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Diagnóstico ou Sentença? A Inteligência Artificial no espelho da memória que esquecemos de viver

Diagnóstico ou Sentença? A Inteligência Artificial no espelho da memória que esquecemos de viver


(https://www.msn.com/pt-br/saude/medicina/ia-pode-identificar-pacientes-com-risco-de-alzheimer-e-ajudar-a-determinar-tratamento-precoce-diz-estudo/ar-AA1IPdaM)

A matéria anuncia com entusiasmo o uso da Inteligência Artificial para identificar precocemente o risco de Alzheimer, sugerindo que o futuro da medicina reside na prevenção algorítmica. Mas o que estamos de fato prevenindo? A doença ou o próprio tempo?

#MaisPertodaIgnorancia

Vivemos em uma era em que a memória — antes humana, carregada de afetos, dores, lapsos e narrativas — torna-se um dado a ser lido por máquinas. A IA não apenas mede os esquecimentos, mas os antecipa. Não haverá mais espaço para esquecer-se aos poucos de quem se é. Agora, antes mesmo de nos perdermos de nós, um sistema nos encontrará e nos etiquetará: “em risco”. O risco deixa de ser uma possibilidade incerta e passa a ser mais uma mercadoria da certeza, vendida com a promessa de prolongar a vida — ou seria apenas prolongar a funcionalidade do corpo?

O Alzheimer é uma das formas mais cruéis de se despedir da linguagem. E no entanto, confiamos à máquina — essa que nunca teve infância, que jamais esquecerá um trauma — o poder de decidir quando a nossa despedida começa. Estamos diante de uma medicina que se divorcia da escuta clínica e da singularidade do sujeito para abraçar a lógica preditiva de performance, vigilância e antecipação.

Freud dizia que esquecer é uma função psíquica essencial. Mas o mundo contemporâneo vê o esquecimento como um erro a ser corrigido, uma falha que a tecnologia precisa “consertar”. O que a IA chama de tratamento precoce, talvez seja o início de um novo tipo de alienação: aquela que impede até mesmo o direito de não lembrar.

Leia a matéria completa aqui:
https://www.msn.com/pt-br/saude/medicina/ia-pode-identificar-pacientes-com-risco-de-alzheimer-e-ajudar-a-determinar-tratamento-precoce-diz-estudo/ar-AA1IPdaM


Notas do Autor: Texto elaborado com base nas reflexões do projeto "Mais Perto da Ignorância".

 

 

Inteligência Artificial, Alzheimer, diagnóstico precoce, memória, esquecimento, medicina preditiva, vigilância, máquina, subjetividade, afeto, clínica, dados, risco, performance, alienação, tecnologia, escuta, identidade, singularidade, saúde mental, Freud, antecipação, tratamento, funcionalidade, certeza, discurso, materialidade.

 

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