Ah, a inteligência artificial, esse "Frankenstein" moderno que a humanidade insiste em demonizar! Parece que nos esquecemos de um detalhe básico: fomos nós que a criamos. Mas, claro, é mais fácil culpar os algoritmos do que encarar a verdade de que somos os responsáveis por seu uso — ou pelo mau uso. E, enquanto nos perdemos em discursos subjetivos sobre os perigos da IA, a realidade concreta fica lá, esquecida, gritando por soluções que ninguém parece disposto a ouvir.
Eu não posso deixar de rir da ironia. Toda essa comoção contra a IA parte de uma visão que ignora completamente o que realmente está em jogo: uma sociedade tão desconectada de sua própria materialidade que prefere criticar ferramentas ao invés de refletir sobre como elas poderiam ser usadas para resolver problemas reais. Quando leio textos que chamam a IA de "maldição", não posso deixar de perguntar: quem está realmente amaldiçoado aqui? A IA ou nossa incapacidade de fazer perguntas relevantes?
Se quisermos mesmo falar de "maldição", acho que deveríamos começar pela nossa própria ignorância. A IA, por si só, não é boa nem má. Ela simplesmente é. O problema está em como a utilizamos — ou não utilizamos. Por exemplo, imagine o potencial que ela tem para criar modelos de trabalho mais sustentáveis, melhorar a educação, ou até mesmo solucionar desigualdades. Mas, para isso, precisaríamos fazer perguntas concretas, baseadas na realidade vivida por cada um, e não perder tempo com abstrações lisas que deslizam pela tela de um smartphone sem deixar rastro.
O mais engraçado é que essa desconexão entre discurso e materialidade só reforça a crítica que tanto se tenta evitar. Enquanto alguns se preocupam em "subjetivizar" a IA, transformando-a em um espelho de nossas próprias frustrações, ela continua a ser usada para otimizar processos, aumentar lucros e, adivinhe, ampliar desigualdades. Não porque seja má, mas porque estamos ocupados demais apontando dedos para pensar em como poderíamos usá-la de forma diferente.
Ao invés de discutir se a IA é uma maldição, deveríamos nos perguntar por que temos tanto medo de fazer perguntas difíceis. Por que não usamos essa ferramenta para enfrentar nossa própria ignorância, simbolizar nossa condição humana e, quem sabe, encontrar respostas para as crises que nos cercam? Talvez porque isso exigiria tempo, esforço e, acima de tudo, coragem — três coisas que o ritmo alucinante do consumo não nos permite ter.
E, por fim, uma última ironia: a IA não precisa da nossa aceitação social. Ela já está aí, fazendo o trabalho sujo enquanto discutimos se ela é mocinha ou vilã. O problema, no fundo, não é a IA. Somos nós, sempre nós, os humanos, com nossa eterna dificuldade de encarar a realidade sem culpar o espelho que nós mesmos criamos.
Referências:
Freud, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Han, Byung-Chul. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
Dunker, Christian. Ciência Pouca é Bobagem. São Paulo: Boitempo, 2023.
#maispertodaignorancia
@joseantoniolucindodasilva
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