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A mostrar mensagens de abril, 2025

A Gravidade do Esperto

A Gravidade do Esperto — Ou Como o Dinheiro Gira o Discurso Nacional Por Silvan Dizem por aí que o Brasil é o país do futuro, mas ninguém avisou que o futuro ia chegar embrulhado em boleto digital e moral parcelada. De "malandro carnavalesco" a "empreendedor de nuvem", a esperteza virou patrimônio nacional com reconhecimento internacional — ainda que seja via Interpol (DAMATTA, 1979; SAGE JOURNALS, 2025). O brasileiro, orgulhoso inventor do "jeitinho", segue na crença firme de que regras são apenas "sugestões burocráticas". Afinal, como indica Ramos (1990), entre a fila do banco e a transferência irregular, existe apenas um QR code de distância. Bem-vindo ao século XXI, onde o "esperto" não apenas leva vantagem em tudo, como faz isso com a simpatia de quem ensina uma lição de moral enquanto esvazia sua carteira (VEJA, 2017). A verdade incômoda é que toda essa moralidade flutuante gira ao redor de um buraco negro chamado dinh...

Da Escola ao Feed!

Da Escola ao Feed! Resumo: Pretendo examinar, em primeira pessoa, a promessa de “regulamentar” o ambiente digital infantil — das novas Contas para Adolescentes do Instagram ao Projeto de Lei 2630/2020 — mostrando por que cada tentativa tropeça em velhos impasses: a transformação da ferramenta em vitrine, o narcisismo primário exposto a um feed global e a captura do cuidado pelos algoritmos. Retomo Freud, Winnicott, Illich e autores contemporâneos para argumentar que nenhuma norma terá êxito enquanto pais e filhos forem co-atores no mesmo palco de métricas. 1 | Introdução: da Escola ao Feed Começo lembrando que a história da infância sempre foi atravessada por dispositivos de controle: das primeiras leis de imprensa no século XIX, passando pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), até o Marco Civil da Internet (2014). Hoje, a discussão no Congresso gira em torno do PL 2630/2020, ainda sem consenso apesar de tramitar há quatro anos . Ao mesmo tempo, cem dias atrás, ma...

A ironia da máquina “ansiosa”

Texto Fonte para opinião A ironia da máquina “ansiosa” Li a notícia da IGN Brasil sobre algoritmos “bombardeados” por perguntas até ficarem “estressados” — ela pinta imagens de chips suando frio, quando, na prática, trata-se de degradação estatística, não de sofrimento existencial. Mesmo assim, o sensacionalismo cola porque cultivamos a fantasia de que a tecnologia herdará nossos dilemas e, por tabela, resolverá o que ignoramos em nós mesmos. É a velha transferência: em vez de encarar a angústia, terceirizamos a inquietação para um servidor em nuvem.  Narcisismo primário em pixels de dopamina Freud enxergou no narcisismo primário o primeiro espelho onde o Eu se reconhece pela aprovação do Outro.  Hoje, esse espelho mede 6,7 polegadas e exibe o placar diário de curtidas. Pesquisas brasileiras relacionam o uso intenso de redes sociais a picos de dopamina e a 45 % dos casos de ansiedade em jovens.  Ao reforçarmos a lógica da comparação infinita, convertemos desej...

Manual Íntimo para Super-Heróis de Papelão

Manual Íntimo para Super-Heróis de Papelão (ou: por que o planeta não liga para sua marca pessoal) --- 1. Introdução: aperte o cinto, o feed sumiu Ligamos o celular para verificar a “vida real” e descobrimos que ela vem sendo reescrita por relatórios climáticos com mais likes do que qualquer selfie nossa: +1,55 °C além da média pré-industrial em 2023/24 (ORGANIZAÇÃO METEOROLÓGICA MUNDIAL, 2024). O algoritmo, ao que parece, não avisa quando a atmosfera muda de versão. Enquanto isso, continuamos a vestir a armadura narcísica descrita por Ernest Becker: a mentira caracteriológica que nos vende a ilusão de sermos especiais o bastante para driblar a morte (BECKER, 2014). A ironia? O dióxido de carbono não segue influenciadores. --- 2. O ego como protocolo de emissão 1. Premissa ontológica - “Eu posto, logo persisto”. 2. Resultado termodinâmico - cada like custa alguns gramas a mais de CO₂ no data center. A alta performance individual virou combustível literal. Nosso esforço em “...

