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Teatro Fiscal: Discurso, Tarifa e o Lucro da Ilusão

Teatro Fiscal: Discurso, Tarifa e o Lucro da Ilusão


Fonte original: Integração crítica baseada em cinco ensaios anteriores e aprofundamento teórico com Marx, Zuboff, Han, Freud, Bauman, Levitsky e O’Neil.


#maispertodaignorancia


Introdução

Não é apenas sobre porcentagens, mas sobre performance. A tarifa, tão frequentemente apresentada como proteção, revela-se um dispositivo de mascaramento econômico. 
Este texto — resultado da integração crítica de cinco ensaios e sustentado por contribuições de autores como Marx, Han, Zuboff, Freud, Bauman, Levitsky e O’Neil — denuncia a encenação do discurso político e sua funcionalidade como máquina simbólica de extração e controle. Se outrora as guerras eram travadas por territórios, hoje são operadas por narrativas. A tarifa é só mais uma delas.


1. A Tarifa como Linguagem de Poder

Em 2025, os EUA arrecadaram mais de US$ 124 bilhões com tarifas. A manipulação simbólica dessa cifra é brutal: o governo eleva tarifas para 50%, simula crise e 'concede' redução para 15%. Mas o valor anterior era 10%. Logo, o que se vende como concessão é, de fato, um aumento camuflado. Freud explicaria como 'recalque da perda' disfarçado de moralidade econômica.


2. Narrativas como Capital Imaterial

Shoshana Zuboff propõe que, no capitalismo de vigilância, comportamentos são matéria-prima. Um post presidencial anunciando tarifas é mais que informação: é um ativo emocional que será minerado por algoritmos. O presidente torna-se um avatar algorítmico de si mesmo, e o cidadão, trabalhador gratuito do discurso que o engana.


3. A Psicopolítica do Consentimento

Byung-Chul Han alerta para a positividade tóxica do neoliberalismo: a tarifa é apresentada como proteção, quando é instrumento de extração.
 

Bauman e Levitsky lembram que a democracia pode morrer aos poucos — pela erosão simbólica e pela encenação de lideranças que abandonam a institucionalidade para performar diretamente às massas.


4. Da Economia Real à Encenação Digital

A alienação hoje não se dá apenas no campo da produção, como Marx descreveu, mas na produção da narrativa. O cidadão não apenas é explorado — ele aplaude sua própria exploração.
 
O’Neil explica que decisões econômicas baseadas em algoritmos perpetuam desigualdades. Tarifas ajustadas via discurso digital fazem parte desse mesmo ciclo de exclusão.


Considerações Inconclusas

É preciso chamar o espetáculo pelo nome. A tarifa é símbolo, e como todo símbolo no capitalismo tardio, carrega lucro oculto. O Estado, roteirista de suas próprias farsas, ensina o povo a agradecer o imposto. A crítica, então, precisa reaprender a narrar. Recontar, desmontar, expor. Porque o que se apresenta como política nacional é, cada vez mais, algoritmo de obediência — e isso custa caro.


Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

HAN, Byung-Chul. Psicopolítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

HAN, Byung-Chul. A crise da narração. Petrópolis: Vozes, 2021.

LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. São Paulo: Zahar, 2018.

MARX, Karl. O capital. São Paulo: Boitempo, 2011.

O’NEIL, Cathy. Algoritmos de destruição em massa. São Paulo: Valentina, 2018.

ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.

YALE Budget Lab. The State of US Tariffs. 2025. https://budgetlab.yale.edu
REUTERS. Trump tariff collections. 2025.
 
https://www.reuters.com

Nota sobre o autor
José Antônio Lucindo da Silva é psicólogo clínico (CRP 06/172551), pesquisador do projeto
 

'Mais Perto da Ignorância'. Argumenta na angústia como liberdade e desmonta o discurso como sintoma.
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Palavras-chave: 
tarifa, discurso político, economia simbólica, alienação, algoritmo, vigilância, psicopolítica, engajamento, retórica digital, soberania fabricada

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