Vivemos em tempos estranhos. Nunca tivemos tanta liberdade para escolher, e nunca estivemos tão confortáveis em entregá-la nas mãos de terceiros — ou melhor, de algoritmos, influenciadores e narrativas vazias. Essa reflexão, caro leitor (e aqui está a ironia), não é para você curtir, compartilhar ou engajar. Não quero sua validação, muito menos sua crítica. Este texto é apenas uma tentativa de expor como estamos voluntariamente entregando o que nos resta de autonomia ao conforto do senso comum.
O Paradoxo da Influência
Comecemos com o protagonista contemporâneo: o influenciador. Essa figura mítica, geralmente presa em um quarto, armada de um celular e um sorriso plástico, distribui certezas para todos os gostos. E por que não o faria? Há uma demanda insaciável por respostas fáceis. Não importa que essas respostas sejam fundamentadas em narrativas rasas ou pseudociências; o que importa é que elas pareçam boas. Afinal, o número de curtidas e comentários positivos já é um atestado de verdade, não é mesmo?
O problema, no entanto, não é o influenciador. O problema somos nós, que aceitamos essas narrativas como verdades absolutas. O livre-arbítrio, essa ideia tão celebrada, foi descartado em nome do conforto. Em vez de questionar, escolhemos engajar. Em vez de desconfiar, escolhemos consumir. Estamos tão sedentos por segurança que aceitamos respostas prontas sem sequer pensar nas consequências.
A Marginalidade do Pensamento Crítico
Agora, eis o verdadeiro paradoxo: aqueles que questionam o senso comum são relegados à margem. Não porque suas ideias sejam perigosas ou subversivas, mas porque exigem esforço. Pensar dá trabalho. Questionar é desconfortável. Por que nos dar ao luxo de desconstruir narrativas quando podemos simplesmente aceitar o que nos é entregue de bandeja?
E aqui estamos: os influenciadores ocupam o centro do palco, enquanto o pensamento crítico se torna uma prática marginal. Mas não se engane, caro leitor, não estou me queixando. Prefiro a margem. É um espaço silencioso, distante da gritaria das curtidas e dos compartilhamentos, onde ainda há algum espaço para refletir. Mas, claro, isso é só para quem gosta de caminhar o caminho, como diria um pensador qualquer.
A Entrega do Livre-Arbítrio
A reflexão mais incômoda talvez seja esta: quando foi que decidimos que era aceitável terceirizar nossa autonomia? Não, não estou falando de confiar em profissionais ou especialistas. Estou falando de aceitar sem questionar, de engajar sem refletir, de consumir sem pensar. A verdade é que entregamos nosso livre-arbítrio por preguiça. E isso, meus caros, não é culpa dos influenciadores, dos algoritmos ou das redes sociais. É nossa culpa.
Considerações Finais
Se você leu até aqui esperando respostas, sinto muito. Não tenho nenhuma para oferecer. Este texto não é sobre você, leitor, e muito menos sobre mim. É uma reflexão sobre a nossa incapacidade de enxergar como estamos entregando, de bandeja, aquilo que nos torna humanos: a capacidade de escolher e questionar.
Não quero curtidas. Não quero compartilhamentos. Não quero sua validação. Quer curtir? Curta. Quer criticar? Sinta-se à vontade, mas saiba que essa reflexão não busca a sua opinião. É, como eu disse, apenas uma tentativa de convidar você — ou talvez só eu mesmo — a pensar.
Referências
https://www.bbc.com/portuguese/articles/clyx10pjgdzo
HAN, Byung-Chul. A Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2017.
FREUD, Sigmund. Psicologia das Massas e Análise do Eu. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
ZUBOFF, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021.
O'NEIL, Cathy. Algoritmos de Destruição em Massa. São Paulo: Autêntica, 2019.
TWENGE, Jean. I-Gen. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.
Observação Final
Esta não é uma tentativa de agradar, engajar ou vender algo. Não é um convite ao debate, tampouco uma opinião aberta para julgamento. É, simplesmente, uma reflexão sobre como estamos perdendo o que nos resta de autonomia. Se isso lhe incomoda, talvez seja um bom momento para se perguntar por quê.
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