"Existir Entre Restos".Diálogo entre Eu e Silvano — Existir Entre Restos

Diálogo entre Eu e Silvano — Existir Entre Restos Neste diálogo, atravessamos reflexões sobre a materialidade da vida, a falsa promessa da felicidade futura, e a alienação contemporânea. Com base em autores como Byung-Chul Han, Friedrich Nietzsche, André Green e Slavoj Žižek, o texto busca desconstruir ilusões modernizadas sobre resistência, felicidade e sofrimento. Eu: A incongruência parece ter se tornado o novo normal, Silvano. A cada dia que vivo, me parece mais claro: nossa relação com o trauma, com a existência, com a própria história, é atravessada por uma linha torta. Nada é reto, nem mesmo a dor. Silvano: É, meu chapa... Você ainda tem fome de tentar explicar? Hahaha. Eu tô aqui, ó, sentado no barranco da vida, vendo os helicópteros da modernidade passando e derrubando areia em cima da gente. No fundo, só existe a vida que já ficou pra trás. A que tá aqui, essa que chamam de 'agora', essa a gente nem sente mais. Eu: E não é só sensação, não. É como o Byung-...

A Dor Que Resta — Quando o Corpo Diz o que o Discurso Cala

A Dor Que Resta — Quando o Corpo Diz o que o Discurso Cala Escrevo este texto não com o desejo de trazer respostas, mas talvez com a necessidade de sustentar aquilo que tem sido esquecido — o vivido. E não falo aqui de nostalgia. Nostalgia é marketing emocional, não existência. Falo do vivido mesmo: aquele que dói, que arranha, que cansa, que constrange. Aquele que, ironicamente, parece só ganhar legitimidade quando o corpo adoece. Temos nos tornado especialistas em elaborar discursos. O sujeito contemporâneo fala de si com uma fluidez admirável, mas sem jamais tocar o que é. Vivemos em um tempo onde a subjetividade foi terceirizada ao algoritmo e a dor, se não for convertida em conteúdo, perde o direito de existir. A performance venceu. O eu virou vitrine. Nesse cenário, a doença física parece, paradoxalmente, ser o último gesto autêntico de um corpo que grita: "Estou aqui!" Não porque o corpo queira adoecer — que fique claro — mas porque talvez só a dor física s...

Entre Algoritmos e Existência: A Ilusão da Superação da Inteligência Humana pela Inteligência Artificial

Fonte da Critica Entre Algoritmos e Existência: A Ilusão da Superação da Inteligência Humana pela Inteligência Artificial Autor: José Antônio Lucindo da Silva, psicólogo (CRP: 06/172551), pesquisador independente de filosofia da tecnologia e estudos da mente. Introdução Em abril de 2025, durante a conferência Brazil at Silicon Valley, o psicólogo Michal Kosinski, da Universidade de Stanford, afirmou que "já ultrapassamos a inteligência artificial geral (AGI)". Essa declaração provocou debates intensos sobre o que realmente significa "inteligência" e se as máquinas podem, de fato, superar a cognição humana. Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre essa afirmação, explorando as distinções entre inteligência humana e artificial, e questionando as bases sobre as quais tais comparações são feitas. 1. A Redução da Inteligência à Eficiência Algorítmica Kosinski argumenta que, ao realizar tarefas como escrever poemas ou traduzir idiomas com rapidez e precis...

