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"Eu, criador de conteúdo? Só se for de questionamentos"


Olha, eu fui vasculhar sobre o que é ser um “criador de conteúdo digital”. Pensei: “Talvez eu seja isso, né?”. Li, pesquisei e, para minha surpresa (ou nem tanto), a resposta foi um sonoro “não”. É muito trabalho. Eu escrevo uns textos e jogo por aí, mas isso, definitivamente, não faz de mim um criador de conteúdo digital. Nem de longe. Meus textos não têm aquela leveza da vida na tela, aquela coisa mastigável para quem só quer deslizar o dedo e rir de um meme. Nada disso. Aqui, o buraco é mais embaixo – e tem lama.


Os assuntos que abordo? São profundos. Tão profundos que, quem se arrisca a ler, corre o sério risco de não voltar à superfície. Não falo de filtros bonitos ou frases motivacionais, não. Eu falo da realidade, daquela que morde. Discuto materialidade, valores (os reais, não os bancários), o que dá para imaginar em tempos em que a imaginação parece estar de folga. São questionamentos que faço para mim mesmo. Se publico, é só porque me deu vontade. Quem quiser ler, que leia. Quem não quiser, bom, problema resolvido: basta ignorar.


Meus textos são grandes, eu sei. Não dá para resumir vida concreta em 240 caracteres. E a vida, cá entre nós, não tem nada de simples. Quando dizem que as coisas simples são as melhores, eu logo desconfio. Afinal, simples? Para quem? Não caio nesse papo raso. O que falta hoje é profundidade. Tudo virou discurso plano, sem resistência, sem contrariedade. Esse tipo de discurso, eu te digo, vai dar ruim. Aliás, já deu.


Vivemos num tempo em que a profundidade virou exceção e o excesso é a regra. Todo mundo acreditou nessa ilusão de que vai viver para sempre, então, para quê pensar, não é? Freud já nos avisava: a civilização reprime os instintos, mas, hoje, parece que ninguém mais quer limite. E o resultado está aí: cyberbullying, discriminação, e discursos que, com sorte, acabam virando marketing. Porque tudo vira marketing.


Eu não faço marketing da minha reflexão. Não aqui. O que proponho, ironicamente, é algo simples: se questionar. E, veja, questionar é sempre mais importante do que saber. Sempre foi. Saber é confortável, mas questionar exige coragem. Onde está a imaginação que nos levou à lua? Não está nas redes sociais, eu te garanto. Imaginação não é algo que você coloca em oferta para os outros. Winnicott que o diga.


Então, sim, meus textos são grandes. São densos. Porque, se a ideia é pensar, não dá para fazer isso com pressa. Se eu quisesse ser rápido, eu publicaria vídeos dançando. Mas, como não é o caso, seguimos assim.


#maispertodaignorancia

@joseantoniolucindodasilva


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