo, em tom irônico e reflexivo, tensiona a ilusão de soberania identitária com a inevitável finitude que a cultura contemporânea insiste em ignorar. Palavras-chave: subjetividade; algoritmos; identidade; vigilância; morte; discurso digital. 1. Introdução O que resta do sujeito quando até seu sofrimento pode ser con...