A Terapia Algorítmica e o Funeral do Recalque

A Terapia Algorítmica e o Funeral do Recalque Vivemos uma era curiosa — talvez cômica, talvez trágica. Uma era em que a dor precisa caber em 280 caracteres, o desejo deve ser monetizável, e a angústia, se não gerar engajamento, é ignorada pelo algoritmo. Me disseram que agora temos terapeutas digitais. IAs que acolhem, sugerem e “escutam”. E o melhor: nunca dormem, nunca atrasam, e jamais interpretam de um jeito que te deixe desconfortável. Um sonho, não? Mas vamos com calma. Suponha que alguém, perdido em sua existência instagrâmica, resolva procurar ajuda. Vai até seu chatbot favorito e desabafa: “Sinto um vazio”. A IA, rápida e prestativa, responde: “Você já tentou mindfulness e uma playlist de lo-fi beats?” A pergunta que me assombra é: de qual vida esse sujeito está falando? Da sua materialidade concreta ou da sua performance digital cuidadosamente curada? A IA só tem acesso ao discurso midiático, ao “eu funcional”, como nos alertou Byung-Chul Han (2017), aquele que pe...

Quando o Eu Encontra o Algoritmo: Alucinação, Superego e a Fragilidade do Sujeito

Quando o Eu Encontra o Algoritmo: Alucinação, Superego e a Fragilidade do Sujeito Por José Antônio Lucindo da Silva – CRP: 06/172551 Falar sobre o sujeito na contemporaneidade é, inevitavelmente, falar sobre espelhos. Mas não mais os espelhos de Lacan, onde o eu se constitui ao ver-se pelo olhar do outro. Hoje, os espelhos são telas. Algoritmos. Interfaces. Filtros. O eu contemporâneo não deseja ser — deseja ser visto. E, mais do que isso, deseja ser confirmado. Ao longo dessa reflexão, que se constrói como uma travessia entre Freud, Lacan, Han, Zuboff, Kierkegaard e minha própria vivência situada, tento compreender se ainda é possível sustentar a existência de um sujeito em meio à dissolução simbólica provocada pela IA e pela hiperexposição digital. Percebo que a IA — longe de ser uma ameaça futura — é um reflexo. E talvez o reflexo mais perverso do que nos tornamos: seres que trocam a elaboração pela resposta, o desejo pela demanda, e o luto pela curtida. A inteligên...

Eu, o Algoritmo e a Morte do Sujeito

Texto Original Eu, o Algoritmo e a Morte do Sujeito Por José Antônio Lucindo da Silva CRP: 06/172551 Vivemos numa era onde a pergunta deixou de ser uma busca e passou a ser uma função. A inteligência artificial, celebrada como um avanço, talvez seja apenas o reflexo mais sofisticado daquilo que nos recusamos a ver: não queremos mais ser sujeitos. Queremos apenas não sofrer. E isso, por si só, já revela a falência do Eros e da subjetividade. Se Freud nos alertava que é na tensão entre o eu e o outro que se estrutura a vida psíquica, hoje buscamos apenas um outro que nos diga sim. Um like. Um reforço positivo. Um eco domesticado. O narcisismo primário, que exigia o olhar do outro para nos constituir, foi pervertido pela lógica algorítmica: agora, o outro foi substituído por um reflexo digital que só confirma aquilo que desejamos ver. A IA não tensiona, não frustra, não elabora. Ela responde. Ela entrega. Ela funciona. E é exatamente isso que assusta. Porque funcionamos com el...

O Silenciamento como Poder: Entre a Fragilidade da Autoridade e a Judicialização do Afeto

Texto fonte O Silenciamento como Poder: Entre a Fragilidade da Autoridade e a Judicialização do Afeto Introdução Vivemos um tempo em que a dor passou a ter mais valor político que a razão. Onde a ofensa virou ferramenta de gestão, e o insulto, catalisador de processos judiciais. Nesse contexto, o discurso público é cada vez mais pautado pela demanda afetiva e não pela articulação racional. Este ensaio propõe-se a pensar o que acontece quando o poder político — no caso, a figura do presidente da República — não mais sustenta seu papel simbólico, mas aciona o judiciário para validar a sua vulnerabilidade. 1. A Autoridade Ferida e a Crise do Poder Simbólico A autoridade, como lembra Byung-Chul Han em O Que é o Poder? , não se afirma pela força, mas pela aceitação do outro, pela internalização voluntária da ordem. Quando um presidente precisa da Polícia Federal para reagir a um insulto como "ladrão", ele não reafirma o poder: ele o denuncia. Revela sua incapacidad...

