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Indústria, comércio e capital em tempos de IA generativa: inteligência artificial, burrice coletiva

Indústria, comércio e capital em tempos de IA generativa: inteligência artificial, burrice coletiva Os incidentes com IA generativa cresceram quase dez vezes no Brasil em apenas um ano, mas a maior parte das empresas industriais e comerciais ainda a utiliza de forma tímida e, muitas vezes, sem qualquer governança séria.   Enquanto o Senado corre para aprovar um PL que ninguém leu inteiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reclama que a lei pode “atrapalhar a inovação” — o que, no dialeto de Brasília, significa: atrapalhar o lucro. Entre o marketing das big techs, a pressa das startups e o silêncio constrangido das fábricas que já vazaram dados, o País parece ter terceirizado a dúvida para a própria máquina. 1 | Retrato de um choque algorítmico Relatório da Unit 42 revela salto de 890 % no tráfego ligado a GenAI e mais que o dobro de incidentes de perda de dados em 2024-25. 2 | Indústria: “tenho IA, logo existo” Segundo a pesquisa anual do FGVcia, 80 % das empresas brasilei...

Silvan me ligou (e eu quase atendi)

  Silvan me ligou (e eu quase atendi) Silvan me ligou. É raro, quase um milagre pós-moderno. Mais raro ainda foi eu perceber a chamada. O toque do telefone, hoje, é como o alarme de incêndio de um shopping: a gente ouve, mas só corre se for trending. Atendi? Não. Esperei cair na caixa postal. Ele insistiu. Mandou mensagem. "Ninguém me responde mais", escreveu, com a aflição típica de quem ainda acredita em reciprocidade offline. E como eu sou um masoquista dialético, resolvi encontrá-lo. Boteco da vida. Cerveja morna. Ausências frescas. Silvan chegou reclamando. Dizendo que ninguém o atende. Que todo mundo sumiu. Que ligações viraram insulto. Suspirei fundo. Dei meu gole. E respondi: "Silvan, mais da metade da população vive isso. Vivemos todos conectados, mas ninguém está próximo de ninguém." Ele não entendeu. Silvan nunca entendeu. O problema é que ele ainda dá valor a vínculos. Ele ainda acredita em presença. Acha que o toque na porta substitui o toque na tela. Q...

Trabalhar Menos Para Produzir Mais? A Arapuca da Eficiência Domesticada

Trabalhar Menos Para Produzir Mais? A Arapuca da Eficiência Domesticada (https://revistagalileu.globo.com/saude/noticia/2025/07/quais-as-conclusoes-do-maior-estudo-sobre-a-semana-de-trabalho-com-4-dias.ghtml) A matéria da Revista Galileu, publicada em julho de 2025, apresenta os resultados entusiasmados do maior ensaio sobre a semana de trabalho de quatro dias no Reino Unido: 92 % das empresas mantiveram o modelo após seis meses, afirmando ganhos de produtividade e de bem‑estar. Mas, sob a ótica do projeto “Mais Perto da Ignorância”, a estatística reluz como superfície polida que reflete – e esconde – a mesma engrenagem que nos exaure. A promessa de tempo livre figura como triunfo civilizatório desde Keynes (1930), que previa uma semana de quinze horas. Contudo, o capitalismo tardio converteu o ócio em instrumento de aceleração: trabalhamos menos horas formais, mas ampliamos a disponibilidade psíquica ao trabalho, respondendo e‑mails pelo celular, cultivando competências em cursos notu...

Solidão: a epidemia silenciosa no mundo que insiste em não ser ouvida

Solidão: a epidemia silenciosa no mundo que insiste em não ser ouvida (https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2025/07/7203611-solidao-mata-100-pessoas-por-hora-no-mundo-alerta-neurologista.html) Em um planeta hiperconectado, onde cada segundo é compartilhado em tempo real, a solidão ainda reina — e mata. A matéria do Correio Braziliense revela um dado alarmante: 100 pessoas morrem por hora em decorrência da solidão, segundo alerta do neurologista Fabiano de Abreu. Um dado que deveria nos fazer parar. Mas não paramos. A pressa pelo sucesso, a estetização do bem-estar e a substituição das relações por telas pavimentam o caminho de uma nova epidemia: a ausência do outro real. Na lógica discursiva digital, o laço afetivo foi resumido a um emoji, e a dor, anestesiada com performances. Paradoxalmente, nunca estivemos tão cercados — e tão isolados. O “eu” tornou-se soberano, mas esse soberano governa um trono vazio. A dopamina de uma notificação substitui o toque...

Na palma da mão: o superego algoritmizado e o colapso do íntimo

Na palma da mão: o superego algoritmizado e o colapso do íntimo Resumo Este artigo investiga a mutação do superego freudiano frente à lógica da hipervisibilidade mediática contemporânea.  A partir da clínica psicológica e do pensamento de autores como Freud, Byung-Chul Han e Zygmunt Bauman, propõe-se que o superego — outrora instância simbólica internalizada — hoje opera como uma exigência de performance visível, alimentada por redes sociais e métricas algorítmicas.  Examina-se como esse deslocamento produz sintomas inéditos, dificulta a escuta subjetiva e desafia a ética clínica.  Conclui-se que a clínica, mais do que nunca, precisa sustentar o espaço da elaboração como resistência à dissolução do sujeito. Abstract This article investigates the mutation of the Freudian superego in light of the logic of contemporary mediatic hypervisibility. Drawing from clinical psychology and authors such as Freud, Byung-Chul Han, and Zygmunt Bauman, it is proposed that the ...

Dominado, logo substituível!

Diplomado, logo substituível Podcast (https://exame.com/carreira/profissional-mais-afetado-pela-ia-sera-aquele-com-diploma-que-pensava-estar-seguro-diz-ceo-5/) Há algo profundamente revelador no alerta do CEO da Adecco Group: “o profissional mais afetado pela IA será aquele com diploma, que pensava estar seguro”. Seria cômico, não fosse trágico. A educação, outrora passaporte para a ascensão social e segurança profissional, tornou-se, paradoxalmente, o atestado de obsolescência de muitos. É a ironia suprema da meritocracia: o esforço, agora, pode significar apenas que você estudou para ser superado por um algoritmo mais rápido e incansável. Talvez estejamos diante do colapso simbólico do diploma. Não porque o conhecimento tenha perdido valor, mas porque a nova forma de valor não tolera demora, elaboração, nem dúvida. O algoritmo não precisa de cafés para pensar. Ele responde. Certeiro. Sem angústia. E isso é o que se quer. Nada de pausa existencial. Nada de “deixe-m...

Dignidade em 7 passos? A psicologia reduzida à moral de bolso

Dignidade em 7 passos? A psicologia reduzida à moral de bolso (https://www.correiobraziliense.com.br/cbradar/7-comportamentos-que-demonstram-falta-de-dignidade-segundo-a-psicologia/) No artigo “7 comportamentos que demonstram falta de dignidade, segundo a psicologia”, publicado pelo Correio Braziliense, nos deparamos com uma tentativa apressada de transformar a psicologia em um guia moral. Humilhar, mentir, não assumir responsabilidades, manipular, ser desleal, tratar mal subordinados e julgar — esses comportamentos, segundo o texto, configurariam um quadro de “falta de dignidade”. Mas será mesmo que a subjetividade humana pode ser resumida a sete tópicos listados numa matéria de autoajuda? Dignidade, dentro da psicologia, é uma experiência relacional, atravessada pelo contexto histórico, social e simbólico. Ela não reside apenas no comportamento observável, mas no lugar que esse comportamento ocupa na vida psíquica do sujeito. Quando o artigo afirma que a mentira,...