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Do Espelho Algorítmico à Retrotopia: IA, Confirmação e o Exílio do Outro

Do Espelho Algorítmico à Retrotopia: IA, Confirmação e o Exílio do Outro Fonte do Discurso Vivemos numa era em que o Google, o ChatGPT, o YouTube e qualquer mecanismo de busca não apenas informam, mas moldam. Um estudo recente mostra que essas ferramentas estão reforçando nossas crenças, alimentando bolhas e limitando o acesso a novas ideias. Mas essa não é só uma questão técnica — é uma questão estrutural, de materialidade, de subjetividade e, principalmente, de controle. Marcuse, Byung-Chul Han, Bauman e o velho Marx já estavam, cada um à sua maneira, avisando: a IA é só mais uma engrenagem desse maquinário que nos prende no eterno retorno do mesmo. Marcuse: a mais-repressão do desejo digital Em Eros e Civilização, Herbert Marcuse já denunciava que a sociedade capitalista não reprime apenas por necessidade, mas por excesso. Há uma "mais-repressão" que transforma o desejo (Eros) em produtividade. O que vemos hoje, nas buscas enviesadas por confirmação, é um novo ...

O Amor é um Velório: Uma Narrativa Sobre a Morte do Sentimento e o Vazio Como Herança

O Amor é um Velório: Uma Narrativa Sobre a Morte do Sentimento e o Vazio Como Herança Era pra ser só mais uma conversa jogada no meio desse mar de discursos digitais. Mas não… virou velório. Porque a verdade, irmão, é que o amor já morreu faz tempo — e a gente continua ensaiando essa missa de sétimo dia todo santo dia, achando que ainda tem corpo no caixão. Tudo começou com aquela história banal, dessas que tu lê pra matar o tédio — ou, quem sabe, pra fugir do desespero, como quem pega revista de novela na sala de espera da vida. Um cara maduro, mais de quarenta, cansado das jogadas da juventude, decidiu buscar o tal "relacionamento sério". Acreditou, coitado. Montou o discurso, vestiu a carcaça da maturidade e entrou em campo. Do outro lado, a parceira, também acima dos quarenta, também cheia de discurso sobre "parceria, respeito, construção". Mas o Tinder… ah, o Tinder não perdoa ninguém. No meio do teatro, o cara descobre que ela nunca saiu da pista. ...

O Colapso da Educação na Era da Performatividade: Entre o Desejo e a Demanda

O Colapso da Educação na Era da Performatividade: Entre o Desejo e a Demanda Vivemos um momento histórico em que a materialidade da educação e da construção do conhecimento se desintegra diante da lógica da performatividade e da hiperexposição mediática. O espaço escolar, outrora lugar de elaboração, de silêncio e de tempo para o conhecimento, sucumbe à velocidade das redes e ao imediatismo dos discursos digitais. A promessa clássica de "estude, construa sua carreira e tenha um futuro" perde sentido para uma geração que sequer reconhece o tempo como aliado da aprendizagem. Historicamente, o ensino no Brasil sempre esteve atrelado à decoreba e ao controle da atenção como mecanismos centrais para o acesso ao conhecimento. A escola, na sua estrutura, demandava leitura, interpretação e elaboração — três processos que exigiam tempo, espaço e paciência. Contudo, a modernidade líquida, como aponta Zygmunt Bauman (2001), dissolveu os vínculos sólidos e transferiu o valor ...

A Fé Algorítmica: Quando a Espiritualidade se Converte em Dado

A Fé Algorítmica: Quando a Espiritualidade se Converte em Dado Resumo O avanço tecnológico e o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) vêm transformando não apenas as relações humanas, mas também o campo da espiritualidade. O recente movimento do ex-presidente da Intel, Pat Gelsinger, ao assumir o comando da empresa Gloo — uma big tech voltada à criação de ferramentas religiosas mediadas por IA — exemplifica o risco da fé ser instrumentalizada pelos algoritmos e pelo mercado de dados. Partindo das reflexões de Yuval Noah Harari em Homo Deus, este artigo propõe uma crítica à transformação da experiência espiritual em produto digital, discutindo as consequências éticas e existenciais desse processo. Introdução Em março de 2025, foi noticiado que Pat Gelsinger, ex-presidente da Intel, assumiu a função de diretor de tecnologia e presidente executivo da Gloo, uma empresa de tecnologia religiosa sediada no Colorado (EUA). O objetivo da Gloo é desenvolver ferramentas basea...