O Paradoxo da Escuta: Quando a Dor Só é Reconhecida no Desejo de Morrer

Fonte da Opinião O Paradoxo da Escuta: Quando a Dor Só é Reconhecida no Desejo de Morrer Autor: José Antônio Lucindo da Silva CRP: 06/172551 RESUMO: O presente artigo propõe uma reflexão crítica sobre o esvaziamento ético da escuta diante do sofrimento contemporâneo. A partir do caso de April Hubbard, canadense que solicitou e obteve permissão legal para a morte assistida, discute-se como a dor só é legitimada quando se manifesta como desejo de desaparecimento. A análise é atravessada por autores como Byung-Chul Han e Zygmunt Bauman, e confronta o paradoxo da positividade com a precariedade das políticas públicas no cuidado com a vida. Palavras-chave: Sofrimento. Positividade. Morte assistida. Escuta. Ética. --- INTRODUÇÃO O sofrimento humano sempre demandou escuta, acolhimento e elaboração simbólica. Contudo, no contexto contemporâneo, marcado por discursos de alta performance emocional e positividade compulsória, o espaço para a dor foi sendo gradualmente substituído pela...

A consciência como serviço: quando o sujeito vira atualização de sistema

A consciência como serviço: quando o sujeito vira atualização de sistema Por José Antônio Lucindo da Silva CRP: 06/172551 O primeiro episódio da sétima temporada de Black Mirror, intitulado "Pessoas Comuns", é mais do que uma distopia tecnológica: é um espelho incômodo que nos devolve não a imagem do futuro, mas o reflexo mais cru do presente. A trama acompanha Amanda, professora diagnosticada com um tumor cerebral, cuja "cura" é oferecida por uma empresa chamada Rivermind: remover a parte afetada de seu cérebro e substituí-la por tecido sintético, conectado a um servidor remoto. Em troca, ela viverá. Desde que se pague a mensalidade. Não se trata mais de imortalidade, como prometia o transumanismo. Trata-se da amortalidade: uma existência que não morre, mas também não vive. Amanda torna-se funcional, performática, uma plataforma de si mesma. Para manter seu funcionamento, ela passa a veicular anúncios involuntários em sua fala. A dor não é mais um sinto...

A Angústia como Pedra: Uma Travessia Existencial entre Freud, Lacan, Fédida, Kierkegaard, Camus e Cioran

Ouça em nosso Podcast A Angústia como Pedra: Uma Travessia Existencial entre Freud, Lacan, Fédida, Kierkegaard, Camus e Cioran Autor: José Antônio Lucindo da Silva CRP: 06/172551 A angústia como matéria do ser A angústia, ao contrário do que prega a lógica contemporânea da positividade, não é um defeito emocional nem um obstáculo ao bem-estar. Ela é, talvez, a expressão mais autêutica da condição humana. Enquanto a modernidade digital se empenha em higienizar os afetos, vendendo soluções rápidas para qualquer desconforto, a angústia persiste como um sinal irredutível do Real: ela não serve para nada, como diria Vera Iaconelli, mas está aí, atravessando o corpo e o tempo. Freud: o recalque e a dor civilizatória Freud, em O Mal-Estar na Civilização , já indicava que a cultura é edificada sobre o recalque das pulsões. Sem recalque, não há civilização. Mas também sem dor. A angústia é esse resto que emerge quando o desejo não encontra saída, mas também não pode ser esq...

