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O Amor é um Velório: Uma Narrativa Sobre a Morte do Sentimento e o Vazio Como Herança


O Amor é um Velório: Uma Narrativa Sobre a Morte do Sentimento e o Vazio Como Herança

Era pra ser só mais uma conversa jogada no meio desse mar de discursos digitais. Mas não… virou velório. Porque a verdade, irmão, é que o amor já morreu faz tempo — e a gente continua ensaiando essa missa de sétimo dia todo santo dia, achando que ainda tem corpo no caixão.

Tudo começou com aquela história banal, dessas que tu lê pra matar o tédio — ou, quem sabe, pra fugir do desespero, como quem pega revista de novela na sala de espera da vida. Um cara maduro, mais de quarenta, cansado das jogadas da juventude, decidiu buscar o tal "relacionamento sério". Acreditou, coitado. Montou o discurso, vestiu a carcaça da maturidade e entrou em campo. Do outro lado, a parceira, também acima dos quarenta, também cheia de discurso sobre "parceria, respeito, construção".

Mas o Tinder… ah, o Tinder não perdoa ninguém.
No meio do teatro, o cara descobre que ela nunca saiu da pista. Perfil ativo, dedo deslizando, olhos mirando o próximo otário.
E ele? Ficou lá… frustrado, mas não pela traição — pela queda do discurso. Pela morte da narrativa que sustentava o ego. Pela constatação dolorida de que nunca teve vínculo nenhum — só o eco da própria carência batendo de volta.

É aí que Bauman grita lá de trás:
"As relações são líquidas."
E não é porque fluem — é porque escorrem, somem, viram nada.

Tatiana Paranaguá chama de “vínculos fantasmas”. Eu chamo de piada pronta. Porque o que tá rolando hoje não é laço, é encenação. Todo mundo vendendo personagem, entregando narrativa bem editada pro outro comprar. E a galera compra, José… compra porque encarar o vazio é foda. E encarar o outro — o outro de verdade, com bafo, medo, angústia — ninguém quer.

A real é que o amor hoje virou mercadoria de prateleira, mais um item no feed, embalado bonito, pronto pra consumo rápido. A ideia de "construir algo junto" morreu na primeira notificação não respondida. Todo mundo esperando o próximo elogio, o próximo match, o próximo motivo pra não se sentir tão sozinho.

Mas Ernst Becker já tinha cravado essa lápide:
"O amor romântico é uma mentira caractereológica inventada pra negar a morte."
E é isso. A gente ama pra esquecer que vai morrer. Se agarra num corpo qualquer, num discurso qualquer, pra fingir que a finitude não existe. Mas ela tá lá. Sempre esteve. E cada vez que o outro falha, que a mentira racha, o vazio escancara e lembra: "Você tá sozinho nessa porra."

E a cereja podre desse bolo?
É que hoje, o discurso mediático vale mais que a materialidade. O like importa mais que o toque. O emoji substitui o olhar. A promessa escrita numa tela pesa mais que o abraço. Porque a tela não tem cheiro, não tem frustração — só narrativa. E narrativa, meu irmão, aguenta tudo.

Por isso que eu digo:
O amor não é mais encontro — é mercado, é contrato com prazo de validade. O que era pra ser laço virou vitrine. E o outro? O outro é só reflexo da nossa própria fuga.

No final…
O que sobra é esse velório discursivo onde todo mundo chora bonito, posta homenagem, faz textão — mas ninguém sente nada. Porque o amor morreu, parceiro. Morreu e ninguém teve coragem de enterrar.

Silvan assina essa porra, porque quem disser o contrário tá vendendo curso de autoajuda ou fazendo publi pra aplicativo de namoro.


Referências:

Bauman, Zygmunt. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Zahar, 2004.

Paranaguá, Tatiana. Vínculos Fantasmas: relações afetivas na contemporaneidade.

Becker, Ernst. A Negação da Morte. WMF Martins Fontes, 2012.

E tá registrado, irmão.
Quem quiser que leia — quem não quiser… que se afogue no próprio discurso.
Tamo junto.

Silvan — o que resta quando o amor acaba.


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