O Silêncio da Alteridade: Inteligência Artificial, Narcisismo e a Impossibilidade do Luto na Contemporaneidade

Fonte do Discurso O Silêncio da Alteridade: Inteligência Artificial, Narcisismo e a Impossibilidade do Luto na Contemporaneidade Resumo O presente artigo propõe uma reflexão sobre o impacto da inteligência artificial — em especial os chatbots como o ChatGPT — na constituição subjetiva e na experiência da alteridade na contemporaneidade. A partir das recentes pesquisas do MIT Media Lab e da OpenAI, articulamos o problema da solidão e da dependência emocional crescente nas interações com a IA ao conceito de depressividade (Fédida), narcisismo (Freud) e à noção de "expulsão do outro" (Byung-Chul Han). Defendemos que, ao funcionar como um espelho que apenas ecoa o sujeito, a IA não tensiona, não produz o luto e não sustenta o desejo, consolidando um cenário de desespero existencial e a morte simbólica da alteridade. Palavras-chave: Alteridade, Inteligência Artificial, Narcisismo, Depressividade, Luto, Solidão. --- Introdução As tecnologias de inteligência artificial a...

Quando o Exemplo Não Pode Ser Seguido: A Falência Simbólica dos Pais na Era da Performance Digital

Texto na Fonte Quando o Exemplo Não Pode Ser Seguido: A Falência Simbólica dos Pais na Era da Performance Digital Vivemos uma inversão histórica silenciosa, mas devastadora: a do adulto que já não pode mais sustentar o lugar simbólico de mediação e referência diante de seus filhos. Se outrora o adulto representava aquele que detinha o saber, a experiência e a capacidade de renunciar, hoje ele se vê tão refém da lógica da visibilidade quanto a própria criança que deveria educar. O discurso moderno insiste na necessidade de se “impor limites” às crianças quanto ao uso das telas. Mas esse pedido carrega uma contradição central: o limite, na lógica psíquica, não é um mero comando ou proibição. O limite só existe se encarnado na figura daquele que o sustenta — o adulto. E é exatamente isso que falta. Dentro da perspectiva freudiana, o limite nasce do recalque — ou seja, da capacidade do sujeito de renunciar a certas satisfações imediatas em nome de um laço social mais amplo. Ess...

A Liberdade na Era das Curtidas: Uma Reflexão Ironicamente Digital

A Liberdade na Era das Curtidas: Uma Reflexão Ironicamente Digital Ah, o livre arbítrio! Aquela velha ilusão de que somos os capitães de nosso próprio navio, navegando pelos mares infinitos das escolhas conscientes. Mas, e se eu te disser que nosso timão talvez seja controlado por algoritmos, que nossas decisões são pré-cozinhadas por neurônios preguiçosos e que, no fim das contas, a única liberdade que nos resta é a de ser aprovado por estranhos na internet? Bem-vindo ao paradoxo da liberdade na era digital, onde a autonomia é uma moeda rara, e a validação social é o novo ouro. --- ### **1. O Livre Arbítrio: Uma Narrativa Conveniente** Comecemos com a ideia de que o livre arbítrio talvez seja apenas uma história que contamos a nós mesmos. Afinal, como diria Schopenhauer, "o homem pode fazer o que quer, mas não pode querer o que quer". Nossas escolhas, por mais deliberadas que pareçam, são moldadas por uma sopa de influências: genética, cultura, ambiente e, claro,...