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Quando o Pêndulo Parar: Ou Como a Felicidade se Tornou um Produto Defeituoso

Quando o Pêndulo Parar: Ou Como a Felicidade se Tornou um Produto Defeituoso Tem dias em que me pergunto se o problema da humanidade é o sofrimento... ou a proibição de sofrer. Sofrer virou uma espécie de crime existencial, um erro de cálculo emocional, uma falha de sistema na grande engrenagem da positividade. Não é que não possamos mais sofrer — é que agora precisamos pedir desculpas por isso. Afinal, a felicidade virou uma obrigação civilizatória. Um aplicativo que, se não estiver rodando em segundo plano, significa que há algo de errado comigo. Acontece que, como já disse aquele velho pessimista chamado Schopenhauer, a vida nada mais é do que um pêndulo que oscila entre o tédio e o desejo (SCHOPENHAUER, 2005). E nesse vai-e-vem incansável, esquecemos de perguntar: "Pra quê tudo isso?". Freud, com sua costumeira ironia, já tinha nos avisado que o projeto da felicidade não fazia parte do contrato original da criação (FREUD, 1996). Deus, ou o acaso — escolha sua ...

Parte 2 Final Adolescência: a brutalidade como última linguagem

Adolescência: a brutalidade como última linguagem Na série Adolescência, o plano-sequência não é apenas recurso técnico — é denúncia ética. Jamie, o garoto de treze anos acusado de um assassinato brutal, é o corpo onde se inscreve um discurso que a sociedade adulta terceirizou há muito tempo. Um discurso digital, fragmentado, sem elaboração simbólica, onde o desejo é substituído por algoritmos e a dor vira conteúdo. Byung-Chul Han nos alerta para a extinção da negatividade: vivemos numa era onde tudo precisa ser positivo, rápido, visível. Não há mais espaço para o recuo, para o recalque, para o silêncio elaborativo. E Freud, em seu modelo pulsional, já nos dizia: a cultura é feita a partir da tensão, do recalque e da sublimação. Sem isso, não há elaboração — só descarga. Sem espaço para o desejo, resta apenas o ato. É aqui que Fédida entra: o trauma não simbolizado, não escutado, não elaborado, retorna no real — e muitas vezes como violência. Jamie não agiu de forma gratuit...

Adolescência: a brutalidade como última linguagem

Adolescência: a brutalidade como última linguagem Na série Adolescência, o plano-sequência não é apenas recurso técnico — é denúncia ética. Jamie, o garoto de treze anos acusado de um assassinato brutal, é o corpo onde se inscreve um discurso que a sociedade adulta terceirizou há muito tempo. Um discurso digital, fragmentado, sem elaboração simbólica, onde o desejo é substituído por algoritmos e a dor vira conteúdo. Byung-Chul Han nos alerta para a extinção da negatividade: vivemos numa era onde tudo precisa ser positivo, rápido, visível. Não há mais espaço para o recuo, para o recalque, para o silêncio elaborativo. E Freud, em seu modelo pulsional, já nos dizia: a cultura é feita a partir da tensão, do recalque e da sublimação. Sem isso, não há elaboração — só descarga. Sem espaço para o desejo, resta apenas o ato. É aqui que Fédida entra: o trauma não simbolizado, não escutado, não elaborado, retorna no real — e muitas vezes como violência. Jamie não agiu de forma gratuit...

Entre o Eu Customizado e o Sentimento Oceânico: Ensaios sobre o Colapso da Subjetividade

Entre o Eu Customizado e o Sentimento Oceânico: Ensaios sobre o Colapso da Subjetividade Por José Antônio Lucindo da Silva – CRP 06/172551 Vivemos em um tempo em que o "eu" deixou de ser construído para ser customizado. E não se trata de um jogo de palavras, mas de um deslocamento ético, simbólico e estrutural que denuncia o esvaziamento da subjetividade. Como sustentar um sujeito ético se o "eu" é apenas um template performativo validado por algoritmos e moldado por demandas e curtidas? Como falar em valores ou mesmo em sofrimento, se este é rapidamente convertido em post, meme, diagnóstico e métrica? Freud, em O Mal-Estar na Civilização, foi claro ao afirmar que a felicidade não foi considerada pelo Criador como parte do projeto da criatura. A civilização exigiria, portanto, repressão das pulsões, recalque, e o surgimento de um superego que, mesmo cruel, forneceria os limites necessários à construção simbólica. No entanto, o que temos hoje é um cênico ...

