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A Íris da Vigilância: Entre a Individualidade e o Paradoxo do Controle

A Íris da Vigilância: Entre a Individualidade e o Paradoxo do Controle Quando penso na coleta biométrica da íris, promovida por projetos como o Worldcoin, sou imediatamente tomado por um sentimento de ceticismo e fascínio. Esse tipo de tecnologia toca em algo profundo, uma tensão entre vigilância e individualidade que parece espelhar as contradições da nossa própria existência. Ao entregar algo tão único e imutável como a íris, eu sou reconhecido como um indivíduo em meio a bilhões de iguais, mas, paradoxalmente, me torno apenas mais um dado preso dentro de um sistema global de vigilância. Refletindo sobre isso, percebo como os olhos, há muito chamados de "espelhos da alma" no senso comum, tornaram-se símbolos apropriados pela tecnologia. Poetas e filósofos sempre apontaram o olhar como algo que reflete a essência humana, nossa subjetividade mais íntima. E parece que a tecnologia compreendeu muito bem essa metáfora. Ao utilizar a íris como ponto central de identid...

Política, Tecnologia e a Ilusão Democrática: Entre o Discurso e o Algoritmo - Segunda parte

Ah, meus caros leitores, vejam só onde estamos. Sentados em nossas cadeiras, milhares de quilômetros de distância de onde tudo acontece, observando a política americana como quem assiste a um espetáculo distante. A posse de Trump, aquele momento repleto de simbolismo político, com os barões das Big Techs como figurantes de luxo. Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Elon Musk, Sundar Pichai, todos ali, compondo uma fotografia que transcende a mera formalidade. O que vemos nessa imagem? Apenas uma reunião de bilionários? Ou talvez algo mais profundo: o casamento da política com a técnica? Essa aliança, meus amigos, não é nova. A história nos oferece inúmeros exemplos de como a técnica foi instrumentalizada pela política. Edwin Black, em IBM e o Holocausto, nos lembra como a Alemanha nazista utilizou máquinas tabuladoras para organizar o extermínio de judeus com eficiência assustadora. Zygmunt Bauman, em Modernidade e Holocausto, aprofunda essa discussão, apontando que a racionalidade...

Big Techs, Poder Político e Controle Social: Um Perigoso Bromance

A notícia publicada pela BBC Brasil, que destaca a aproximação entre os líderes das big techs e o presidente Donald Trump em sua posse, nos conduz a uma reflexão necessária sobre os limites éticos dessa aliança entre tecnologia e política. ( Link para a notícia ). Ao observar figuras como Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Elon Musk e Sundar Pichai ocupando assentos de destaque em um evento político como esse, não é possível ignorar as implicações desse gesto. O que, à primeira vista, pode parecer uma tentativa de proteger interesses econômicos e tecnológicos, revela uma dinâmica preocupante de consolidação de poder entre o setor privado e o governo. Essa aliança ultrapassa questões mercantilistas; é uma questão de controle social e político. Lembro aqui a análise de Edwin Black em IBM e o Holocausto, onde o autor expõe como tecnologias da época foram instrumentalizadas pelo regime nazista para perseguir e exterminar judeus de forma sistemática. O uso das máquinas da IBM, que permitiram c...

Amor: O Fogo Que Arde Sem Se Ver

Amor: O Fogo Que Arde Sem Se Ver Ao despertar nas manhãs de ontem e hoje, veio-me uma compreensão inquietante sobre como as relações se formam no contexto de nossas vidas atuais. Afinal, só podemos falar daquilo que vivemos ou estamos vivendo. As vidas passadas ficaram no passado, enquanto as vidas não vividas assombram-nos como fantasmas discursivos e mediáticos. Contudo, a vida que importa é a que pulsa aqui e agora, nesse exato instante. E se possível, é fundamental lembrar disso, não como forma de desespero, mas como libertação. No mar revolto chamado vida, mesmo em meio às nossas incessantes buscas por identidade ou um papel existencial, muitas vezes somos deixados vazios. Sentir — verdadeiramente sentir — parece estar cada vez mais raro. E talvez nada traduza isso com tanta profundidade quanto o amor, esse sentimento tão antigo quanto a própria humanidade. O amor, esse velho conhecido, é tido como garantidor de alegrias, felicidade e plenitude. Mas, se olharmos com mais cuidad...

O Corotinho e a Filosofia de Fila de Mercearia

O Corotinho e a Filosofia de Fila de Mercearia Era uma manhã como outra qualquer, dessas que começam com café ralo e poucas expectativas. Por volta das 8h30, resolvi ir até a mercearia do bairro comprar pão e leite. Um desjejum simples, porque a vida também é assim, básica e direta. Ao entrar na mercearia, dei de cara com um personagem da realidade: um homem, visivelmente debilitado materialmente. Ou, como diria o politicamente incorreto de décadas passadas, um mendigo. Reconheci o rosto. Já o tinha visto por ali outras vezes, mas nunca nos cumprimentamos. Ele me abordou com a honestidade que só quem não tem mais nada pode ter: pediu dinheiro. Respondi que só usava cartão. Mas, como estava ali mesmo, perguntei: — O que você quer? Pode falar. Sem hesitar, ele disse: — Compra um corotinho de cachaça pra mim. Parei por um segundo. Qualquer moralista vacilaria, mas a minha moral é prática. Se a vida dele já era um trem descarrilado, quem sou eu para me opor à ilusão da bebida? ...

Crônica de uma Catástrofe Anunciada: O Clima já Deu sua Cota

Já não é de hoje que discutimos a iminência de uma catástrofe climática. Desde a ECO-92, passando pelo Acordo de Paris, e chegando ao relatório recente que aponta uma contração de 50% do PIB global até 2090 por conta da crise ambiental, parece que vivemos uma versão global de Crônica de uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez. Sabemos o que vai acontecer, as evidências estão diante de nós, mas seguimos confortavelmente ignorantes, trancados em salas climatizadas, fingindo que o problema ainda é uma questão de futuro. O abismo não está chegando; estamos nele, só que de olhos vendados. O Clima já Desistiu de Nós A ironia disso tudo é que os alertas são cada vez mais frequentes, mas a resposta global é uma chuva de discursos tão ineficazes quanto previsíveis. Um exemplo clássico: segundo o relatório divulgado pelo Institute and Faculty of Actuaries (IFoA), sem medidas urgentes, o mundo enfrentará uma "insolvência planetária" nas próximas décadas. Entre as prev...

A Violência Mediática: Reflexo, Amplificação ou Outra Realidade?

Introdução A violência sempre fez parte da história humana, sendo registrada em guerras, revoluções e atos de governos que decidiram varrer culturas inteiras da existência. Porém, o advento das tecnologias digitais e das redes sociais trouxe uma nova perspectiva: a possibilidade de testemunhar e divulgar atos violentos em tempo real. Isso nos leva a questionar se estamos realmente enfrentando uma explosão inédita de violência ou apenas ampliando a percepção do que sempre existiu. Neste texto, busco abordar a violência material e discursiva, analisando como a interconexão tecnológica e a materialidade de nossa existência moldam esse fenômeno. 1. A Violência no Meio Digital A presença de smartphones e câmeras permitiu que a violência, antes restrita ao contexto local ou à cobertura midiática tradicional, fosse compartilhada globalmente. Essa exposição gera duas perguntas fundamentais: 1. A violência aumentou ou apenas se tornou mais visível? 2. A obsessão pela "verdade d...