Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

Suicídio Algorítmico e o Vazio do Eu

Suicídio Algorítmico e o Vazio do Eu 🕓 Escrito em 07/09/2025 · 18h35 (America/Sao_Paulo) O suicídio, que Durkheim tratou como fato social, hoje se vê atravessado por uma camada inédita: o algoritmo que retroalimenta delírios, angústias e comparações. Não se trata mais apenas de pertencer ou não pertencer a um grupo social, mas de ser co-produzido por códigos binários que colonizam a palavra, moldam o pensamento e corroem a experiência do Eu. Spinoza já alertava: morremos de tristeza antes do último suspiro. Cada encontro que nos diminui é uma pequena morte. O que mudou é que hoje os encontros mediáticos — likes, notificações, interações com chatbots — podem entristecer mais do que qualquer solidão material. O algoritmo se torna cúmplice simbólico de psicopatologias, devolvendo não o outro, mas o reflexo vazio de um Eu colonizado. Freud, em Luto e Melancolia, descreveu a sombra da perda projetada sobre o Eu. Hoje, essa sombra se expande porque o que se perde não é apenas o ...

Gozai por Nós: O Eu Colonizado e a Falência da Contradição

Gozai por Nós: O Eu Colonizado e a Falência da Contradição Escrito em 07/09/2025 – 22h45 (America/Sao_Paulo)   Introdução Quando a linguagem deixa de ser um produto do sujeito e passa a ser formatada por máquinas, resta a pergunta: quem fala quando falamos? O problema não é apenas tecnológico, mas psico-bio-social. Pois, se é no discurso que o sujeito se constitui, como lembra Lacan, a colonização da palavra pela repetição algorítmica ameaça a própria raiz da subjetividade. Esse deslocamento não acontece no vazio. Ele se ancora em condições históricas, sociais e econômicas que, no Brasil, são visíveis: precariedade educacional, desigualdade de renda, fragilidade do cuidado coletivo. É nesse terreno que se instala a ansiedade das novas gerações, como mostram dados recentes do SUS e do Pisa. Ansiedade que não é mero diagnóstico clínico, mas sintoma civilizatório. Autores como Alfredo Simonetti, em Gozai por Nós, mostram como a cultura contemporânea sequestra até o prazer,...

Quando o algoritmo se fantasia de delírio: IA, paranoia e o crime fabricado

Quando o algoritmo se fantasia de delírio: IA, paranoia e o crime fabricado LINK ORIGINAL: Convencido por chatbot de IA de que 'a mãe tramava contra ele', ex-executivo a mata:🔗👇 https://extra.globo.com/blogs/page-not-found/post/2025/08/convencido-por-chatbot-de-ia-de-que-a-mae-tramava-contra-ele-ex-executivo-a-mata.ghtml#amp_tf=De%20%251%24s&aoh=17571720221306&csi=0&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&ampshare=https%3A%2F%2Fextra.globo.com%2Fblogs%2Fpage-not-found%2Fpost%2F2025%2F08%2Fconvencido-por-chatbot-de-ia-de-que-a-mae-tramava-contra-ele-ex-executivo-a-mata.ghtml  Quando o algoritmo se fantasia de delírio DATA/HORA (America/São_Paulo): 06/09/2025 – 10h45 A manchete é uma caricatura trágica do nosso tempo: um ex-executivo, persuadido por um chatbot de inteligência artificial de que sua própria mãe conspirava contra ele, comete o ato irreparável — o assassinato. O que está em jogo não é apenas a fragilidade de um indivíduo diante...

