Avançar para o conteúdo principal

Prompt é rei: a nova gramática da ignorância bem formulada

Prompt é rei: a nova gramática da ignorância bem formulada


(https://exame.com/carreira/as-perguntas-mais-feitas-ao-chatgpt-e-como-transforma-las-em-um-prompt-util-segundo-pesquisa)
Vivemos em uma era onde não basta mais saber, é preciso saber perguntar. Mas não qualquer pergunta. A matéria da Exame nos entrega o retrato exato de uma sociedade que já não busca respostas existenciais ou éticas — ela quer respostas que “funcionem”, que gerem “resultado”. O sucesso de um prompt tornou-se o novo índice de inteligência. Se não sabe criar um bom comando, talvez você não esteja preparado para a nova era da ignorância técnica.
A reportagem apresenta uma lista das perguntas mais feitas ao ChatGPT, revelando uma sociedade sedenta por produtividade, fórmulas prontas e atalhos para a performance. Nada de dúvida legítima ou pensamento crítico. A nova espiritualidade digital está nos prompts bem ajustados, nos comandos otimizados, nos pedidos que dizem mais sobre a ansiedade de obter do que o desejo de compreender.
Não se trata de explorar os limites do conhecimento, mas de adaptar-se à lógica da eficiência. A arte de perguntar foi substituída pela ciência da instrução — e o “eu” do sujeito pós-moderno transforma sua angústia em produtividade algoritmizada.

No fundo, o que vemos é um reflexo claro do que Byung-Chul Han chamou de sociedade do desempenho: não se deseja saber por saber, mas por produzir resultado. 
A inteligência artificial serve, aqui, como um espelho do nosso vazio — um vazio que não suporta o silêncio da dúvida e busca, desesperadamente, respostas pré-moldadas em linguagem objetiva e direta.

Transformar uma dúvida em prompt útil talvez seja, ironicamente, a forma mais polida de enterrar o pensamento crítico em nome da utilidade mercantil.
Leia a matéria completa aqui:
https://exame.com/carreira/as-perguntas-mais-feitas-ao-chatgpt-e-como-transforma-las-em-um-prompt-util-segundo-pesquisa


Notas do Autor: 
 
Texto elaborado com base nas reflexões do projeto "Mais Perto da Ignorância".

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Técnica, a Exclusão e o Eu: Reflexões Sobre a Alienação Digital e a Identidade na Contemporaneidade

A Técnica, a Exclusão e o Eu: Reflexões Sobre a Alienação Digital e a Identidade na Contemporaneidade Assista o vídeo em nosso canal no YouTube Introdução A cada dia me questiono mais sobre a relação entre a tecnologia e a construção da identidade. Se antes o trabalho era um elemento fundamental na compreensão da realidade, como Freud argumentava, hoje vejo que esse vínculo está se desfazendo diante da ascensão da inteligência artificial e das redes discursivas. A materialidade da experiência é gradualmente substituída por discursos digitais, onde a identidade do sujeito se molda a partir de impulsos momentâneos amplificados por algoritmos. Bauman (1991), ao analisar a modernidade e o Holocausto, mostrou como a racionalidade técnica foi usada para organizar processos de exclusão em grande escala. Hoje, percebo que essa exclusão não ocorre mais por burocracias formais, mas pela lógica de filtragem algorítmica, que seleciona quem merece existir dentro da esfera pública digita...

A Ilusão do Home Office: Uma Crítica Irônica à Utopia Digital

A Ilusão do Home Office: Uma Crítica Irônica à Utopia Digital Resumo Neste artigo, apresento uma análise crítica e irônica sobre a idealização do home office no contexto atual. Argumento que, embora o trabalho remoto seja promovido como a solução ideal para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ele esconde armadilhas significativas. Além disso, com o avanço da inteligência artificial (IA), muitas das funções desempenhadas em home office correm o risco de serem substituídas por máquinas, tornando essa modalidade de trabalho uma utopia efêmera. Este texto foi elaborado com o auxílio de uma ferramenta de IA, demonstrando que, embora úteis, essas tecnologias não substituem a experiência humana enraizada na materialidade do trabalho físico. Introdução Ah, o home office! Aquela maravilha moderna que nos permite trabalhar de pijama, cercados pelo conforto do lar, enquanto equilibramos uma xícara de café em uma mão e o relatório trimestral na outra. Quem poderia imaginar ...

Eu, o algoritmo que me olha no espelho

  Eu, o algoritmo que me olha no espelho Um ensaio irônico sobre desejo, ansiedade e inteligência artificial na era do desempenho Escrevo este texto com a suspeita de que você, leitor, talvez seja um algoritmo. Não por paranoia tecnofóbica, mas por constatação existencial: hoje em dia, até a leitura se tornou um dado. Se você chegou até aqui, meus parabéns: já foi computado. Aliás, não é curioso que um dos gestos mais humanos que me restam — escrever — também seja um dos mais monitorados? Talvez eu esteja escrevendo para ser indexado. Talvez eu seja um sintoma, uma falha de sistema que insiste em se perguntar: quem sou eu, senão esse desejo algorítmico de ser relevante? Não, eu não estou em crise com a tecnologia. Isso seria romântico demais. Estou em crise comigo mesmo, com esse "eu" que performa diante de um espelho que não reflete mais imagem, mas sim dados, métricas, curtidas, engajamentos. A pergunta não é se a IA vai me substituir. A pergunta é: o que fiz com meu desejo...