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Dominado, logo substituível!

Diplomado, logo substituível

(https://exame.com/carreira/profissional-mais-afetado-pela-ia-sera-aquele-com-diploma-que-pensava-estar-seguro-diz-ceo-5/)

Há algo profundamente revelador no alerta do CEO da Adecco Group: “o profissional mais afetado pela IA será aquele com diploma, que pensava estar seguro”. Seria cômico, não fosse trágico. A educação, outrora passaporte para a ascensão social e segurança profissional, tornou-se, paradoxalmente, o atestado de obsolescência de muitos. É a ironia suprema da meritocracia: o esforço, agora, pode significar apenas que você estudou para ser superado por um algoritmo mais rápido e incansável.

Talvez estejamos diante do colapso simbólico do diploma. Não porque o conhecimento tenha perdido valor, mas porque a nova forma de valor não tolera demora, elaboração, nem dúvida. O algoritmo não precisa de cafés para pensar. Ele responde. Certeiro. Sem angústia. E isso é o que se quer. Nada de pausa existencial. Nada de “deixe-me elaborar melhor essa ideia”. Pensar tornou-se um luxo disfuncional num mundo que exige respostas antes mesmo da pergunta.

Segundo o CEO, o que irá diferenciar os profissionais será a “inteligência emocional”. Mas vejamos com cuidado: não estamos falando aqui da sensibilidade genuína, mas de uma performance emocional ajustada ao algoritmo. Inteligência emocional não como um modo de escuta afetiva do outro, mas como uma funcionalidade estratégica. Ou seja: um novo mercado de algoritmização da emoção, em que o “emocional” é apenas mais um protocolo de produtividade.

Nos resta então observar que o que está sendo retirado do humano não é apenas o trabalho. É o direito de se demorar em si. A IA chega como o novo espelho de nossas ansiedades, substituindo até mesmo a dúvida por respostas que reforçam a ideologia do desempenho. Pensávamos que o diploma nos blindava da precariedade. Mas o que ele fez, ao fim, foi nos alinhar mais rápido à lógica de uma empregabilidade descartável.

Será que, nesse novo cenário, restará espaço para errar, hesitar, ou simplesmente não saber?

Leia a matéria completa aqui:


(https://exame.com/carreira/profissional-mais-afetado-pela-ia-sera-aquele-com-diploma-que-pensava-estar-seguro-diz-ceo-5/)


Notas do Autor: Texto elaborado com base nas reflexões do projeto "Mais Perto da Ignorância".


Nota sobre o autor

José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP 06/172551), pesquisador independente e autor do projeto “Mais Perto da Ignorância”, onde analisa a cultura digital sob lentes psicanalíticas, niilistas e existencialistas. Atua na clínica com foco na escuta daquilo que não aparece: a ausência, o sintoma, o tempo. Criador do blog homônimo, dedica-se a escrever contra a anestesia da positividade e a denunciar a mercantilização do sofrimento como ferramenta de controle subjetivo. Cultiva a dúvida como gesto ético. Acredita que, se o superego hoje é um botão na tela, o silêncio ainda pode ser uma forma de resistência.

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