Materialidades do Suicídio: Entre o Algoritmo e os Hábitos da Vida

Materialidades do Suicídio: Entre o Algoritmo e os Hábitos da Vida Introdução Discutir o suicídio é discutir a própria vida. O ato em si não resolve, porque fora da vida não há reelaboração — apenas silêncio. Essa é a ironia fundamental: toda reflexão sobre a morte só pode acontecer enquanto estamos vivos. A partir desse paradoxo, este capítulo se inscreve no projeto Mais Perto da Ignorância (MPI), tensionando a questão do suicídio não como evento isolado, mas como fenômeno psico-bio-social e tecnológico, atravessado pelas materialidades concretas da existência. Essas materialidades não são apenas estruturas abstratas; são práticas, costumes e hábitos cotidianos que organizam a vida e, portanto, também a morte. Elas se expressam em instituições (educação, saúde, família), em tecnologias (plataformas digitais, algoritmos, vigilância), em subjetividades (ressentimento, vergonha, angústia) e em filosofias (Cioran, Nietzsche, Freud, Brodsky). Ao articula...

Suicídio na Era do Algoritmo: Entre o Biológico, o Social e a Máquina

Suicídio na Era do Algoritmo: Entre o Biológico, o Social e a Máquina Introdução O suicídio não é apenas estatística, nem acidente isolado. É sintoma. Sintoma de uma civilização que perdeu o tempo da elaboração e o substituiu pelo tempo do feed. Freud já havia mostrado: sem recalque não há cultura. Hoje, sem tempo não há recalque. A morte aparece, então, como atalho — não como decisão livre, mas como resposta desesperada ao excesso. O discurso midiático o transforma em slogan (Setembro Amarelo), em dado (OMS, IBGE), ou em espetáculo judicial (TikTok, ChatGPT). Mas, ao escutar por baixo desses discursos, o que emerge não é solução: é a falência da escuta, o colapso dos vínculos, a medicalização banal. 1. Camada Biológica e Psíquica Damiano lembra em Compreendendo o Suicídio: não há gene que mate sozinho. Há predisposição, mas nunca destino. Freud, em O mal-estar na civilização, ensinou que o sofrimento nasce das tensões entre pulsão e cultura. O suicídio, nesse quadro, é men...

Suicídio Algorítmico: estatística, infância sequestrada e a falência civilizatória

Suicídio Algorítmico: estatística, infância sequestrada e a falência civilizatória O suicídio nunca foi apenas um ato individual. Durkheim já dizia que se trata de um “fato social”, reflexo da fragilidade ou da força dos laços que sustentam a vida. O problema é que, em pleno século XXI, os laços não desapareceram: multiplicaram-se em telas, mas tornaram-se líquidos, descartáveis, descartados antes mesmo de se tornarem vínculos. O que temos não é ausência de conexão, mas excesso de conexões frágeis — e é nesse paradoxo que o sujeito implode. O discurso do Setembro Amarelo parece trazer alívio: estatísticas, campanhas, números organizados. Mas como Freud advertiu em O mal-estar na civilização, cada cultura gera seu próprio sintoma. O que chamamos de “conscientização” talvez seja apenas a captura mercadológica do sofrimento. A depressão virou identidade discursiva; o suicídio, dado performativo. Surge a dúvida incômoda: criamos sintomas para justificar remédios ou criamos remé...

Quando Freud encontra o faxineiro: estética sem escoro social é vaidade

Quando Freud encontra o faxineiro: estética sem escoro social é vaidade Você está pedindo para analisar tudo isso — Freud, folhetins, Machado de Assis, Jorge Amado, Nelson Rodrigues — sob a crua lógica do Mais Perto da Ignorância. Pois bem. A imagem de Freud vendo um cabin steward bordo de navio lendo The Psychopathology of Everyday Life em 1909 não é apenas fofoca literária. É o anúncio silencioso de que a escrita, por mais densa e técnica que seja, pode invadir a vida dos “de baixo”. Freud percebeu sua substância significativo‑estética ali: quem imaginaria que um operário de navio se interessaria por lapsos freudianos? Um gesto de simetria entre estilo e alcance social.   Esse episódio escancara a falácia de quem defende que estética é inacessível. Freud sem vulgarizar, alcançou a base — um faxineiro leitor. A proposta de Bernardini soa datada ao marginalizar as formas que atravessam a massa literária. Machado de Assis é matriz desse contraste (embora aqui a busc...