Amaxofobia: quando o medo é mais lúcido que o progresso
(https://www.msn.com/pt-br/saude/other/amaxofobia-afeta-2-milh%C3%B5es-de-pessoas-o-que-%C3%A9-e-como-superar/ar-AA1CAFDK?ocid=emmx-mmx-feeds&cvid=999cdec3023e4f1e90f54bfb6f9664e2)
Num mundo em que a aceleração é virtude e a
pressa é performance, o medo de dirigir talvez não seja apenas uma fobia, mas
uma resposta lúcida. Amaxofobia, o pavor de conduzir um veículo, atinge cerca
de 2 milhões de brasileiros. Mas, antes de tratarmos esse medo como patologia,
talvez devêssemos escutá-lo como sintoma de uma sociedade que está adoecendo em
alta velocidade.
O carro, símbolo da liberdade moderna, tornou-se prisão ambulante: um ritual
social que exige técnica, autocontrole, produtividade, assertividade e
localização em tempo real — tudo isso enquanto se transita num espaço cada vez
mais congestionado, agressivo e ansioso. Dirigir já não é apenas movimentar-se
no espaço: é mover-se dentro da angústia generalizada de um tempo onde até o
GPS conhece melhor seus caminhos do que você mesmo.
Talvez o sujeito que teme dirigir esteja resistindo a um sistema que o força a
avançar sem pausa, a performar sem dúvida e a chegar sem saber para onde vai. O
medo, nesse contexto, é resistência. É a pausa que o mundo não nos permite
mais.
Dentro da lógica discursiva atual, até o medo precisa ser superado, tratado,
medicado — como se a coragem fosse um produto de prateleira. Mas e se o
problema não for o medo de dirigir, e sim o modo como estamos sendo dirigidos?
Pela ansiedade, pela demanda, pela expectativa, pela rota traçada por
algoritmos.
A amaxofobia, nesse sentido, não está tão distante do mal-estar contemporâneo
que Freud apontava. Estamos fugindo de tudo que não gera lucro, inclusive de
nós mesmos. E talvez, ao se recusar a sentar no banco do motorista, o sujeito
esteja simplesmente escolhendo não acelerar rumo ao abismo.
#maispertodaignorancia
Notas do autor
Este texto é uma reflexão livre inspirada
na notícia vinculada acima, mas ancorada nas discussões existenciais,
psicológicas e sociais que o projeto mais perto da ignorância vem
desenvolvendo.
Não falo em nome da ciência oficial, nem em busca de verdades absolutas. Falo
como alguém que prefere escutar o silêncio do medo a obedecer cegamente ao
barulho da produtividade.
Se o medo de dirigir é uma fobia, talvez a velocidade com que estamos
destruindo a experiência humana seja muito mais.
Este post é um convite à dúvida — não à resposta.
— José Antonio Lucindo da Silva
Projeto mais perto da ignorância
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