Insônia, Ruminação e o Caracol que Nunca Dorme
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Corpos exaustos se deitam, mas a mente corre escada acima como o caracol de Ramón Gómez de la Serna. A tela preta do quarto se acende por dentro: dívidas, e-mails, filhos, a notificação invisível que vibra na palma – tudo reaparece no cinema das 3h da manhã. O psiquiatra Lucas Raspall lembra que o cérebro não foi programado para nossa felicidade, e sim para a sobrevivência: após cada conquista ele caça o próximo perigo, gerando o ruído que chamamos de ruminação. A tal “rede padrão” ativa-se quando a tarefa acaba e a consciência, em vez de descansar, torna-se engenheira de catástrofes. Absurdamente, somos vítimas do nosso próprio mecanismo de autoproteção.
A solução não virá na forma de mais um aplicativo de meditação vendido como doping de serenidade. Raspall aponta três verbos quase subversivos na era do scroll infinito: observar, escolher, administrar. Observar o funcionamento da mente sem aderir ao roteiro; escolher o foco como quem decide onde colocar luz num palco; administrar o tempo de pensar, assim como se regula a ingestão de açúcar. É trabalho artesanal: nenhum algoritmo fará isso por você porque o algoritmo lucra com o barulho.
O projeto Mais Perto da Ignorância acrescenta uma ironia: quanto mais tentamos anular a dúvida com certezas químicas ou digitais, mais alimentamos o desespero que lateja no silêncio. O ruído não some, apenas muda de forma. Talvez a serenidade não seja expulsar pensamentos, mas hospedar-se neles sem a ilusão de controle, aceitando que o caracol carrega a casa – e a escada – nas costas.
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Notas do Autor: Texto elaborado com base nas reflexões do projeto "Mais Perto da Ignorância".
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