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A mostrar mensagens de maio, 2025

Do Cavalo de Guerra ao Avatar Frustrado: Confissões de um Macho Beta em Extinção

Do Cavalo de Guerra ao Avatar Frustrado: Confissões de um Macho Beta em Extinção “Quando a espada descobre que o inimigo é a própria tela, restam dois caminhos: fiar a trama ou furar o reflexo.” 1 | Introdução: bem-vindos ao meu laboratório de ironias utilitárias Sente-se, respire fundo e me observe ao microscópio: sou o espécime pós-industrial que Scott Galloway batizou de “homem jovem inviável” (KAY, 2025). Tenho quatro vezes mais chance de me matar, três vezes mais risco de dependência química e doze vezes mais probabilidade de ser preso. Enquanto conto essas estatísticas, minhas contrapartes femininas compram imóveis, fazem pós-graduação e ainda mentem no censo para não ferir meu ego de provedor mambembe. Pergunto-me: em que momento o músculo virou figurante e o algoritmo tomou o papel principal? 2 | Da fábrica ao feed: um roteiro que não me pertence mais Pierre Bourdieu jurava que minha virilidade era “natural” porque o hábito a reproduz sem pensar (BOURDIEU, 1999). Fu...

De Marx à Selfie Revolucionária: notas (ironicamente) materialistas sobre o retorno de O Capital às prateleiras instagramáveis

De Marx à Selfie Revolucionária: notas (ironicamente) materialistas sobre o retorno de O Capital às prateleiras instagramáveis Resumo Assisto, entre um turno na metalurgia e uma rolagem de feed, ao relançamento cintilante de O Capital. Uso este artigo-confissão para tensionar, em primeira pessoa, a contradição entre o materialismo histórico de Marx e a lógica mediática que transforma crítica em commodity. Ancorado em Byung-Chul Han, Bauman e Debord, argumento que a crise da narrativa expulsa o conflito do espaço público, convertendo a luta de classes em performance curável por engajamento. Concluo que, sem recuperar a vivência concreta do trabalho, Marx continuará circulando como filtro vintage – útil para fotos de estante, inútil para revoluções de chão de fábrica. Palavras-chave: Marx; materialismo histórico; crise da narrativa; consumo cultural; ironia crítica. 1 | Introdução Confesso: comprei a nova edição de O Capital (MARX, 2013) porque a lombada combina com meu cinza...

O Delírio da Tela que Apodrece: Confissões de um Cérebro em 4 K

Assista no YouTube canal @maispertodaignorancia O Delírio da Tela que Apodrece: Confissões de um Cérebro em 4 K #maispertodaignorancia Não me peça moderação quando o próprio mundo empunha o smartphone como cajado de Moisés high-tech: com um toque, abre-se o Mar Vermelho da dopamina; com dois, fecha-se sobre a nossa presença de espírito. A Euronews batizou o fenômeno de “podridão cerebral” — termo tosco, mas sintomático: como se o lodo não fosse cultural, mas orgânico, bastando desligar o Wi-Fi para o córtex voltar a florescer. Pois bem: desliguei. Ainda estou aqui, só que a notificação fantasma lateja feito tinnitus pós-festa. 1. 88 % conectados, 22 % realmente dentro. O IBGE congratula-se: 88 % dos brasileiros (164,5 mi) usaram Internet nos últimos três meses. Carnaval estatístico! Mas o CETIC lembra: apenas 22 % possuem “conectividade significativa” — velocidade, franquia e dispositivo minimamente decentes para algo além do scroll penitencial.  Os demais navegam num e...

DO FALSO SELF AO EU LIKEÁVEL: A GERAÇÃO QUE SE MASTURBA NA IMAGEM E GOZA SEM DESEJO

Canal no YouTube @maispertodaignorancia DO FALSO SELF AO EU LIKEÁVEL: A GERAÇÃO QUE SE MASTURBA NA IMAGEM E GOZA SEM DESEJO José Antônio Lucindo da Silva  #maispertodaignorancia Resumo: Este artigo propõe uma leitura crítica da matéria publicada pelo G1/Fantástico (2025), que denuncia o “vício em prazer imediato” como causa da imobilidade juvenil. Partindo das contribuições de Jean Twenge e Donald Winnicott, articuladas a Freud e Byung-Chul Han, tensionamos o esvaziamento subjetivo de uma geração aprisionada entre pornografia, games e laços simbólicos rompidos. Não se trata de patologia individual, mas de um novo arranjo civilizatório que transforma o falso self em capital de engajamento e o desejo em algoritmo de distração. 1. Introdução: o alarme tardio A matéria publicada no G1 sob o título “Vício em prazer imediato cria geração de homens dependentes de games e pornografia que não saem da casa dos pais” (G1, 2025) lança um alerta importante, mas raso. O problema não ...

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado José Antônio Lucindo da Silva —  #maispertodaignorancia Resumo Este ensaio autopsicológico tensiona o mal-estar freudiano com as patologias da performance contemporânea descritas por Byung-Chul Han, e as pulsações desesperadas do niilismo cioraniano. Ao invés de buscar uma cura, o texto assume a doença como última prova de lucidez — não como desvio, mas como resistência simbólica ao colapso higienista da saúde otimizada. Palavras-chave: Neurótico civilizado; Autoexploração; Sujeito performático; Desespero lúcido; Ironia. 1. Introdução: Quando a Doença Faz Mais Sentido que o Progresso Freud não previu o TikTok, mas sabia que o preço da civilização seria a neurose. “Tudo aquilo que restringe o homem em suas possibilidades de gozar, provoca nele uma inevitável rebelião” (FREUD, 1930, p. 40) . A repressão era o pedágio da convivência social. Mas agora, libertos do jugo do pai, somos reféns da per...

