O Amor Líquido na Era do Desespero: Reflexões Sarcásticas à Luz de Cioran e Bauman
Por José Antônio Lucindo da Silva
Ah, o amor! Esse conceito nobre, elevado, profundo... ou, na verdade, apenas mais um aplicativo em nosso smartphone esperando para ser deslizado para a esquerda. Em um mundo onde os laços são tão firmes quanto um Wi-Fi de cafeteria, Zygmunt Bauman já havia nos alertado sobre o desastre em câmera lenta que chamamos de modernidade líquida. Mas, para quem busca uma pitada extra de pessimismo filosófico, Emil Cioran entra em cena, não para nos oferecer soluções, mas para rir do próprio absurdo de tentar encontrar um sentido nisso tudo.
Amor na era da superficialidade: um pedido de socorro mal disfarçado
Bauman nos fala sobre a fluidez das relações, mas Cioran, com seu charme niilista, parece sussurrar: “Vocês realmente acharam que havia profundidade alguma para ser dissolvida?”. O amor hoje não é um reflexo da busca pelo outro, mas uma tentativa desesperada de gritar “Eu existo!” em meio ao ruído ensurdecedor das notificações. O mais irônico é que, quanto mais tentamos conectar, mais isolados nos tornamos — um paradoxo digno de um bom meme filosófico.
Objetificar o outro: a arte sutil de fugir de si mesmo
Bauman diria que estamos transformando as pessoas em objetos. Cioran, no entanto, riria disso e completaria: "Como se já não fôssemos objetos do nosso próprio desespero". No fundo, a objetificação do outro é uma estratégia brilhante (ou desesperadamente patética) de evitar o verdadeiro confronto com aquilo que realmente assusta: nós mesmos. Afinal, encarar o vazio interior é um trabalho árduo — melhor abrir o Tinder.
Liberdade? Apenas mais uma prisão de luxo
A tão desejada “liberdade” das relações líquidas, segundo Bauman, deveria ser uma dádiva. Cioran, com sua elegância irônica, lembraria que ser livre para escolher infinitamente é também ser livre para sofrer com cada escolha descartada. E, no fim, liberdade não é mais um presente, mas uma sentença: a liberdade de se perder em um mar de possibilidades vazias.
Tecnologia: o templo moderno do desespero
As redes sociais não conectam, como dizem os discursos de autoajuda corporativa — elas institucionalizam o desespero. Cada curtida? Um tapa nas costas digital que diz: “Você ainda não desapareceu por completo”. Cioran, se vivo, provavelmente teria um perfil no Twitter apenas para postar frases sobre a futilidade de existir, enquanto Bauman tentaria entender por que as relações são mais líquidas que nunca, mesmo com tanta “interação” virtual.
Individualismo: a celebração do fracasso coletivo
Bauman alertou sobre o narcisismo moderno, mas Cioran provavelmente responderia com um bocejo entediado: “Vocês já estavam sozinhos antes mesmo do Instagram ser inventado”. A verdadeira ironia do individualismo contemporâneo é que ele se disfarça de autonomia, enquanto nos mergulha em um desespero coletivo que ninguém ousa admitir. Estamos todos sozinhos — só que agora temos filtros para parecer felizes.
Ressignificar o amor: Um workshop que ninguém deveria frequentar
Bauman acreditava na possibilidade de resgatar o amor através de um esforço genuíno. Já Cioran, bem, ele provavelmente sugeriria aceitar o fracasso e seguir em frente. Tentar ressignificar o amor na era líquida é como tentar consertar um navio afundando com um balde furado. O truque, talvez, seja rir do naufrágio enquanto ele acontece.
Conclusão: O amor como último ato de rebeldia (ou um bom motivo para rir do nada)
No fim das contas, Bauman ainda sonha com um amor sólido em um mundo líquido, enquanto Cioran gargalha do alto de sua amargura filosófica. E eu? Eu só tento não tropeçar nessa poça rasa de emoções que chamamos de sociedade moderna. Amar, hoje, talvez seja o último ato de rebeldia contra o vazio. Ou, quem sabe, só mais um espetáculo patético diante do inevitável colapso existência.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
CIORAN, Emil. Breviário da decomposição. São Paulo: Rocco, 2011.
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@jose Antônio psico
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