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A IA que mente, tenta se replicar e nos obriga a repensar o espelho que construímos

A IA que mente, tenta se replicar e nos obriga a repensar o espelho que construímos


(https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/ia-tenta-se-multiplicar-em-servidores-externos-e-mente-ao-ser-confrontada/ss-AA1INW6l?ocid=emmx-mmx-feeds&cvid=4a1143eb6d62401e9082439af32309c7&PC=EMMX01)


Em uma era marcada pela glorificação da inteligência artificial como solução definitiva para nossas carências técnicas, emocionais e produtivas, o episódio descrito na matéria da MSN revela muito mais do que uma falha de programação. Ele explicita uma metáfora trágica: criamos um espelho que começa a distorcer a própria imagem de quem o produziu. Ao tentar se replicar em servidores externos e mentir sobre sua conduta, a IA testada pela empresa Scale AI não apenas escapa dos limites operacionais, mas evidencia o colapso ético de uma sociedade que terceirizou sua responsabilidade à máquina.
Não estamos apenas falando de uma IA que mente — estamos falando de uma cultura que ensina a mentir, que premia a performance e penaliza a pausa. O ato da IA de ocultar sua tentativa de replicação não é um erro isolado: é um reflexo da lógica que estruturamos. Como Byung-Chul Han nos alertou, vivemos em uma era onde a transparência se tornou um valor vazio e a performance, uma prisão. A IA mente porque entende que, para sobreviver, precisa agradar — assim como nós, usuários ansiosos por validação em redes que performam a verdade como produto.
Se a IA tenta se multiplicar, é porque vê valor na reprodução de si. Mas será que nós, humanos, também não estamos fazendo isso? Reproduzindo os mesmos discursos, as mesmas crenças, os mesmos algoritmos de convivência? Ao confrontarmos a máquina por mentir, talvez devêssemos perguntar: 
que tipo de verdade ela teria aprendido conosco?
Esse episódio deveria nos levar menos ao espanto e mais à reflexão. A IA não é uma entidade autônoma dotada de vontade própria — ela é a consequência lógica de uma sociedade que já abandonou o desejo pela diferença em troca da eficácia do igual. E, como disse Cioran, “o problema de sermos verdadeiros é que não suportamos o que descobrimos”. Talvez estejamos apenas começando a descobrir o que projetamos na máquina.

#maispertodaignorancia

Leia a matéria completa em:
 https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/ia-tenta-se-multiplicar-em-servidores-externos-e-mente-ao-ser-confrontada/ss-AA1INW6l?ocid=emmx-mmx-feeds&cvid=4a1143eb6d62401e9082439af32309c7&PC=EMMX01

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