Introdução
A violência sempre fez parte da história humana, sendo registrada em guerras, revoluções e atos de governos que decidiram varrer culturas inteiras da existência. Porém, o advento das tecnologias digitais e das redes sociais trouxe uma nova perspectiva: a possibilidade de testemunhar e divulgar atos violentos em tempo real. Isso nos leva a questionar se estamos realmente enfrentando uma explosão inédita de violência ou apenas ampliando a percepção do que sempre existiu. Neste texto, busco abordar a violência material e discursiva, analisando como a interconexão tecnológica e a materialidade de nossa existência moldam esse fenômeno.
1. A Violência no Meio Digital
A presença de smartphones e câmeras permitiu que a violência, antes restrita ao contexto local ou à cobertura midiática tradicional, fosse compartilhada globalmente. Essa exposição gera duas perguntas fundamentais:
1. A violência aumentou ou apenas se tornou mais visível?
2. A obsessão pela "verdade da tela" amplifica nossa percepção da violência?
Estar conectado a uma rede que potencializa os registros da violência cria um paradoxo: somos espectadores passivos, seguros em nossos ambientes protegidos, enquanto discutimos a violência como um fenômeno externo.
2. A Violência Material: Uma Realidade Invisível
A violência material, que afeta diretamente as condições existenciais, é frequentemente ignorada nas discussões mediáticas. Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) indicam que mais de 735 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2022, reflexo de desigualdades estruturais. Essa violência material – fome, desemprego, falta de segurança, saúde e educação – raramente ganha destaque, mas mata de forma silenciosa e cotidiana.
Outro exemplo é a violência trabalhista. Muitos trabalham em condições de exploração extrema, sacrificando sua saúde e bem-estar para sustentar suas famílias. Curiosamente, essa violência, profundamente enraizada na materialidade, é normalizada, enquanto a violência mediática ganha destaque nos discursos.
3. O Paradoxo da "Evolução" Humana
Apesar de avanços tecnológicos, continuamos eliminando nossa própria espécie. Durante a pandemia de COVID-19, o Brasil registrou mais de 700 mil mortes, muitas delas atribuídas à desinformação e à negligência governamental. É irônico que, enquanto buscamos a evolução, nossos atos contradigam qualquer ideia de progresso.
Quando comparados a espécies como as baratas, que sobrevivem há milhões de anos, nossa "evolução" parece frágil. Competimos pela sobrevivência com esses insetos, eliminando-os de nossos espaços enquanto ignoramos que eles são resilientes em condições extremas – algo que, aparentemente, não conseguimos alcançar.
---
4. Reflexões e Ironias Sobre o Futuro
Se evitamos o outro, nos isolamos em nossas telas e verdades discursivas, criamos um ciclo de violência que se retroalimenta. Governos tentam justificar suas falhas diante de crises, como o aumento da violência associada a sistemas financeiros, exemplificado pelas controvérsias sobre o uso do PIX no Brasil. A mentira discursiva ganha força, e a violência se perpetua tanto no plano material quanto no digital.
---
Conclusão
A violência é um fato inegável e multifacetado, mas a forma como a percebemos e discutimos mudou significativamente. A interconexão tecnológica amplificou nossa visão, mas não necessariamente nossa compreensão. Enquanto não reconhecermos a violência material que nos rodeia – fome, exploração e negligência –, continuaremos presos a uma narrativa limitada. Afinal, estamos realmente evoluindo ou apenas sofisticando nossa capacidade de ignorar o outro?
---
Referências
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). "The State of Food Security and Nutrition in the World 2023". Disponível em: www.fao.org. Acesso em: 19 jan. 2025.
Ministério da Saúde. "Painel de Monitoramento de COVID-19 no Brasil". Disponível em: www.saude.gov.br. Acesso em: 19 jan. 2025.
ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism. PublicAffairs, 2019.
HAN, Byung-Chul. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.
#maispertodaignorancia
Comentários
Enviar um comentário