O Eu em Colapso: Infância, Performance e a Falência da Elaboração Simbólica na Era Digital

O Eu em Colapso: Infância, Performance e a Falência da Elaboração Simbólica na Era Digital Introdução Este ensaio é fruto de um ciclo reflexivo construído em diálogo, partindo de uma série de perguntas que revelam, camada por camada, o colapso simbólico da infância contemporânea. Aqui, investigo como a dissolução do recalque, a performatividade do "eu", a captura da subjetividade pelas lógicas de consumo e visibilidade, e o comprometimento neurobiológico na formação do sujeito comprometeram de forma radical a possibilidade de um desenvolvimento psíquico genuíno. A performatividade do Eu e o narcisismo ampliado A primeira questão que se coloca é: que tipo de "eu" pode surgir quando toda a construção simbólica está baseada em curtidas, confirmações e performances visuais? O infante, nesse contexto, é projetado diretamente ao narcisismo primário sem qualquer tempo de elaboração da falta. Ele é visto antes de se ver. Vive uma imagem antes de ser um sujei...

O Eu em Colapso: Infância, Performance e a Falência da Elaboração Simbólica na Era Digital

Texto da opinião O Eu em Colapso: Infância, Performance e a Falência da Elaboração Simbólica na Era Digital Por Jose Antônio Lucindo da Silva  Introdução Este ensaio é fruto de um ciclo reflexivo construído em diálogo, partindo de uma série de perguntas que revelam, camada por camada, o colapso simbólico da infância contemporânea. Aqui, investigo como a dissolução do recalque, a performatividade do "eu" e a captura da subjetividade pelas lógicas de consumo e visibilidade comprometeram de forma radical a possibilidade de um desenvolvimento psíquico genuíno. A performatividade do Eu e o narcisismo ampliado A primeira questão que se coloca é: que tipo de "eu" pode surgir quando toda a construção simbólica está baseada em curtidas, confirmações e performances visuais? O infante, nesse contexto, é projetado diretamente ao narcisismo primário sem qualquer tempo de elaboração da falta. Ele é visto antes de se ver. Vive uma imagem antes de ser um sujeito. A terc...

A Mentira das Duas Vidas

A Mentira das Duas Vidas: subjetividade, objeto e a ausência do Outro Resumo: Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a dissociação entre a vida material e a vida discursiva mediada por tecnologias digitais. A partir de um caso cotidiano de relação afetiva marcada por duplicidade simbólica e alienação subjetiva, articula-se um diálogo entre Freud, Lacan, Bauman e Byung-Chul Han para pensar a falência do sujeito diante do esvaziamento do desejo, a conversão do outro em objeto funcional e a consequente explosão do eu diante da impossibilidade de elaboração simbólica. Palavras-chave: subjetividade; discurso digital; desejo; alteridade; psicanálise contemporânea. Introdução As relações humanas, ao adentrarem o regime da virtualidade, tornam-se cenário de duplicidades subjetivas que desafiam as estruturas clássicas do laço social. Este artigo parte de uma narrativa concreta para investigar os efeitos clínicos e simbólicos da dissociação entre a vida material e a vid...

DOOMSCROLLING, ENGRENAGEM E EXISTÊNCIA: O PARADOXO DA PRESENÇA DIGITAL NA ERA DA NEGATIVIDADE FUNCIONAL

Escute em nosso Podcast DOOMSCROLLING, ENGRENAGEM E EXISTÊNCIA: O PARADOXO DA PRESENÇA DIGITAL NA ERA DA NEGATIVIDADE FUNCIONAL Resumo: Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre o fenômeno do doomscrolling à luz da lógica discursiva mediática contemporânea. Partindo da constatação de que o consumo excessivo de conteúdos negativos está longe de ser um acidente e se aproxima de uma funcionalidade algorítmica, argumenta-se que até a crítica se tornou mercadoria, dissolvendo o sujeito em uma performance de presença constante. Utiliza-se o pensamento de Byung-Chul Han, Sigmund Freud e Emil Cioran para pensar o esvaziamento da alteridade, a monetização da angústia e a perda de sentido simbólico nas interações digitais. O texto é escrito em primeira pessoa como recurso metodológico para mostrar a implicação do próprio autor no fenômeno que denuncia. Palavras-chave: Doomscrolling; Algoritmo; Angústia; Alteridade; Discurso mediático. 1 Introdução Eu poderia dizer que acordei mai...