“Capital, prazer e pix no caos: uma cartinha da materialidade à geração Z”
RESUMO:
Este artigo propõe um diálogo irônico com a geração Z, expondo os efeitos do capital sobre suas subjetividades e experiências. A partir de Marx e sua crítica à mercadoria, busca-se contrastar a materialidade do capital com a discursividade vazia que permeia as redes sociais. A análise visa reposicionar o olhar sobre o que realmente constitui o capital e suas implicações no cotidiano.
Palavras-chave: Capital; Geração Z; Marx; Mercadoria; Materialidade.
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INTRODUÇÃO
Oi, geração Z. Tudo bem? Espero que sim, embora desconfie que a maioria de vocês esteja um pouco ansiosa, ligeiramente deprimida e com o feed do Instagram perfeitamente ajustado para parecer que está “vivendo o sonho”. Mas calma. Eu não vim aqui para cancelar ninguém (até porque isso já virou commodity). Vim só para lembrar que o capitalismo, aquele que dá o nome ao Pix e ao parcelamento do iPhone 14, ainda é, vejam só, material. Não é um meme. E adivinhem quem tentou avisar? Sim, ele mesmo: Karl “mãos calejadas” Marx.
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DESENVOLVIMENTO
Enquanto vocês fazem dancinhas no TikTok e criam identidades líquidas a cada três stories, há algo que não muda: a estrutura do capital. Marx não escrevia threads no X, mas se o fizesse, teria viralizado com a seguinte pérola: “O capital não é uma ideia, é uma relação social de produção que se materializa no processo de exploração do trabalho.”
Mas, calma, geração Z. Eu sei que “relação social de produção” soa como um rolê chato de esquerda universitária. Então, vamos facilitar: o capital é aquilo que transforma você, sim, você, em mercadoria. Sua bio do Instagram é a etiqueta. Seu corpo, sua saúde mental, sua atenção, tudo isso virou produto. E o mais irônico? Você curte isso.
Lembram do “fetichismo da mercadoria”? Pois bem. A geração Z elevou o fetiche a um novo patamar. Agora, a mercadoria não precisa nem mais ser útil. Basta parecer desejável. Você compra um curso para aprender a fazer um curso sobre como vender um curso. Gênio. Marx escreveu que, no capitalismo, “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Vocês, no entanto, conseguiram transformar o ar em NFT.
E se o corpo é um templo, ele hoje é patrocinado por alguma marca de suplemento vegano com estética minimalista. A saúde mental? Está nos trending topics, mas desde que você não desligue o Wi-Fi. Porque, né, só é loucura se não engajar.
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CONCLUSÃO
Sabe, geração Z, talvez vocês não sejam o problema. Talvez estejam só encarnando o estágio mais avançado da lógica do capital: aquele em que até a crítica ao sistema já é monetizada com ads. O capital venceu? Não. Ele nem precisou lutar. Foi apenas aceito, estilizado, editado com filtro sépia e compartilhado com a hashtag
Mas, se quiserem uma dica, voltem um pouco para Marx. Não o Marx das frases de efeito no Pinterest, mas o Marx do trabalho alienado, do valor de uso versus valor de troca, do capital como vampiro que suga tempo e vida. Talvez, no fundo, o caminho para sair do vazio não seja criar mais conteúdo, mas sim encarar a materialidade que sustenta tudo isso – inclusive seus dilemas existenciais com 19 anos de idades
REFERÊNCIAS
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro 1. Tradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2011.
HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2017.
BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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