Superdotados de Invisibilidade
Superdotados de Invisibilidade
Se os dados são os novos deuses do discurso, que fé estamos alimentando ao repetir — ano após ano — que o Brasil tem milhões de analfabetos, que as crianças não leem, que os jovens não aprendem?
Não questiono a veracidade, questiono o que se cala entre as estatísticas.
Os links, essas portas de entrada para os dados, não conduzem à emancipação, mas à desistência programada. E o mais inquietante é que até mesmo da educação funcional só nos restam gráficos do fracasso. Parece que o país, ao invés de ensinar, escolheu contar quantos não aprendem.
E onde estão os superdotados? Onde estão os talentos que surgem na periferia, nos sertões, nas quebradas? Não estão. Não porque não existam, mas porque não são contados.
A ausência de dados sobre a inteligência criativa do povo não é descuido: é projeto.
Sangrar esse discurso é mostrar que, ao focar apenas nos que “fracassam”, o sistema nega o desejo, o sonho e a potência do aprender.
Nos tornamos um país que gerencia carências, mas não cultiva possibilidades.
Educar virou medir a queda e não a chance de voo.
Quando só medimos o desastre, criamos subjetividades treinadas para se verem como falhas. Isso adoece. Isso mina o desejo. Isso desmobiliza.
A educação brasileira não desistiu só do aluno: ela desistiu do possível.
Vamos sangrar isso sim — romper o ciclo da baixa expectativa, rasgar os dados que paralisam e produzir narrativas onde aprender não seja exceção, mas urgência viva.
Porque o que os números não contam, é o que pode nos salvar.
José Antônio Lucindo da Silva, CRP 06/172551. Psicólogo clínico, pesquisador independente no Blog “Mais Perto da Ignorância”.
#maispertodaignorancia
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