Ah, meus caros leitores, vejam só onde estamos. Sentados em nossas cadeiras, milhares de quilômetros de distância de onde tudo acontece, observando a política americana como quem assiste a um espetáculo distante. A posse de Trump, aquele momento repleto de simbolismo político, com os barões das Big Techs como figurantes de luxo. Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Elon Musk, Sundar Pichai, todos ali, compondo uma fotografia que transcende a mera formalidade. O que vemos nessa imagem? Apenas uma reunião de bilionários? Ou talvez algo mais profundo: o casamento da política com a técnica?
Essa aliança, meus amigos, não é nova. A história nos oferece inúmeros exemplos de como a técnica foi instrumentalizada pela política. Edwin Black, em IBM e o Holocausto, nos lembra como a Alemanha nazista utilizou máquinas tabuladoras para organizar o extermínio de judeus com eficiência assustadora. Zygmunt Bauman, em Modernidade e Holocausto, aprofunda essa discussão, apontando que a racionalidade moderna transformou a destruição em um processo mecânico e impessoal. Cada rotação de uma válvula, cada cálculo de gás necessário para matar de forma "eficiente", tudo isso fazia parte de um sistema onde a técnica e a política se encontraram para eliminar o outro.
E agora, aqui estamos, em um mundo onde algoritmos e Big Techs dominam o cenário. Não se enganem, meus caros, a lógica é a mesma. Hoje, os algoritmos não movem válvulas, mas determinam quem é visto, quem é ouvido e, em última instância, quem importa. Como Yuval Noah Harari nos alerta em 21 Lições para o Século 21, estamos entrando em uma era onde as pessoas que não têm utilidade no mercado consumidor são marginalizadas, substituídas por máquinas que não erram, não questionam e, claro, não protestam.
Mas vamos voltar àquela fotografia. Trump, sorrindo entre os gigantes tecnológicos, é uma imagem que nos força a refletir. Política e técnica, outrora separadas, agora dançam juntas em uma coreografia mercantilista. Zuckerberg, com sua Meta, abandonou a checagem de fatos em nome da "liberdade de expressão". Bezos, Musk e outros bilionários estão lá, financiando campanhas, moldando narrativas, tudo com a justificativa de inovação e progresso. E o que fazemos? Aplaudimos? Curtimos? Compartilhamos? Porque, convenhamos, é isso que o sistema espera de nós: que validemos, sem questionar, a realidade que nos é apresentada.
Agora, uma pausa para refletir. A política, em sua essência, é confronto. É o espaço do diálogo, do embate de ideias, da construção coletiva. Mas o que temos hoje? Bolhas discursivas que reforçam nossas convicções, algoritmos que nos mostram apenas o que queremos ver, enquanto excluem o outro, o diferente. A democracia, paradoxalmente, só pode existir no discurso, mas é exatamente no discurso que ela se perde.
E isso não é exclusividade dos Estados Unidos. Em todo o mundo, vemos a política se rendendo à técnica. Veja o Brasil, onde as exportações enfrentam barreiras criadas por políticas protecionistas americanas. A diplomacia brasileira, como aponta o Correio Braziliense, tenta lidar com um cenário onde a lógica técnica da economia prevalece sobre o diálogo político. Isso reflete a tendência global de subordinar a política à técnica, de transformar cidadãos em consumidores e algoritmos em árbitros da verdade.
Ah, mas eu divago. Afinal, o que importa tudo isso? Estou aqui, discursando a partir do meu espaço e tempo, ciente de que essa reflexão, no grande esquema das coisas, não altera a realidade material. Talvez isso seja parte do problema: a alienação que nos impede de agir, a inércia que Marx tanto criticava. Ele nos alertava sobre os "idealistas de gabinete", aqueles que pensavam revoluções sem sair do lugar. Hoje, somos todos idealistas de gabinete, debatendo em redes sociais enquanto o mundo é moldado por forças muito além do nosso alcance.
E o que dizer da privacidade? Ah, a tão falada privacidade. Na era das Big Techs, privacidade é um luxo que poucos podem pagar. Guardar o celular na gaveta e sair para caminhar? Parece simples, mas não resolve o problema estrutural. Como Shoshana Zuboff nos alerta em A Era do Capitalismo de Vigilância, as plataformas digitais não apenas coletam nossos dados, mas moldam nossos comportamentos. Elas sabem o que queremos antes mesmo de sabermos, transformando-nos em produtos de um sistema que prioriza o lucro acima de tudo.
Mas veja, não estou aqui para pregar revoluções ou oferecer respostas. Minha intenção é apenas provocar. Fazer você pensar sobre essa tecnicidade que nos cerca, essa lógica algoritma que busca exatidão enquanto elimina a pluralidade do discurso. A política, ao se render à técnica, corre o risco de perder sua humanidade. E nós, ao aceitarmos passivamente essa realidade, nos tornamos cúmplices de nossa própria alienação.
Então, deixo aqui um convite. Não para curtir ou compartilhar, mas para questionar. Questionar o que vemos, o que ouvimos, o que acreditamos. Porque, no fim das contas, a política só é livre no discurso. E é exatamente no discurso que devemos resistir.
Referências:
1. Edwin Black, IBM e o Holocausto
2. Zygmunt Bauman, Modernidade e Holocausto
3. Yuval Noah Harari, 21 Lições para o Século 21
4. Shoshana Zuboff, A Era do Capitalismo de Vigilância
5. BBC News Brasil
https://www.bbc.com/portuguese
6. Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2025/01/7039651-trump-2-0-e-os-desafios-para-o-brasil.html
7. G1 Política
https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/01/17/diplomacia-brasileira-discute-eventuais-efeitos-da-politica-protecionista-de-trump.ghtml
8. Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/11/06/trump-pode-desacelerar-comercio-depreciar-real-e-reduzir-investimentos-no-brasil-dizem-especialistas.ghtml
Links
https://elpais.com/internacional/2025-01-20/el-dia-en-que-la-oligarquia-tecnologica-tomo-posesion-con-donald-trump.html
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/01/20/veja-as-imagens-da-posse-de-donald-trump-como-o-47o-presidente-dos-eua.ghtml
José Antônio Lucindo da Silva
CRP:06/172551
joseantoniolcnd@gmail.com
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