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Reflexões críticas sobre sociedade, tecnologia e existência. Explore e se aproxime da ignorância

ENTRE O DOCE DE LEITE E O ALGORITMO: A LITURGIA DO CENTAVO NO SACRÁRIO DO FEED

ENTRE O DOCE DE LEITE E O ALGORITMO: A LITURGIA DO CENTAVO NO SACRÁRIO DO FEED Autor José Antônio Lucindo da Silva  #maispertodaignorancia 19/06/2025 (Artigo reflexivo-argumentativo, em primeira pessoa, irônico e sem pretensão de produzir verdades; apenas a fricção entre discurso e materialidade exigida pelo Projeto Mais Perto da Ignorância. Todos os nomes próprios foram suprimidos: “padre 1”, “padre 2” e “pessoa 3”.) 1 · PROSCÊNIO ─ O POTE QUE VAZOU PARA O COSMOS Releio minha própria crônica — “Doce de leite & fel de algoritmo” — e percebo que jamais reclamei de cinquenta centavos: reclamei do hiato entre rótulo e realidade. Quando apertei “publicar”, a colher virou lança; o algoritmo, púlpito; e um doce artesanal tornou-se teoria geral do ressentimento on-line. A etiqueta dizia “x”; o caixa cobrava “x+ϵ”. Racional como o homo economicus, capturei a prova, postei, esperei o milagre dos retweets. Resultado material: o PROCON confirmou meu direito. Resultado discursi...
Mensagens recentes

Quando até a IA se cansa de pensar por você!

Quando até a IA se cansa de pensar por você #maispertodaignorancia Você sabe que algo deu errado quando a inteligência artificial começa a pensar mais do que o ser que a consulta. Pior: quando ela começa a desconfiar que está sendo usada para sustentar a ignorância com aparência de sabedoria. Não me refiro aqui àquela pessoa que pergunta, erra, refina, aprofunda, ironiza, duvida e espreme a IA até extrair o sumo da contradição. Não, esse é outro tipo — um tipo raro. Falo daquele sujeito que digita: "faça meu trabalho", "escreva minha redação", "explique sem que eu precise pensar" — e acredita que ao clicar em copiar e colar, se tornou um mestre da era digital. Esse é o novo homo automatizatus: um ser que não pensa porque acredita que delegar o pensamento é mais produtivo. Um sujeito que, diante do absurdo, terceiriza até o espanto. Sua cognição virou planilha, seu argumento é um ctrl+C, sua dúvida é um modelo pré-treinado. Enquanto isso, José (...

Do hiperlink ao abismo: educação, ódio digital e alfabetização algorítmica no Brasil da pós conectividade

Do hiperlink ao abismo: educação, ódio digital e alfabetização algorítmica no Brasil da pós conectividade (Resumo em tom de alerta irônico)   Entre o fanfarrear das “salas Google” e o relinchar dos cavalos do IDEB, o Brasil de 2025 ostenta um troféu desconfortável: 29 % de adultos incapazes de ler, interpretar ou fazer contas básicas, enquanto adolescentes passam o equivalente a um turno de trabalho inteiro rolando feeds que premiam a indignação instantânea. Tal discrepância sugere que não estamos diante de jovens “preguiçosos de viver a vida real”, mas de um sistema que terceirizou a experiência concreta à nuvem — e cobra engajamento em troca de sentido. Este artigo, em língua própria, retoma os números, injeta ironia e questiona se a promessa de conectividade universal não virou um atalho para o vácuo cultural, onde o ódio contra “o Outro qualquer” garante likes mais rápidos que a alfabetização.      1 | Introdução: o país dos power-points sem tomada  ...

