Quando Freud encontra o faxineiro: estética sem escoro social é vaidade
Você está pedindo para analisar tudo isso — Freud, folhetins, Machado de Assis, Jorge Amado, Nelson Rodrigues — sob a crua lógica do Mais Perto da Ignorância. Pois bem.
A imagem de Freud vendo um cabin steward bordo de navio lendo The Psychopathology of Everyday Life em 1909 não é apenas fofoca literária. É o anúncio silencioso de que a escrita, por mais densa e técnica que seja, pode invadir a vida dos “de baixo”. Freud percebeu sua substância significativo‑estética ali: quem imaginaria que um operário de navio se interessaria por lapsos freudianos? Um gesto de simetria entre estilo e alcance social.
Esse episódio escancara a falácia de quem defende que estética é inacessível. Freud sem vulgarizar, alcançou a base — um faxineiro leitor. A proposta de Bernardini soa datada ao marginalizar as formas que atravessam a massa literária.
Machado de Assis é matriz desse contraste (embora aqui a busca seja apenas tangencial). Ele veio do jornalismo humilde — caixa, tipógrafo — e subiu até a sofisticação literária, mas sem perder quem o lia. Sua ironia era densa, acessível e desconcertante. Estilo sem elite, sem concessão ao populismo rasteiro. A história dele, porém, precisa de maior pesquisa acadêmica, então fica a provocação de quem sabe o valor e sabe que não é necessário glamour, apenas observação.
Jorge Amado — esse sim atravessou as camadas pop e permanece monumental. Capitães da Areia, Tieta e companhia mostraram que popularidade e densidade social não se excluem: o povo leu – e leituras se converteram em debates nacionais.
Nelson Rodrigues: crônica ácida, moral exposta, choque garantido. Era comentarista esportivo — “não literato” — e ainda assim moldou nossa percepção sobre o que é “escândalo” no cotidiano. Ele atingiu bases morais, expôs a alma brasileira — sem apelar ao sensacionalismo vazio. Ele era o oposto da “vulgaridade” criticada pela erudição: estética crua, pública, visceral.
Esses autores derrubam o argumento de Bernardini: estética e forma não são monopólio erudito. Formas populares — folhetins, crônicas, romances de massa — são canal de criação cultural. O que é bom (Machado, Amado, Rodrigues) fica. O que é mau se dissolve com o tempo. Simples assim, não é riso redentor, é análise fria, em que os vivos sobrevivem — os fracos se perdem.
E o que dizer da Nobelização simbólica? Freud foi indicado dezenas de vezes ao Nobel de Medicina, nunca ganhou. Algumas fontes mencionam 32 propostas entre 1915 e 1938 , outras registram 12 indicações mais uma para Literatura . A precisão exata varia, mas o que importa é o vazio entre indicação e premiação — ele simboliza a Academia rejeitando o disruptivo, o estilo com profundidade, o que incomoda. Se ele era acessível, era demais para os comitês fechados.
Então, no balanço, temos:
Freud: acessível, profundo, recusado.
Machado (via jornalismo popular): refinado e amado.
Amado: popular sem perder espessura.
Rodrigues: crônico, popular, moralmente perturbador.
Conclusão iminente? A boa literatura (ou discurso denso visando conexão social) não está entre o “erudito exclusivo” ou o “conteúdo vazio”. Ela existe onde a estética toca o tecido social — mesmo que “popular”.
Acabemos com romantismos: estilo que não alcança o operário, o leitor cotidiano, é vaidade. E vaidade não resiste ao tempo — sobrevivem o valor e o alcance. É crua a verdade: a eterna tensão não é entre forma e conteúdo, mas entre estilo que toca e estilo que ostenta.
Referências bibliográficas:
JONES, Ernest. The Life and Work of Sigmund Freud. Londres: Hogarth Press, 1955.
NEWS. "Freud foi indicado várias vezes ao Prêmio Nobel de Medicina", Expresso, 2 out. 2023.
EUNOS AUTOR. “32 indicações de Freud ao Nobel de Medicina”, Eurofarma, 28 out. 2021.
EUNOS AUTOR. “Freud indicado 12 vezes ao Nobel de Medicina”, Revista Fórum, 6 mai. 2025.
CLIFFSNOTES. “Freud percebeu que poderia ser famoso ao ver cabin steward lendo seu livro”, CliffsNotes, 27 jul. 2024.
WIKIPEDIA. “The Psychopathology of Everyday Life”, Wikipedia, consultado em [data de hoje].
Nota sobre o autor
Autor: Influencer refém da ironia, sem cura literária, apenas observador impiedoso das falácias literárias entre a erudição insossa e a popularidade vazia. Vive aqui, no terreno da forma que não se explica, mas se sente.
Palavras-chave
estética literária, popular, Freud, Machado de Assis, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, elitismo, forma e conteúdo.
Link original
(Texto completo com prumo crítico acima, estruturado a partir de todas as discursividades e links fornecidos anteriormente.)
Comentários
Enviar um comentário