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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2025

Adolescência: o novo produto premium do marketing existencial

Adolescência: o novo produto premium do marketing existencial Por: José Antônio Lucindo da Silva CRP:06/172551 joseantoniolcnd@gmail.com Vivemos em tempos em que a adolescência deixou de ser uma fase da vida para se tornar uma plataforma. E não apenas uma plataforma biológica ou psicológica — mas uma plataforma de produção de conteúdo, de angústia, de significados frágeis e de mercado emocional. A série Adolescência, lançada pela Netflix em 2025, é talvez o retrato mais simbólico e contundente dessa nova operação do capitalismo subjetivo. Assisti à série não com olhos emocionados, mas com uma mistura de perplexidade, ironia e, confesso, certo tédio existencial. Em quatro episódios, acompanhamos Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega. Tudo filmado em plano sequência, em tempo real, sem cortes. A estética da dor transmitida como espetáculo — não para provocar reflexão, mas para garantir identificação e audiência. Não é sobre o crime. É sobre o formato. S...

Epicuro na Era do Fast-Food Filosófico: Uma Reflexão Irônica sobre a Discursividade Contemporânea

Assistir vídeo no YouTube Fonte da Opinião Epicuro na Era do Fast-Food Filosófico: Uma Reflexão Irônica sobre a Discursividade Contemporânea Ah, Epicuro! Se soubesses no que tua filosofia se tornaria, talvez repensasses a busca pela ataraxia. Em um mundo onde fast-food filosófico é a norma, tua mensagem de simplicidade e moderação foi reduzida a hashtags e posts inspiracionais. Tua filosofia, enraizada na materialidade, agora flutua, leve como um meme, nas redes sociais. Imagino Rosa Luxemburgo coçando a cabeça, perplexa, diante da mercantilização da tua filosofia. E Marx, com seu olhar crítico, provavelmente enxergaria essa transformação como mais um exemplo da alienação. A filosofia, que um dia foi uma ferramenta de libertação, agora é consumida como um produto de prateleira, pronta para ser usada em momentos de crise existencial. Freud, por sua vez, talvez sorrisse ironicamente ao ver como o desejo humano por respostas prontas nos leva a abraçar uma versão diluída da tua psicanálise...

Eu, o algoritmo que me olha no espelho

  Eu, o algoritmo que me olha no espelho Um ensaio irônico sobre desejo, ansiedade e inteligência artificial na era do desempenho Escrevo este texto com a suspeita de que você, leitor, talvez seja um algoritmo. Não por paranoia tecnofóbica, mas por constatação existencial: hoje em dia, até a leitura se tornou um dado. Se você chegou até aqui, meus parabéns: já foi computado. Aliás, não é curioso que um dos gestos mais humanos que me restam — escrever — também seja um dos mais monitorados? Talvez eu esteja escrevendo para ser indexado. Talvez eu seja um sintoma, uma falha de sistema que insiste em se perguntar: quem sou eu, senão esse desejo algorítmico de ser relevante? Não, eu não estou em crise com a tecnologia. Isso seria romântico demais. Estou em crise comigo mesmo, com esse "eu" que performa diante de um espelho que não reflete mais imagem, mas sim dados, métricas, curtidas, engajamentos. A pergunta não é se a IA vai me substituir. A pergunta é: o que fiz com meu desejo...

Do prazer à sobrecarga: o trabalho como reflexo do mal-estar contemporâneo

Fonte do Discurso Do prazer à sobrecarga: o trabalho como reflexo do mal-estar contemporâneo Resumo Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a transformação simbólica do trabalho no contexto contemporâneo. A partir de autores como Freud, Byung-Chul Han e Michel Fédida, discute-se como o prazer em trabalhar foi capturado pela lógica do desempenho, resultando em autoexploração e sintomas depressivos. O texto problematiza a romantização do trabalho e o esvaziamento subjetivo provocado por uma sociedade que exige produtividade como condição de existência. 1. Introdução Tenho observado que o trabalho, em vez de ser apenas um meio de sustento, passou a representar para muitos o lugar onde se busca sentido, reconhecimento e pertencimento. Mas me pergunto: em que momento esse prazer em trabalhar deixou de ser potência e passou a ser sobrecarga? A romantização do trabalho nos últimos anos criou uma ideia perigosa: a de que devemos amar o que fazemos, estar constantemente motiva...

Renda mínima: alívio humanitário ou controle algorítmico da existência?

Renda mínima: alívio humanitário ou controle algorítmico da existência? Por José Antônio Lucindo da Silva  Nos últimos tempos, tenho escutado muito sobre a tal renda básica universal. E não, não estou falando de um experimento futurista em Marte, mas sim de uma proposta concreta para o nosso planeta cada vez mais automatizado e mediaticamente colonizado. Confesso: a ideia parece bonita — quem não gostaria de receber um valor mensal para viver, sem precisar se submeter à lógica brutal do mercado de trabalho? Mas é justamente aí que reside a armadilha. Quando o sistema começa a dar dinheiro, o que exatamente ele está tomando em troca? Parto de uma reflexão materialista, ancorada em Marx, onde compreendo que a base da nossa cognição não é neutra: ela é formada pelos meios de produção e de consumo. E hoje, os meios de consumo não apenas nos oferecem mercadorias — eles moldam nossos desejos, ditam nossos comportamentos e, sobretudo, organizam nossa subjetividade em torn...

Caindo no Abismo com Estilo: Pós-modernidade, Angústia e a Anestesia do Discurso

Caindo no Abismo com Estilo: Pós-modernidade, Angústia e a Anestesia do Discurso Resumo Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre o impacto — ou sua ausência — das análises filosófico-sociológicas sobre a pós-modernidade, a partir de autores como Zygmunt Bauman e Luiz Felipe Pondé, dentro do ambiente discursivo mediático. Dialogando com conceitos como modernidade líquida, racionalidade instrumental, liberdade angustiada e mercantilização do eu, buscamos entender como o discurso contemporâneo transforma a angústia em mercadoria e a crítica em estética. Ao final, propomos uma resistência possível: a ironia lúcida, a dança no abismo. 1. Introdução Vivemos em um tempo onde a promessa moderna de progresso, razão e segurança ruiu. O projeto iluminista, outrora sustentado pela fé no Estado, na ciência e na moralidade racional, foi aos poucos substituído por uma lógica fluida, onde tudo é efêmero, inclusive o próprio sujeito. A pós-modernidade não chegou como uma ruptura, mas c...

“Capital, prazer e pix no caos: uma cartinha da materialidade à geração Z”

“Capital, prazer e pix no caos: uma cartinha da materialidade à geração Z” RESUMO: Este artigo propõe um diálogo irônico com a geração Z, expondo os efeitos do capital sobre suas subjetividades e experiências. A partir de Marx e sua crítica à mercadoria, busca-se contrastar a materialidade do capital com a discursividade vazia que permeia as redes sociais. A análise visa reposicionar o olhar sobre o que realmente constitui o capital e suas implicações no cotidiano. Palavras-chave: Capital; Geração Z; Marx; Mercadoria; Materialidade. --- INTRODUÇÃO Oi, geração Z. Tudo bem? Espero que sim, embora desconfie que a maioria de vocês esteja um pouco ansiosa, ligeiramente deprimida e com o feed do Instagram perfeitamente ajustado para parecer que está “vivendo o sonho”. Mas calma. Eu não vim aqui para cancelar ninguém (até porque isso já virou commodity). Vim só para lembrar que o capitalismo, aquele que dá o nome ao Pix e ao parcelamento do iPhone 14, ainda é, vejam só, material. Não é um mem...