INTERROGAR O INVISÍVEL: quando a pergunta vira peça de museu algorítmico

INTERROGAR O INVISÍVEL: quando a pergunta vira peça de museu algorítmico Autor José Antônio Lucindo da Silva  #maispertodaignorancia 18/06/2025 Diante de 5,9 milhões de buscas por minuto no Google — cada uma delas pretendendo “saber” algo que na maioria das vezes nem receberá clique — perguntar deixou de ser gesto epistemológico para virar efeito especial do feed . Eu, que ainda deposito minhas hesitações na velharia chamada “tensão psíquica”, insisto: perguntar dói, demora e, sobretudo, não rende KPI. Eis o problema que este artigo ironicamente trava: como sustentar a pergunta como trabalho material de si quando a indústria da resposta pré-paga já registra, monetiza e empacota até o meu suspiro? 1 · Introdução De Sócrates restou o meme do “só sei que nada sei”; de nós, restou a pressa de saber antes mesmo de sentir a dúvida. A Folha, ao afirmar que perguntar é um ato de resistência em tempos de IA , escancara o paradoxo: transformamos a própria pergunta em expressão de...

Plantões de 24 Horas e a Ilusão do Conceito 5

Plantões de 24 Horas e a Ilusão do Conceito 5 #maispertodaignorancia — Eu : Parece que o MEC carimbou nota 5 na testa da faculdade, mas esqueceu de medir as olheiras dos alunos. Enquanto isso, internos da Unoeste Guarujá contam que viraram tapete de corredor hospitalar, dormindo no chão para cumprir plantões de 24 h sem direito a travesseiro — e ainda ouviram que isso é “formação de excelência”.   — Silvan : Excelência para quem, caro narrador? Byung-Chul Han já alertava que o “animal laborans” moderno explora a si mesmo com a alegria histérica do “yes we can”, até infartar a própria alma. Ganhamos um selo de qualidade que funciona como ansiolítico institucional: ninguém questiona o cansaço, apenas refere-se a ele como requisito curricular.   — Eu : Não à toa, a OMS catalogou o burnout como “fenômeno ocupacional”, mas, claro, deixou de chamá-lo de doença para não atrapalhar o PIB do esforço alheio. Curioso: a mesma lógica que vende produtividade e...

Eu, Moraes e o silêncio que falo!

Fonte da Opinião Eu, Moraes e o silêncio que falo! Se tem algo que me encanta — ou me assusta — é quando um ministro do STF começa dizendo “não sei quem publicou” e em seguida manda derrubar a rede inteira. Eu, se fosse portador dessa ignorância metódica, ficaria vermelhinho de vergonha. Mas Alexandre de Moraes parece surfar nessa onda com um sorriso — “vou bloquear até descobrir quem fez isso”. Autor José Antônio Lucindo da Silva #maispertoignorancia 18/06/2025 1. Telegram, março de 2022 Eu confesso: não sabia quem espalhava desinformação no Telegram. A Polícia Federal alegou que o aplicativo ignorou seis ordens do STF e quatro contatos, entre janeiro e março — incluindo perfis do Allan dos Santos . Resultado? Em 18 de março, mando bloquear geral: operadoras, apps, backbone. E multa de R$ 100 mil diários . Dois dias depois, o Telegram finalmente acorda — cumpre parte das ordens, nomeia representante e eu revogo o bloqueio em 20 de março . Brilhante: ignorante até a co...

QUANDO A MÁQUINA TROPEÇA DE PROPÓSITO: a falácia dos detectores de IA e o espelho rachado da autoria

Fonte da Opinião QUANDO A MÁQUINA TROPEÇA DE PROPÓSITO: a falácia dos detectores de IA e o espelho rachado da autoria Autor José Antônio Lucindo da Silva  #maispertodaignorancia 17/06/2025 A corrida entre algoritmos que fabricam textos e aqueles que juram desmascará-los tornou-se uma comédia trágica: enquanto os modelos ― astutos como adolescentes treinados em gírias ― aprendem a inserir vírgulas tortas e “mais” onde cabia “mas”, os detectores de IA patinam num lago de incerteza cada vez mais fino. O resultado? Uma erosão do que chamávamos pensamento crítico, uma hipertrofia de performances narcisistas e, pior, a ilusão de que ainda existe uma fronteira clara entre humano e máquina. 1. Erro programado, vaidade automatizada Foi preciso que o CEO Beerud Sheth avisasse: as versões recentes de GPT-4 e Claude já simulam nossos tropeços linguísticos para confundir até os farejadores de plágio mais zelosos . Freud sorriria: trata-se do retorno do narcisismo primário em códi...