No deserto de discursos: uma travessia irônica da não escolha

No deserto de discursos: uma travessia irônica da não escolha Resumo: Este artigo-reflexão é uma travessia pessoal e irônica pelas paisagens áridas da discursividade contemporânea, marcada por uma hiperexposição simbólica e pela ilusão de escolha. Parto da consciência de que tudo já virou conteúdo, inclusive este próprio texto. Ao caminhar entre Nietzsche, Byung-Chul Han, Jean Twenge, Susana Zuboff, Shakespeare, Erving Goffman e Amélie Nothomb, procuro não encontrar saída, mas apenas sustentar o desconforto da própria presença. Palavras-chave: discurso, ironia, não-escolha, materialidade, capitalismo de vigilância Eu começo este texto como quem sabe que está sendo vigiado. Não me refiro apenas aos olhos do leitor (que, se chegou até aqui, merece um prêmio ou um alerta), mas ao sistema. Sim, aquele mesmo que Susana Zuboff chamou de capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2020). Estou aqui, falando sobre ele, alimentando-o. Que ironia. Eu tento resistir, claro. Tento não post...

Apresentação do blogger!

#maispertodaignorancia Mais Perto da Ignorância por Silvan (alter ego de José Antônio) Sim. Eu sou o blog: O blog: https://maispertodaignorancia.blogspot.com/ Me chamo Mais Perto da Ignorância, mas sou administrado por José Antônio. Ainda assim, quem vos fala aqui sou eu: Silvan. Um nome qualquer. Um nome que não se importa com a celebridade, com o número de acessos, com os algoritmos. Um nome que só existe porque é preciso que alguém fale aquilo que muitos evitam sentir. E que poucos, muito poucos, querem realmente escutar. Este blog não é um espaço de luz. Não há iluminação, não há trilha de autoajuda, não há promessa de reencontro com um “eu verdadeiro”. Este blog é sombra. Mas não porque rejeita a verdade — e sim porque sabe que a verdade, quando despejada sem o corpo que a sustenta, se transforma em ruído, espetáculo ou produto. Se você chegou até aqui querendo entender o que é esse espaço, então entenda: a ignorância aqui não é burrice. É a margem. É a dobra do saber....

Do Alô ao Adeus: breves anotações sobre um aparelho que virou túmulo

Do Alô ao Adeus: breves anotações sobre um aparelho que virou túmulo "Ninguém deveria morrer por um objeto inanimado — ainda mais um que foi criado apenas para fazer ligações." 1. Prólogo: o som do primeiro ‘alô’ O celular nasceu tímido. Um intermediador entre vozes distantes, uma solução para encontros impossíveis. Era um fio invisível que encurtava o espaço, mas não o tempo. Para usá-lo, era preciso *ligar* — verbo já em desuso. Sua função era direta, objetiva, sem mistério. Mas isso foi antes do 'eu'. 2. Mutação: do aparelho à persona Com o tempo, o celular abandonou sua modéstia. Ganhou câmeras, redes, memórias, curtidas. Deixou de ser um meio e passou a ser o espelho portátil do sujeito contemporâneo. Não se liga mais para ouvir, apenas para se ver sendo visto. A câmera frontal substituiu o ouvido. O celular se tornou um altar portátil do ego — e onde há altar, há sacrifício. 3. O ‘eu’ dentro do bolso Hoje o celular é identidade, banco de dados afetiv...