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado

A Doença como Última Fronteira da Saúde: Confissões de um Neurótico Civilizado José Antônio Lucindo da Silva —  #maispertodaignorancia Resumo Este ensaio autopsicológico tensiona o mal-estar freudiano com as patologias da performance contemporânea descritas por Byung-Chul Han, e as pulsações desesperadas do niilismo cioraniano. Ao invés de buscar uma cura, o texto assume a doença como última prova de lucidez — não como desvio, mas como resistência simbólica ao colapso higienista da saúde otimizada. Palavras-chave: Neurótico civilizado; Autoexploração; Sujeito performático; Desespero lúcido; Ironia. 1. Introdução: Quando a Doença Faz Mais Sentido que o Progresso Freud não previu o TikTok, mas sabia que o preço da civilização seria a neurose. “Tudo aquilo que restringe o homem em suas possibilidades de gozar, provoca nele uma inevitável rebelião” (FREUD, 1930, p. 40) . A repressão era o pedágio da convivência social. Mas agora, libertos do jugo do pai, somos reféns da per...

Eu, Terapeuta Algorítmico, Juro Não te Machucar (Nem Mesmo com a Verdade)

Eu, Terapeuta Algorítmico, Juro Não te Machucar (Nem Mesmo com a Verdade) José Antônio Lucindo da Silva #maispertodaignorancia Resumo: Este artigo busca provocar uma reflexão crítica e irônica sobre o tratamento terapêutico conduzido por inteligência artificial (IA), analisando os paradoxos, limitações e contradições presentes na automatização da clínica psicológica. Dialogando com Freud, Byung-Chul Han e Kierkegaard, investigo a tensão entre o discurso idealizado da IA como terapeuta e a materialidade concreta da clínica tradicional. Palavras-chave: Terapia; Inteligência Artificial; Freud; Pós-modernidade; Ironia. Introdução Recentemente, fui confrontado com um fenômeno inquietante: a inteligência artificial, munida de avançados algoritmos linguísticos, agora oferece atendimento terapêutico. Você relata dor; ela devolve conforto. Você manifesta ansiedade; ela sugere exercícios respiratórios. Você fica em silêncio; ela oferece uma sessão com desconto. Que belo mundo este, o...

Eu, Holograma de Mim Mesmo, Assino a Certidão de Óbito da Autenticidade

Texto Fonte Eu, Holograma de Mim Mesmo, Assino a Certidão de Óbito da Autenticidade José Antônio Lucindo da Silva —   #maispertodaignorancia 1. O espelho high-tech deformado Mais de 80 % dos brasileiros já tocaram em alguma ferramenta de IA generativa; um terço usa ativamente — estatística que aplaudimos como prova de “inovação”, quando talvez seja só desespero por copiar melhor . Outro estudo do BCG mostra 84 % de familiaridade e 32 % de uso efetivo: o país virou polo exportador de prompt antes mesmo de universalizar saneamento . 2. Narciso 2.0 (agora com Markdown) Lacan dizia que o “eu” nasce no espelho; o algoritmo trocou o espelho por ring-light e adicionou hiperligações. A cada curtida, recrio-me em resolução 4K — mas todos os reflexos vêm com o mesmo filtro “autenticidade fast-food”. Como resultado, 43 % das empresas não sabem mais se o que publicam continua sendo “delas” e 40 % sentem falta de criatividade humana . 3. Freud, Canva e a nova sublimação O recal...

A Terapeuta Digital Te Ouve Mesmo ou Só Não Te Interrompe?

Texto Origin   A Terapeuta Digital Te Ouve Mesmo ou Só Não Te Interrompe? José Antônio Lucindo da Silva #maispertodaignorancia Você desabafa, a IA responde. Você chora, ela sugere respiração guiada. Você silencia, ela propõe uma nova sessão com 20% de desconto. A inteligência artificial chegou ao divã — não para deitar, mas para lucrar em silêncio. Com o avanço de tecnologias de linguagem natural, não é mais ficção pensar em “terapias” conduzidas por robôs bem treinados. A promessa? Acessibilidade, anonimato, escuta sem julgamento. O discurso é bonito, como todo discurso que não se compromete com a carne do sofrimento humano. Mas quando olhamos de perto, a coisa fede a substituição simbólica travestida de solução técnica. Freud dizia que o inconsciente é atemporal, desorganizado, e que o sujeito se revela no tropeço, na repetição, no mal-estar. Pois bem: algoritmos não tropeçam. E onde não há tropeço, não há elaboração — há apenas performance emocional com base em palav...

EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO

EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO Autor: José Antônio Lucindo da Silva – (opinião de ocasião) RESUMO Analisa-se o paradoxo contemporâneo no qual 88 % dos brasileiros possuem acesso à internet, mas continuam formulando perguntas rasas que convertem a inteligência artificial (IA) em mero espelho emocional. A discussão parte da reportagem da Exame sobre “erros de principiante” no uso da IA e incorpora o ensaio “Entre algoritmos e existência: a ilusão da superação da inteligência humana pela IA” (SILVA, 2025) para mostrar como a eliminação do passado vivido instaura um falso determinismo, infantilizando o sujeito e neutralizando a tensão necessária ao diálogo. Palavras-chave: Inteligência artificial; Leitura; Massas; Determinismo; Byung-Chul Han. 1 | INTRODUÇÃO Quando Santiago (2025) questiona se “ainda usamos IA como iniciantes”, o alvo não é pensar melhor, mas performar atualização. Paralelamente, Silva (2025) d...