Avançar para o conteúdo principal

EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO







EU, PROMPT-SAPIENS, ACUSO O GOLPE: A IGNORÂNCIA 4.0 ENTRE MITO DA LIBERDADE DIGITAL E DETERMINISMO ALGORÍTMICO


Autor: José Antônio Lucindo da Silva – (opinião de ocasião)

RESUMO

Analisa-se o paradoxo contemporâneo no qual 88 % dos brasileiros possuem acesso à internet, mas continuam formulando perguntas rasas que convertem a inteligência artificial (IA) em mero espelho emocional. A discussão parte da reportagem da Exame sobre “erros de principiante” no uso da IA e incorpora o ensaio “Entre algoritmos e existência: a ilusão da superação da inteligência humana pela IA” (SILVA, 2025) para mostrar como a eliminação do passado vivido instaura um falso determinismo, infantilizando o sujeito e neutralizando a tensão necessária ao diálogo.
Palavras-chave: Inteligência artificial; Leitura; Massas; Determinismo; Byung-Chul Han.



1 | INTRODUÇÃO

Quando Santiago (2025) questiona se “ainda usamos IA como iniciantes”, o alvo não é pensar melhor, mas performar atualização. Paralelamente, Silva (2025) denuncia o fetiche de que algoritmos já superaram a inteligência humana, reduzindo cognição à eficiência computacional. Neste artigo, cruzam-se tais discursos com dados do IBGE e aportes de Freud, Ortega y Gasset e Byung-Chul Han para demonstrar que acesso digital sem elaboração crítica gera ignorância hipermoderna.

2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Freud (1921): na massa, o supereu cede ao ideal narcísico comum.

Ortega y Gasset (1930): o homem-massa “opina porque respira”.

Han (2023) e Silva (2025): a crise da narrativa converte passado em mercadoria de feed, enquanto a IA simboliza eficiência sem compreensão.

Determinismo sentimental: narrativas tecnicistas (Harari, Kosinski) proclamam a superação da mente humana, esquecendo consciência, contexto e ética (SILVA, 2025).


3 | DADOS EMPÍRICOS

Indicador Valor Fonte

Usuários de internet (2023) 164,5 mi (88 %) IBGE (2024)
População off-line c/ ensino fundamental incompleto 75,5 % IBGE (2024)
Conclusão do ensino básico (≥ 25 anos) 54,5 % BANDEIRA (2024)


A equação é clara: acesso − (tempo + silêncio + leitura) = simulacro de saber.

4 | DISCUSSÃO

1. Perguntas terapêuticas – IA virou confessionário: busca-se afeto, não conhecimento.


2. Polarização algorítmica – O feed opera como playlist emocional (Freud revisto).


3. Mito da superação da inteligência – Segundo Silva (2025), confunde-se cálculo veloz com inteligência, ignorando consciência, valores e “ser-no-mundo”.


4. Falso determinismo – Se tudo está “pré-escrito” em dados, resta repetir o prompt-coach e comprar o e-book de produtividade.


5. Leitura como resistência – Ler devagar reintroduz passado e contradição; sem fricção não há invenção.



5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

O problema não mora nos prompts “mal escritos”, mas no tempo negado à pergunta. Determinados estamos – pelos filtros que aceitamos. Contudo, um segundo de hesitação já rompe o algoritmo.

> Determinada é a ignorância que não sangra tempo; sujeito é quem tropeça no passado para inventar futuro.



REFERÊNCIAS

BANDEIRA, G. 54,5 % dos brasileiros têm formação básica completa, diz IBGE. Poder360, Brasília, 22 mar. 2024. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.

FREUD, S. Psicologia das massas e análise do eu. Viena: Imago, 1921.

HAN, B.-C. A crise da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2023.

IBGE. Em 2023, 88 % das pessoas com 10 anos ou mais utilizaram internet. Agência de Notícias do IBGE, 16 ago. 2024. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.

ORTEGA Y GASSET, J. A rebelião das massas. Madrid: Espasa-Calpe, 1930.

SANTIAGO, G. Você ainda está usando IA como iniciante? Veja os 3 erros que te fazem parecer ultrapassado. Exame, São Paulo, 22 maio 2025. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.

SILVA, J. A. L. Entre algoritmos e existência: a ilusão da superação da inteligência humana pela IA. Blog Mais Perto da Ignorância, 22 abr. 2025. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2025.


-
#maispertodaignorancia


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Técnica, a Exclusão e o Eu: Reflexões Sobre a Alienação Digital e a Identidade na Contemporaneidade

A Técnica, a Exclusão e o Eu: Reflexões Sobre a Alienação Digital e a Identidade na Contemporaneidade Assista o vídeo em nosso canal no YouTube Introdução A cada dia me questiono mais sobre a relação entre a tecnologia e a construção da identidade. Se antes o trabalho era um elemento fundamental na compreensão da realidade, como Freud argumentava, hoje vejo que esse vínculo está se desfazendo diante da ascensão da inteligência artificial e das redes discursivas. A materialidade da experiência é gradualmente substituída por discursos digitais, onde a identidade do sujeito se molda a partir de impulsos momentâneos amplificados por algoritmos. Bauman (1991), ao analisar a modernidade e o Holocausto, mostrou como a racionalidade técnica foi usada para organizar processos de exclusão em grande escala. Hoje, percebo que essa exclusão não ocorre mais por burocracias formais, mas pela lógica de filtragem algorítmica, que seleciona quem merece existir dentro da esfera pública digita...

A Ilusão do Home Office: Uma Crítica Irônica à Utopia Digital

A Ilusão do Home Office: Uma Crítica Irônica à Utopia Digital Resumo Neste artigo, apresento uma análise crítica e irônica sobre a idealização do home office no contexto atual. Argumento que, embora o trabalho remoto seja promovido como a solução ideal para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ele esconde armadilhas significativas. Além disso, com o avanço da inteligência artificial (IA), muitas das funções desempenhadas em home office correm o risco de serem substituídas por máquinas, tornando essa modalidade de trabalho uma utopia efêmera. Este texto foi elaborado com o auxílio de uma ferramenta de IA, demonstrando que, embora úteis, essas tecnologias não substituem a experiência humana enraizada na materialidade do trabalho físico. Introdução Ah, o home office! Aquela maravilha moderna que nos permite trabalhar de pijama, cercados pelo conforto do lar, enquanto equilibramos uma xícara de café em uma mão e o relatório trimestral na outra. Quem poderia imaginar ...

Eu, o algoritmo que me olha no espelho

  Eu, o algoritmo que me olha no espelho Um ensaio irônico sobre desejo, ansiedade e inteligência artificial na era do desempenho Escrevo este texto com a suspeita de que você, leitor, talvez seja um algoritmo. Não por paranoia tecnofóbica, mas por constatação existencial: hoje em dia, até a leitura se tornou um dado. Se você chegou até aqui, meus parabéns: já foi computado. Aliás, não é curioso que um dos gestos mais humanos que me restam — escrever — também seja um dos mais monitorados? Talvez eu esteja escrevendo para ser indexado. Talvez eu seja um sintoma, uma falha de sistema que insiste em se perguntar: quem sou eu, senão esse desejo algorítmico de ser relevante? Não, eu não estou em crise com a tecnologia. Isso seria romântico demais. Estou em crise comigo mesmo, com esse "eu" que performa diante de um espelho que não reflete mais imagem, mas sim dados, métricas, curtidas, engajamentos. A pergunta não é se a IA vai me substituir. A pergunta é: o que fiz com meu desejo...